A perfeição do erro

“Errar é humano”, é um dos ditados que nos vão acompanhando ao longo da vida. Entre sucessos e insucessos cada erro é, acima de tudo, uma oportunidade de aprendizagem. É assim na vida e é assim no desporto. É por isso que, construir uma carreira desportiva de sucesso, ou simplesmente ter no desporto, um alicerce de uma vida mais ativa e saudável, irá depender, em diferentes momentos, da forma como a cada erro, desenvolvemos novas competências e tornamos a nossa experiência desportiva ainda mais produtiva.

Isto significa, que em primeiro lugar, teremos de aceitar que vamos errar. Se não formos capazes de o fazer condenamos, à partida, um sem número de aprendizagens valiosas ao longo da vida. Em segundo lugar, temos de avaliar o processo de forma relativamente detalhada, porque muitos erros terão de ser descobertos e não nos saltam à vista de forma imediata. Falamos em construir sistemas de controlo ou de avaliação que nos permitam identificar essas falhas.

O treino deve conter bases científicas, tão sólidas quanto possível, mas a forma como se vai traduzir no desempenho individual, faz do treino uma mistura muito rica de conhecimento e sensibilidade. Tenho lidado, ao longo dos treinos, com muitos atletas de nível competitivo muito alto, assim como de atletas puramente recreativos. Ambos aspiram melhorar, ambos cometem erros e nem sempre se torna fácil explicar que é preciso evitar repetir os mesmos erros vezes sem conta.

  • Um dos maiores erros, cada vez mais usual pela proliferação de informação nas redes sociais, é pensarmos que devemos copiar os modelos dos melhores. Quando vemos um treino de um atleta de elite a grande questão que temos de fazer é mais, “Como é que alguém pode chegar a este nível de prestação e quais os passos que nos levam lá?”, e não tanto “como posso copiar esse treino para as minhas rotinas?”. É que copiar, mesmo que com menos volume ou adaptações, é não entender que o que está em causa é o processo que terá levado esse atleta até esse nível e não a forma como treina num determinado momento.
  • Os limites de evolução individual são os que o nosso corpo e mente nos permitem atingir e não, o que posso comparar com os outros. A comparação com os outros é um erro que pode ter duas faces:
    1. posso ser melhor que outros e não perceber que tenho potencial para ser muito melhor;
    2. posso ser pior do que outros e não entender que a minha realidade de partida (não só genética) é diferente. Por isso devemos comparar cada atleta consigo mesmo ao longo do tempo e ter uma monitorização real e efetiva do que cada um vai fazendo e melhorando no seu percurso desportivo, estabelecendo objetivos a atingir em função das capacidades do atleta e não em comparação com os outros.
  • Um outro problema é não sabermos aproveitar as oportunidades que o nosso treino nos vai dando. Muitas vezes podemos estar no caminho certo, mas esse percurso é duro e pode parecer mais fácil e rápido seguir atalhos. Estas tentativas de encurtar distâncias rumo aos nossos anseios desvia-nos de percursos de exigência na base de estratégias repetidas que irão consolidando as adaptações necessárias e de forma estável no tempo. Encurtar distâncias é o mind-set de muitos jovens que são cada vez mais preparados para acreditarem no sucesso fácil.
  • Ter um mau resultado numa competição significa, acima de tudo, uma oportunidade de cruzar esse resultado com o processo realizado até ali e com as avaliações que vão sendo feitas. Quando se ganha aprende-se pouco, mas quando algo corre mal, o nível de aprendizagem pode ser incrível, porque existe imensa informação que ajuda a percebermos o que devemos fazer no futuro. Ter um mau resultado, deve ser visto como uma oportunidade de seguir novos caminhos, criar novas rotinas e aperfeiçoar o processo de treino desenvolvido até aí.
  • A quantidade nunca deverá sobrepor-se à qualidade. Fazer muito mais, mal feito, não significa melhorar e pode dar-nos o resultado contrário. Se faço um treino longo, copiando o registo de um bom corredor mundial, porque lhe copio os kms e não o tempo de treino, para que nesse tempo tenha uma corrida tecnicamente eficaz? Se procuro aumento de peso nas cargas de sessões de força, será que desenvolvi antes pressupostos de coordenação intra e inter-muscular capazes de me dar o verdadeiro proveito desse aumento de cargas?
  • A consistência é uma palavra mágica que pode demorar anos a ser desenvolvida. Se falamos num mínimo de 10 anos para se chegar a níveis de performance elevados em diferentes áreas (não só no desporto), porque desistimos ao fim de pouco tempo de trabalho e andamos sempre a querer mudar tudo sem um rumo definido? A solução para dar tranquilidade passa por avaliar para mensurar de forma regular evoluções que nos confirmem que estamos a seguir o caminho certo. Avaliar, permite detetar erros de planificação ou confirmar a inexistência de falhas, pelo que se torna difícil entender porque não é uma ferramenta mais utilizada no desporto, em especial de alto rendimento.

Procurar erros é dos maiores desafios no planeamento de treino de um atleta. A dimensão do erro pode também ser diferente e reproduzir maior ou menor influência na performance. Perseguir o erro, significa cuidar da nossa aprendizagem e da evolução de um atleta. Por isso, o melhor exemplo de atleta, para cada um, é o desempenho continuado de si próprio e com isso, encontrar o melhor sistema de deteção de erros e de soluções. O treino é, em grande parte, um longo processo de identificação do erro e procura imediata da solução mais adequada.

Se é assim no treino, não é menos na vida pessoal de cada praticante. E quando usamos o desporto para ensinarmos jovens a conviver com o erro, acabamos por os ensinar que não faz sentido receber uma “medalha” quando não fomos competentes no processo, mas a valorizar a tradução final de mecanismos de correção sistemáticos ao longo da vida. A “medalha” será de mérito e não de participação. O jovem não deve achar que está tudo bem porque recebe uma determinada quantidade de likes que lhe dá a oca e errada sensação de sucesso, mas porque desenvolve estratégias de aperfeiçoamento onde aprende a ser melhor no desporto e na vida.

Paulo Colaço

Treinador de corrida

Docente na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Paulo Colaço tem também uma experiência de mais de 30 anos como treinador de atletismo em diferentes disciplinas do atletismo com um foco mais particular, nos últimos anos, na corridas de velocidade e de meio-fundo e fundo.

Ao longo dos últimos tempos acumulou igualmente diversas intervenções em diferentes desportos coletivos na área da condição física.

Exercícios de reforço muscular, fora do ginásio (com uma parede)

Exercícios de reforço muscular

Um dos problemas associados à realização de sessões de treino de força, em especial, entre corredores, diz respeito à falta de condições, muitas vezes apontada como uma justificação para o pouco trabalho de força que frequentemente caracteriza o treino destes atletas. Neste artigo, vamos mostrar-vos que podem fazer exercícios de reforço muscular, até, numa parede!

 

Apesar de correremos ao ar livre, nem sempre nos apercebemos de opções no mobiliário urbano, que nos oferecem imensas oportunidades de exercícios cujo impacto pode ser muito relevante. Falamos de bancos, rampas, degraus e até uma simples parede. Falamos de condições existentes em qualquer local e em particular, nos locals habituais de treino entre corredores.

Ao longo de todas as edições da revista “INSIDE Running as a lifestyle”, sugerimos opções tão válidas quanto simples, tanto na sua realização como nas condições exigidas. E agora, escolho alguns para partilhar convosco, aqui.

 

 

Quase todos podem ser feitos de forma mais estática ou dinâmica, mas cada um vai incidindo de forma muito específica em necessidades musculares do corredor. Em grande parte deles, sempre com uma atenção particular ao trabalho muscular do pé e da perna, alguns das coxas e glúteos, mas incluímos igualmente exercícios capazes de deixar importantes estímulos do tronco e membros superiores.

 

A realização de forma mais repetida de muitos destes exercícios pode ser importante para a melhoria dos níveis de resistência muscular ou, numa dimensão mais curta, para sessões de aquecimento e preparação para treinos mais intensos. Não interessa por isso, se um determinado clube, ou grupo de corrida, tem ou não condições de treino. Importa que sejamos capazes de selecionar os exercícios corretos e de os aplicar de forma correta.

 

 

EXERCÍCIOS DE REFORÇO MUSCULAR NA PAREDE

Pela revista INSIDE

 

Estes exercícios permitirão uma manutenção de trabalho – mesmo em condições pouco propícias para treino muscular. Por exemplo, numa viagem, de férias ou quando não se tem acesso a um ginásio.

Assim, de forma simples, poderás manter o reforço de importantes músculos para a corrida, em especial nos membros inferiores sem complexidade de meios. Se a consistência é a palavra de ordem, estas opções podem permitir manter a consistência do treino em qualquer situação.

Apesar de cada caso é um caso, esta opção faz sentido como complemento ou alternativa ao trabalho regular de força. Pode ser um “canivete suiço” para usares quando necessitas de substituir ou diversificar outras rotinas de treino.

Deves repetir cada exercício de acordo com um aparecimento de fadiga que não comprometa a técnica do exercício. Pede ajuda ou filma e se sentires que – ao fim de algumas repetições – a figa já não te deixar manter a execução técnica, não insistas. Vale mais pouco e bem feito.

 

 

AVIÃO COM ROTAÇÃO DA ANCA

Com o corpo alinhado e inclinado para frente em todo o exercício, apoia as mãos na parede, roda a anca para fora, posição inicial e para dentro, mantendo a perna sempre elevada. Repete para o lado contrário.

 

 

 

123, ELEVAÇÃO DAS PERNAS COM APOIO NA PAREDE

Com o apoio das mãos na parede e o corpo inclinado, faz um movimento dinâmico e explosivo com as pernas em 3 tempos, pausando e fixando a perna livre a 90o no mesmo tempo. Repete alternando a perna.

 

 

AFUNDO COM ROTAÇÃO DO TRONCO 

De costas a cerca de um metro da parede, levanta a perna direita e apoia o pé na parede. Dobra o joelho esquerdo em afundo, não deixando que o joelho ultrapasse a linha do pé, e estenda os braços lateralmente. Roda o tronco para a esquerda, trazendo a mão direita para o pé esquerdo. Repete este movimento por 1 a 2min em ambas as pernas.

 

 

PRESS NA PAREDE COM PERNAS A 90/90

Na posição deitada, com as pernas a 90o e os braços acima da cabeça, pressiona as mãos contra a parede. Estende uma perna enquanto expira. Volta à posição inicial e repete para o lado oposto.

 

 

 

ELEVAÇÃO DA PERNA SENTADO

Sentado com as costas direitas e bem apoiadas, e as pernas estendidas, elevar uma perna ligeiramente do chão, de cada vez.

 

 

BALANÇO FRONTAL

De lado, com o corpo direito, mantendo o apoio da mão na parede, faz um balanço frontal da perna de forma dinâmica, elevando o calcanhar de apoio. Faz várias repetições e repete com a outra perna.

 

 

 

EQUILIBRIO COM A PERNA FLETIDA

Com o corpo em apoio na parede, mantendo as costas bem apoiadas e a perna de apoio estendida. Eleve a 90o a perna direita, mantendo a posição uns segundos. Repita para a outra perna.

 

Fonte/créditos: Revista INSIDE, edição 17

Encontra estes e muitos mais exercícios, nas tuas revistas INSIDE.

 

 

ASSINA A REVISTA “INSIDE”

 

Se gostas de correr e queres integrar esta modalidade na tua prática diária, mas não sabes por onde começar, a revista INSIDE pode ser uma excelente forma!

A INSIDE – running as a lifestyle – dá-te resposta a muitas necessidades específicas da corrida, com propostas testadas e habituais dentro do projeto Run4Excellence.

 

Folhear as diferentes edições desta revista de corrida, significa encontrares conteúdos intemporais com propostas de exercícios em plataformas de instabilidade e vibratórias, exercícios de core, propostas para grupos musculares muito específicos e determinantes na corrida, mobilidade ou pliometria.

 

Cada uma das 17 edições proporciona-te aprendizagens muito específicas. Enquanto tiveres a oportunidade de conseguir um exemplar das edições anteriores, não deixes fugir esta oportunidade.

 

 

Para teres acesso a todas as edições disponíveis assim como novidades basta entrares aqui.

Esperamos que gostes tanto quanto nós.

Boas corridas!

Paulo Colaço

Treinador de corrida

Docente na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Paulo Colaço tem também uma experiência de mais de 30 anos como treinador de atletismo em diferentes disciplinas do atletismo com um foco mais particular, nos últimos anos, na corridas de velocidade e de meio-fundo e fundo.

Ao longo dos últimos tempos acumulou igualmente diversas intervenções em diferentes desportos coletivos na área da condição física.

Run4Excellence

Clube desportivo

O projeto Run4Excellence teve início em Janeiro de 2014 e é desenvolvido por técnicos, que têm em comum uma enorme paixão pelo treino desportivo e em particular pela corrida.

Trata-se de um projeto sem fins lucrativos, que procura concretizar três grandes objetivos: desenvolver as melhores estratégias para ajudar atletas de diferentes desportos envolvidos com o projeto; suportar e criar oportunidades a novos treinadores, promovendo as melhores práticas para o seu processo de aprendizagem num ambiente estimulante para o seu conhecimento no treino desportivo; e desenvolver estudos aplicados ao treino com projetos que sejam transferíveis para a prática diária.

“Para todos os que querem aprender a correr e para todos os que já correm mas que queremos correr melhor, vão encontrar neste Centro de Treino de Corrida uma oportunidade de evoluir ao serviço do vosso bem-estar.” – Isabel Silva

Consistência: a verdadeira chave para a superação

Consistência

A verdadeira superação está no poder da consistência de hábitos que promovem o bem-estar. Na força e disciplina em nunca abdicar do compromisso ao qual nos propusemos diariamente. E é por isso que a consistência é a verdadeira chave para a superação.

Quase todos os dias procuro motivar pessoas a encontrarem na prática desportiva a melhor forma de adotarem um estilo de vida o mais saudável possível. E tenho muitas vezes em mente aquela pessoa com sinais depressivos, um(a) fumador(a) ou pessoas com diferentes patologias para as quais a prática desportiva seria o “antídoto” perfeito. Como profissional de desporto realiza-me de forma particular conseguir marcar a vidas das pessoas através do desporto e, muitas vezes, com impactos que impressionam mesmo os mais céticos.

https://us05web.zoom.us/j/87805356237?pwd=R1JjMHJtYWlHMUdUR1lTZW5WK0JJZz09

A sociedade em que vivemos está particularmente sensível a idolatrar feitos de pessoas que perderam muitos quilogramas de peso excessivo ou que deixaram de fumar quando decidiram praticar desporto. É algo que dá para um programa de televisão ou encher páginas de revistas e parece tudo tão complicado de conseguir que, esses exemplos, são expressos no mesmo patamar de grandes feitos. Em tom de brincadeira, costumo dizer que mais facilmente se poderá ser reconhecido por se perder peso do que por nunca ganhar peso ao longo da vida…  Que reconhecimento damos a jovens que, desde muito cedo, decidiram manter uma prática desportiva diária regular, que nunca fumaram, ou se deixaram engordar? Pois… parece demasiado banal, sem história para contar.

 

Num artigo muito recente, um grupo de investigadores holandeses e franceses publicaram um estudo desenvolvido com um corredor com 75 anos de idade e com resultados entre os melhores europeus e mundiais de veteranos. No escalão de 75-79 anos, faz 5:19.90 aos 1500m, com um VO2max de 50.5 ml/kg/min, conseguidos com 4 a 5 sessões de treino por semana. Apesar de ter parado de correr numa fase da sua vida, os anos de treino de corrida acumulado fazem deste, entre tantos outros, exemplos de otimização do corpo humano que devem ser observados com atenção.

Uma prática regular ao longo da vida e, em particular, em idades em que, por norma, levam qualquer idoso a ficar retido em casa, vão-nos mostrando resultados surpreendentes.

 

A saúde deve, por isso, ser um processo de trabalho contínuo, consciente, de longa duração, suportado numa prática desportiva tão regular quanto possível ao longo da vida.

 

Considero que os verdadeiros exemplos de superação, não são os que revertem estados de saúde menos positivos gerados por maus hábitos de vida como o tabagismo, mas sim, por aqueles que desde uma idade muito jovem abraçam uma prática desportiva para a vida, sem hesitações. São provavelmente cada vez menos, mas é importante dar mérito aos que o fazem e que podem ao longo da vida constituir-se como os verdadeiros exemplos de superação. Isto claro, sem nunca deixarmos de elogiar os que revertem opções de vida menos saudáveis.

 

É também por isso, que precisamos de constituir no sistema desportivo português, uma teia de caminhos que levem a que, numa primeira instância, o jovem pratique desporto na sua juventude dando continuidade, por exemplo, quando vai para o ensino superior ou quando ingressa no mercado de trabalho. O foco deveria passar por proporcionar alternativas constantes capazes de manter esses jovens ativos ao longo da vida e não apenas em momentos de curta duração.

 

Os organizadores de eventos têm desenvolvido um trabalho notável. Sou cada vez mais confrontado com pessoas que relatam que o momento em que aderiram à prática da corrida, coincidiu com uma participação num evento e que a sucessão na participação de eventos os mantém presos a uma prática desportiva regular.

 

Mas existe mais neste processo. É importante adotar boas práticas de treino e aprender com o mesmo rigor e disciplina com que se aprendem outras matérias que não são mais importantes do que conhecer o nosso corpo, os nossos limites, e como o fazer funcionar da forma mais perfeita ao longo da vida.

 

Admiro, por isso, de forma muito particular, os corredores mais velhos, pelo que podem servir de exemplo para as novas gerações, em especial, quando estes procuram também práticas corretas, sem se deixarem vencer pela difusão de um conhecimento sem sentido e desprovido de verdade.

 

Num momento em que iniciamos um novo ano, nada como deixar algumas dicas que consideramos inegociáveis:

  • Não treines a corrida suportada na base da performance imediata. As adaptações dependem de uma consistência de anos e não deves procurar resultados rápidos, se não estiveres meses ou anos a repetir uma estrutura que tenha sido bem desenhada para ti.
  • Não corras à espera que a corrida te retire algumas gorduras em excesso. Até o poderá fazer, mas vai demorar tempo… Foca-te antes noutras sensações mais fáceis de avaliares. Vais sentir que corres com menos esforço, que a tua respiração é cada vez mais fácil para o mesmo ritmo de corrida, ou que a tua tensão arterial está muito mais estável. É aqui que te deves focar e quanto mais valorizares estas adaptações, mais facilmente chegarás a outras. Nomeadamente estéticas.
  • Não corras “a reboque” de outros corredores mais rápidos. Quando se vêem treinos de grupos de corrida, é muito comum vermos alguns em claro esforço atrás do grupo a tentarem seguir o ritmo do grupo da frente. Um erro que não deves cometer. Estás a sair das intensidades alvo que te ajudariam a evoluir. Procura alguém que oriente os teus treinos e segue instruções que torne o teu treino mais fácil e claro, mais individualizado.
  • Se puderes, corre todos os dias. Se não puderes, corre o maior número possível de dias. Pelo menos tenta que os dias de treino ganhem por 4-3 aos dias em que não treinas. Se não conseguires mais do que 2 ou 3 treinos por semana, que assim seja. Será sempre melhor do que não fazeres nenhum.
  • Não acredites em milagres. Alimenta-te bem com base em boa comida, privilegia o teu descanso respeitando as horas de sono e começa os teus dias cedo.
  • Correr é transportar o peso do corpo. Quanto melhor formos a faze-lo, melhor seremos a correr. Por isso correr depende da força que tens para transportar o teu peso do corpo. Isto tem de ser claro e deves pedir ajuda para desenvolveres esta capacidade.

 


 

O Paulo é docente na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto e tem uma experiência de mais de 30 anos como treinador de atletismo em diferentes disciplinas do atletismo com um foco mais particular, nos últimos anos, na corridas de velocidade e de meio-fundo e fundo. É fundador do projeto Run4Excellence.

Paulo Colaço

Treinador de corrida

Docente na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Paulo Colaço tem também uma experiência de mais de 30 anos como treinador de atletismo em diferentes disciplinas do atletismo com um foco mais particular, nos últimos anos, na corridas de velocidade e de meio-fundo e fundo.

Ao longo dos últimos tempos acumulou igualmente diversas intervenções em diferentes desportos coletivos na área da condição física.

Run4Excellence

Clube desportivo

O projeto Run4Excellence teve início em Janeiro de 2014 e é desenvolvido por técnicos, que têm em comum uma enorme paixão pelo treino desportivo e em particular pela corrida.

Trata-se de um projeto sem fins lucrativos, que procura concretizar três grandes objetivos: desenvolver as melhores estratégias para ajudar atletas de diferentes desportos envolvidos com o projeto; suportar e criar oportunidades a novos treinadores, promovendo as melhores práticas para o seu processo de aprendizagem num ambiente estimulante para o seu conhecimento no treino desportivo; e desenvolver estudos aplicados ao treino com projetos que sejam transferíveis para a prática diária.

“Para todos os que querem aprender a correr e para todos os que já correm mas que queremos correr melhor, vão encontrar neste Centro de Treino de Corrida uma oportunidade de evoluir ao serviço do vosso bem-estar.” – Isabel Silva

O segredo da magia da Maratona

Quando alguém me aborda com o desejo de se preparar para uma Maratona, sou interpelado com um sem número de questões relacionadas com tempos, velocidades de corrida, tipos de treinos e até de dúvidas se esse objetivo será possível. Procuro sempre entender cada um, quais as suas motivações, até onde poderão ir e que ideia fazem do percurso que se lhe apresenta pela frente. E perceber qual o segredo da magia da Maratona.

 

E enquanto outros se preocupam com terminologias entre decidir o que é ou não um maratonista, eu fico feliz por perceber que estou ligado a um desporto que tem um instrumento único de valorização pessoal, que pode fazer de cada participante numa maratona, uma pessoa completamente nova. Também por isso, preocupa-me muito mais o processo, do que propriamente o dia da Maratona. E se este ponto é particularmente importante em atletas que procuram performance na Maratona, ainda mais importante pode ser naqueles que, sem saberem, podem mudar a sua vida para sempre graças a uma Maratona.

 

A corrida praticada de forma regular, proporciona uma força imensa para os desafios diários. Proporciona também a liberdade de se conduzir um processo que tornará cada praticante mais feliz e saudável. Por contradição, mistura sentimentos de frustração e dificuldade, exige perseverança e alguma dor, e no final, transforma tudo isto numa sensação de vitória. Num mundo que nos apela ao comodismo e a uma aparente sensação de bem-estar, romper com a inércia do sedentarismo e sair para a rua e conectar energias com o que de mais puro e enérgico todos tivemos algures na nossa infância. É conectar o cérebro com o passado, o presente e o futuro. Quase uma viagem no tempo, que transporta experiências de infância para um novo estilo de vida, que nos proporcionará a qualidade de vida que nenhum bem material nos pode dar. Ao longo do processo, aprende-se a lidar com inseguranças, dificuldades e o que de mais profundo existe dentro de cada um, que pode provocar um misto de emoções entrelaçadas com alterações fisiológicas incomparáveis. E quando se prepara uma Maratona, passa-se por tudo, pelo prazer da superação. As emoções a intervirem numa fisiologia que dá, na medida certa, o retorno para um corpo mais preparado e com isso uma mente mais saudável.

 

Testes de Controlo do Treino com FC Felgueiras

 

A experiência de treino para a Maratona, nunca será um percurso fácil, seja qual for o nível desportivo de cada praticante. Exige comprometimento, disciplina e consistência. O que cada praticante não se apercebe muitas vezes, é que o mais importante vai ser o percurso e não a Maratona em si mesma. E que ao longo desse percurso o mais importante não vão ser os tempos, os ritmos ou kms. Vão ser as adaptações que irão acontecendo no corpo e na mente de cada um. O final de uma prova de Maratona, corresponde a um dos maiores sucessos de aperfeiçoamento físico e mental do ser humano. E quando juntamos estas duas importantes dimensões do ser humano, encontramos mais sucesso na chegada de uma prova da Maratona, do que nos efeitos de um sistema educativo ou de promoção de saúde. Segundo a segundo, assistimos a um transbordar de emoções e de vitalidade física e mental que não se encontra facilmente noutra atividade. E o resultado mais importante da Maratona, está escondido nos milhões de kms realizados, por milhares de pessoas ao longo de meses de preparação e no quanto se alterou por completo os comportamentos mentais e estados fisiológicos para melhor. Inevitavelmente um contributo para um mundo melhor. Claro que para tudo isto poder ser mais efetivo, é importante percebermos a importância de um treino qualificado e bem orientado.

 

Treinar para uma Maratona é também meditar.  É relaxar o corpo e a mente, treinar a respiração e encontrar um estado de paz e tranquilidade física e mental. É ter aquele momento, aquela hora específica, que nos transforma de forma quase imediata e prolongada. Os estudos são cada vez mais contundentes: saúde mental, memória e criatividade ou mais saúde cardiovascular e metabólica. E não temos de escolher quais as adaptações… As transformações na saúde estão todas incluídas e interagem umas com as outras, como dificilmente algo mais o possa fazer nas nossas vidas.

 

 

Os melhores atletas do mundo são inspirações que nos podem motivar, mas são os atletas com idades cada vez mais avançadas que nos mostram que é possível treinar com qualidade e com isso a corrida fazer parte de uma longevidade cada vez mais atingível e com mais qualidade de vida. O tal “elixir da juventude” que nos entra em casa todos os dias pelas TV’s e que afinal está lá fora, numa atitude consciente de nos confrontarmos com as nossas fraquezas, dificuldades e problemas.

 

A Maratona, muda a nossa mente e o nosso corpo, como poucas coisas na vida. Os milhões de pessoas que se inspiram por terminar uma Maratona por todo o mundo, conectam-se consigo próprios de uma forma única e insubstituível. A Maratona é um processo de crescimento pessoal a todos os níveis e isto deverá fazer parte da nossa formação e cultura. Porque devemos entender o processo e com ele, os benefícios e as alterações que transformam cada um dos que passam a linha de meta dos 42,195km.

 

Decidir fazer uma Maratona pode ser um enorme e difícil passo na vida de cada praticante. Mas, depois de se começar… não há como voltar atrás.

Etiquetas: maratona, Superação

Paulo Colaço

Treinador de corrida

Docente na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Paulo Colaço tem também uma experiência de mais de 30 anos como treinador de atletismo em diferentes disciplinas do atletismo com um foco mais particular, nos últimos anos, na corridas de velocidade e de meio-fundo e fundo.

Ao longo dos últimos tempos acumulou igualmente diversas intervenções em diferentes desportos coletivos na área da condição física.

Run4Excellence

Clube desportivo

O projeto Run4Excellence teve início em Janeiro de 2014 e é desenvolvido por técnicos, que têm em comum uma enorme paixão pelo treino desportivo e em particular pela corrida.

Trata-se de um projeto sem fins lucrativos, que procura concretizar três grandes objetivos: desenvolver as melhores estratégias para ajudar atletas de diferentes desportos envolvidos com o projeto; suportar e criar oportunidades a novos treinadores, promovendo as melhores práticas para o seu processo de aprendizagem num ambiente estimulante para o seu conhecimento no treino desportivo; e desenvolver estudos aplicados ao treino com projetos que sejam transferíveis para a prática diária.

“Para todos os que querem aprender a correr e para todos os que já correm mas que queremos correr melhor, vão encontrar neste Centro de Treino de Corrida uma oportunidade de evoluir ao serviço do vosso bem-estar.” – Isabel Silva

A saúde mental também se treina?

Se pensarmos nos efeitos de qualquer carga de treino, salta logo à vista o impacto provocado no crescimento muscular, na perda de gordura ou na melhoria de desempenho do nosso coração ou pulmões. Se pensarmos na melhor forma de exercitarmos o nosso cérebro, vamos lembrar-nos de trabalho mental, como jogar xadrez, escrever, ler ou preencher quadradinhos de sudoku.

 

Existe também, uma tendência natural de todos nós, para pensarmos nos efeitos que o cérebro tem no nosso corpo, e não tanto nos efeitos que o nosso corpo pode ter no nosso cérebro. Existem ainda chavões (muito usados no desporto) que reforçam a ideia de que “a mente manda no corpo” que nos levam a colocar em segundo plano o impacto que um corpo saudável e treinado pode ter na saúde mental e até na prestação mental.

 

Se pensarmos no desporto de rendimento, facilmente entendemos a importância, tanto da superação mental como a tolerância à dor física que um atleta tem de ter e que lhe permite, por mais tempo, manter intensidades de esforço elevadas. Mas até mesmo nestes casos, um corpo melhor treinado estará naturalmente mais preparado para, nas mesmas intensidade de esforço ou superiores, colocar os limites mentais em patamares de performance superiores.

 

Temos depois outra realidade que consiste no impacto, cada vez mais estudado, do treino na saúde mental. Está cada vez mais comprovado que a prática desportiva, mesmo informal e por períodos curtos, acaba por ter um impacto enorme na saúde mental. Algo que o exercício mental, por si só, não resolve. Sentar-me a resolver exercícios de alguma complexidade mental, não irá promover maior circulação sanguínea e oxigenação do cérebro. É preciso muito mais. A actividade física, em particular com mais intensidade e/ou volume irá promover adaptações, que não se conseguem de outra forma. Se queres manter um bom desempenho mental, tens de ter a prática desportiva como um objectivo na tua vida. Pode parecer estranho para muitos, mas o sedentarismo é o primeiro passo para uma perda acentuada de desempenho mental e de uma maior probabilidade de problemas de saúde como Alzheimer ou Parkinson. Uma pessoa que dependa da sua prestação mental, devia ser a primeira a não prescindir de uma prática desportiva diária e bem estruturada, como pré-requisito para preservar essas capacidades ao longo dos anos! A prática desportiva ativa, de forma muito particular, importantes regiões do cérebro, melhora o desempenho mental e previne, de um modo muito eficaz, um envelhecimento mais rápido.

 

O treino pode contribuir para a melhoria da pressão arterial, melhor saúde cardiovascular e das artérias, prevenção da obesidade, diminuição de incidência de diversos tipos de cancro, entre tantos outros efeitos que de alguma forma todos vamos conhecendo. Mas os efeitos do treino vão ainda mais longe e não param de nos surpreender. No ano passado, uma equipa de investigadores da Stanford School of Medicine, mostraram uma vez mais os enormes efeitos positivos do treino, comparando ratos sedentários com ratos sujeitos a treino elevado (com melhorias enormes no domínio mental). Mas, o mais surpreendente deste estudo, acontece quando os investigadores decidem realizar transfusões sanguíneas colocando nos ratos sedentários, sangue dos ratos treinados. E desta forma a saúde mental ou capacidade cognitiva dos sedentários melhora de forma visível. A “culpa” parece estar associada a uma proteína, que ao ganhar um conjunto de adaptações provocadas pelo treino promove a diminuição da inflamação e a melhoria do desempenho mental. Já eram bem conhecidos os efeitos positivos do treino na saúde mental e prevenção do envelhecimento mas temos agora resultados ainda mais contundentes, que tudo indicam não serem diferentes em humanos.

 

Estamos num momento em que a ciência nos proporciona mais poder para decidirmos melhor. Sabemos que temos de treinar o nosso corpo, para o melhorarmos, o tornarmos mais eficiente e mais afastado de possíveis doenças. A questão já não é “apenas” de ter um corpo “fit”, pois também sabemos, cada vez mais, que o corpo quando sujeito a treino, muda a nossa saúde mental de forma drástica. Mens sana in corpore sano, transporta-nos para a Grécia Antiga, e viaja com o Movimento Olímpico ao longo dos anos, numa das maiores essências do espírito olímpico e da importância do desporto nas nossas vidas. Nos dias de hoje, com a apoio da ciência, adquire um significado cada vez mais premente, em especial nos mais jovens e como mensagem para a promoção da saúde física e mental do ser humano.

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Paulo Colaço

Treinador de corrida

Docente na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Paulo Colaço tem também uma experiência de mais de 30 anos como treinador de atletismo em diferentes disciplinas do atletismo com um foco mais particular, nos últimos anos, na corridas de velocidade e de meio-fundo e fundo.

Ao longo dos últimos tempos acumulou igualmente diversas intervenções em diferentes desportos coletivos na área da condição física.

Run4Excellence

Clube desportivo

O projeto Run4Excellence teve início em Janeiro de 2014 e é desenvolvido por técnicos, que têm em comum uma enorme paixão pelo treino desportivo e em particular pela corrida.

Trata-se de um projeto sem fins lucrativos, que procura concretizar três grandes objetivos: desenvolver as melhores estratégias para ajudar atletas de diferentes desportos envolvidos com o projeto; suportar e criar oportunidades a novos treinadores, promovendo as melhores práticas para o seu processo de aprendizagem num ambiente estimulante para o seu conhecimento no treino desportivo; e desenvolver estudos aplicados ao treino com projetos que sejam transferíveis para a prática diária.

“Para todos os que querem aprender a correr e para todos os que já correm mas que queremos correr melhor, vão encontrar neste Centro de Treino de Corrida uma oportunidade de evoluir ao serviço do vosso bem-estar.” – Isabel Silva

Reforço muscular: e tu, sabes como evitar lesões?

A Isabel, tem uma vida atribulada, repleta de agitação e momentos de trabalho que a colocam, muitas vezes, em stress. Para além disso, passa algum tempo a trabalhar sentada – e já todos sabemos que estarmos sentados promove problemas musculares com consequente mal estar articular que todos devemos evitar.

Como nem sempre podemos fugir muitos destes efeitos negativos, o plano B passa por desenvolver algum trabalho que tente compensar ou atenuar alguns desses problemas e potenciais desequilíbrios musculares. E foi por isso que neste video, gravado no espaço Run4excellence, procurámos abordar alguns dos exercícios simples que a Isabel passou a fazer e que qualquer um de nós pode seguir como exemplo. Sem complicar e de modo a tornar tudo no nosso dia a dia mais fácil em termos musculares e claro, com consequências directas no nosso desempenho na corrida e prevenção de lesões.

 

https://youtu.be/N3WiyNF5Poc

 

Existe uma grande diversidade de exercícios que nos podem ajudar a obtermos mais rendimento e maior proteção de lesões dos nossos treinos. E para isso, não precisamos de complicar, nem de termos grandes meios ou estruturas físicas. O peso do nosso corpo é quase sempre mais do que suficiente para um trabalho seguro e de qualidade.

O video que vais poder ver, apresenta algumas opções que fazem parte do nosso trabalho regular com corredores independentemente do seu nível desportivo ou experiência. Claro que, se puderes, será melhor procurares algum conselho técnico sobre o que se enquadra melhor ao teu caso, para resolveres os teus problemas e obteres melhorias de forma individual.

Contudo, se passares a realizar alguns destes exercícios de forma regular, poderás sentir algumas melhorias na tua resistência muscular e na tua corrida. Experimenta, filma-te a fazeres para depois avaliares a execução técnica dos exercícios e passa a acreditar cada vez mais na importância de um trabalho muscular complementar à tua corrida.

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Paulo Colaço

Treinador de corrida

Docente na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Paulo Colaço tem também uma experiência de mais de 30 anos como treinador de atletismo em diferentes disciplinas do atletismo com um foco mais particular, nos últimos anos, na corridas de velocidade e de meio-fundo e fundo.

Ao longo dos últimos tempos acumulou igualmente diversas intervenções em diferentes desportos coletivos na área da condição física.

Run4Excellence

Clube desportivo

O projeto Run4Excellence teve início em Janeiro de 2014 e é desenvolvido por técnicos, que têm em comum uma enorme paixão pelo treino desportivo e em particular pela corrida.

Trata-se de um projeto sem fins lucrativos, que procura concretizar três grandes objetivos: desenvolver as melhores estratégias para ajudar atletas de diferentes desportos envolvidos com o projeto; suportar e criar oportunidades a novos treinadores, promovendo as melhores práticas para o seu processo de aprendizagem num ambiente estimulante para o seu conhecimento no treino desportivo; e desenvolver estudos aplicados ao treino com projetos que sejam transferíveis para a prática diária.

“Para todos os que querem aprender a correr e para todos os que já correm mas que queremos correr melhor, vão encontrar neste Centro de Treino de Corrida uma oportunidade de evoluir ao serviço do vosso bem-estar.” – Isabel Silva

A urgência de lutar contra o analfabetismo motor das crianças

Nós somos o resultado de múltiplas opções que tomamos no nosso dia a dia, incluindo na nossa saúde e bem-estar. Se isto é bem visível na idade adulta, nem sempre percebemos o enorme impacto que tem – o que fizemos ou não – enquanto crianças e jovens. São idades em que absorvemos tudo, para o melhor e para o pior, e em que se desenham os primeiros traços de uma vida mais ou menos saudável.

 

É, em parte, aos pais a quem cumpre tomar e orientar as decisões mais certas e é, muitas vezes, aqui que reside grande parte do problema. A criança por natureza escolheria brincar e desenvolver-se fisicamente, dando resposta a toda uma enorme teia de alterações morfológicas, mentais e hormonais que pedem desafios, atividade e superação. Talvez possa parecer estranho falar em superação nas crianças, mas é disso que se fala, quando, por natureza, se entrega à tentativa de sucesso superando as suas fragilidades com o objetivo de vencer. Falamos de algo tão inapto quanto respostas que não têm de ser exigidas, mas estimuladas através dos contextos certos que as desafiem de forma constante.

E como o fazer?

Com o jogo… O jogo desenvolvido de forma divertida é o combustível certo para promover adaptações impossíveis de alcançar de outras formas. Porque a conquista, a perseverança e a procura pelo melhor resultado tem início no estímulo lúdico do jogo. Estes são os primeiros alicerces de uma educação positiva, pensada na criança e no jovem.

 

Existem imensas possibilidades de apresentarmos às crianças e jovens caminhos a seguir, mas sem dúvida que a prática desportiva se mostra, cada vez mais, como uma das ferramentas mais eficazes e imprescindíveis na formação pessoal nestas idades.

 

A prática desportiva, desenvolve processos de autonomia, mas também de cooperação com os outros, ensina a respeitar colegas e adversários no limite de regras bem estabelecidas, promove aptidões de perseverança e de sabermos o que é lutarmos por objetivos, sejam eles individuais ou de grupo. O melhor de tudo? É que esse crescimento individual pode ser feito com estímulos positivos induzidos pelo jogo, pela vontade de fazermos melhor numa simbiose corpo/mente que nos torna mais fortes e mais capazes, não apenas enquanto jovens, mas para toda a vida.

 

Quando pensamos no Dia da Criança, pensamos em presentes ou em festa,… Nos restantes dias do ano, lembramo-nos de tarefas, de horas sentadas, bem-comportadas, sem grandes apelos de criatividade e perdidas numa imensidão de conhecimentos que definimos como fulcrais para a sua vida futura. Como se a sua saúde e bem-estar dependesse da sua memória ou raciocínio mental.

 

Esquecemo-nos facilmente do que nos fez felizes enquanto crianças e desenhamos o seu desenvolvimento em torno de outros valores que não consideram o maior de todos os patrimónios: a sua saúde física e mental. Depois, ficamos em choque com uma prevalência brutal de obesidade entre os mais jovens, problemas sérios e crescentes de saúde mental, de descontrolo emocional severo, de pouca autoestima, de um analfabetismo motor completo e de uma incapacidade de controlar uma saúde perdida muitas vezes para sempre, em idades tão jovens.

Na verdade, quando esquecemos de trabalhar o corpo em contexto escolar, nem nos apercebemos que o impacto é muito mais vasto e entra no domínio mental e intelectual. É como se estivéssemos a colocar extensas e complexas informações de software num hardware cada vez mais obsoleto e incapaz de lidar com as mesmas.

 

É tempo de darmos à criança e ao jovem um conhecimento global do seu corpo, das suas aptidões e dos valores mais estruturantes. De os deixar crescer numa harmonia não compatível com estarem 8 a 10 horas por dia sentadas.

 

Em Portugal, caberá aos pais e à comunidade envolvente, a criação de oportunidades qualificadas de prática desportiva que resolvam um problema de um sistema educativo que não se centra no que verdadeiramente é importante para as crianças.

 

Não podemos definir objetivos de sucesso escolar centrados em horas sem fim de estudo, sem percebermos que podemos encaminhar crianças e jovens para um abismo de uma desregulação fisiológica, que a médio prazo até no domínio intelectual vai ter prejuízos imprevisíveis.

 

A necessidade das crianças e dos jovens passa acima de tudo, pela construção de um corpo harmoniosamente treinado com impactos já muito bem estudados na performance cognitiva. Estes são os verdadeiros alicerces para que, no momento certo, qualquer jovem que se entregue de forma dedicada e apaixonada a uma área, desenvolva competências absorvidas. Os pressupostos para a aprendizagem ficam assim colocados no lado da saúde física e mental, edificando as capacidades estruturantes para o futuro.

 

Bem sabemos que, nos dias de hoje, é complicado que as crianças tenham a liberdade de outros tempos. Receios de segurança levam-nos a controlar o seu crescimento num sistema mais protegido. A escola está muito longe de cumprir a sua função, onde se consideram as horas de tempo sentadas em sala de aula mais importantes do que as horas de atividade física. As coletividades desportivas não têm os apoios que deveriam ter para chegarem a mais jovens e de os manterem focados numa atividade desportiva regular. Cabe aos pais entenderem a importância dessa prática regular e de desenvolverem oportunidades para os seus filhos se envolverem com o desporto, de apoiarem e fazerem parte de projetos desportivos na sua comunidade e de os fazer crescer à medida das suas possibilidades. E de tudo fazerem para terem os melhores técnicos desportivos com os seus filhos e de valorizarem a importância desses treinadores e a qualidade da sua formação. Se procuram escolher os melhores médicos para resolverem as doenças das crianças, porque não se procuram os melhores treinadores para promoverem a sua saúde? Se não forem os pais a apostarem no crescimento de iniciativas desportivas de impacto social elevado e em ambientes tecnicamente qualificados, poucas oportunidades surgirão para aliciar os jovens a uma prática desportiva regular.

 

Hoje, Dia Mundial da Criança, é também o dia de despertar memórias de criança em cada adulto. Pela influência que têm os adultos (em especial os pais), o dia de hoje é de todos os que queiram ver em cada criança um sinal de um futuro melhor para todos.

Paulo Colaço

Treinador de corrida

Docente na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Paulo Colaço tem também uma experiência de mais de 30 anos como treinador de atletismo em diferentes disciplinas do atletismo com um foco mais particular, nos últimos anos, na corridas de velocidade e de meio-fundo e fundo.

Ao longo dos últimos tempos acumulou igualmente diversas intervenções em diferentes desportos coletivos na área da condição física.

Se queres começar a correr – este artigo é para ti!

Quando queremos começar a correr, nem sempre correr deve ser o primeiro passo.

Cruzei-me recentemente com uma ex-aluna do ensino secundário. Já passaram mais de 20 anos e não foi fácil reconhecer, à primeira vista, uma aluna que fugia das aulas de educação física suportada por justificações no mínimo duvidosas. Mas tudo ficou ainda mais estranho quando referiu que tinha na corrida uma paixão crescente que a levava a treinar todos os dias! 

É incrível a quantidade de pessoas que, mesmo sem nunca terem praticado desporto na sua juventude, sentem um apelo, por vezes drástico, pela prática da corrida. Talvez porque se começam a preocupar com a sua auto-estima, com a melhoria da sua saúde e bem-estar. Alguns até se “obrigam-se” a ter este desígnio e inscrevem-se em Maratonas ou Meias Maratonas como forma de se sentirem forçados a treinarem regularmente. Ou então apostas com amigos, para aumentarem a dose de motivação necessária para terminar uma Maratona. Este fenómeno crescente tem aspectos muito positivos, mas levanta também um conjunto de potenciais problemas.

Sendo que estas situações são cada vez mais recorrentes, importa aqui deixar algumas sugestões.

Em primeiro lugar, percebermos a forma como temos tratado o nosso corpo e se fará sentido sujeitá-lo, de repente, a cargas físicas quando, por vezes, durante anos quase nada fizemos em termos de prática desportiva. E mesmo que se tenha tido alguma prática desportiva de juventude, há quanto tempo ela foi terminada? Que estilo de vida tem sido adotado? Quando crianças, sentimos uma capacidade inata para corrermos, o nosso corpo tem proporções mais favoráveis e um peso mais leve que facilita o seu transporte. Mas, quando a prática desportiva ficou para trás, como mudou o nosso corpo entretanto? Que reforço muscular existe ou se perdeu? Que capacidade de proteção de lesões? Que função respiratória tem sido treinada?

Estas são questões que me fazem lançar uma primeira sugestão: se a corrida, e o treino muscular, não têm feito parte da tua vida, não corras!

Neste caso, o pensamento deve ser dirigido para uma construção muscular prévia e até, se possível, técnica. Contacta um profissional de desporto, avalia a tua capacidade muscular e prepara o teu corpo para a corrida.

Se fizeres 4 sessões de treino de 10kms, totalizando cerca de 40kms numa semana, estarás a fazer mais de 50.000 passos por semana, com um impacto superior ao que tens na marcha. A cada apoio, terás de suportar o peso do teu corpo, mas terás também os teus órgãos pelos músculos do soalho pélvico; controlar a posição da anca e evitar oscilações dos teus joelhos na fase de apoio; terás de controlar a posição do teu tronco e para isso os músculos das costas e abdominais têm de estar preparados para controlar a tua postura; e terás de respirar com uma frequência respiratória mais elevada que levará a que mais músculos sejam solicitados. Tudo isto acarreta importantes exigências musculares. Será que faz mesmo sentido começares a fazer milhares de passos por semana, sem te preparares para isso? Se o fazemos noutras áreas da nossa vida, onde nos preparamos para as exigências com que nos vamos confrontar, porque não fazemos o mesmo com a prática da corrida?

 

Outro erro muito comum, é pensarmos que a prática da corrida, por si só, será suficiente. Não é! O desempenho na corrida exige, desde logo, que tenhamos uma boa capacidade muscular para lidarmos com o peso do nosso corpo. Não interessa se somos mais pesados ou mais leves, o importante é que tenhamos um bom nível de força para transportar o nosso peso e isso consegue-se com treinos orientados para a melhoria dos níveis de força.

Por isso, a segunda sugestão é simples: não inicies a corrida sem realizares treinos de força! Diria o contrário a um culturista: não faças apenas treino de força, sem manteres treino aeróbio regular. Isto claro pensando numa perspectiva de saúde e bem estar.

 

Está cada vez mais comprovado que a nossa saúde e longevidade estão associadas à prática desportiva. Os estudos multiplicam-se aumentando a urgência de uma prática desportiva regular e bem orientada. Não existe nenhum medicamento com a eficácia da prática desportiva para nos tornar mais saudáveis e nos fazer viver mais anos. Essa longevidade depende principalmente de dois grandes aspectos:

(i) a manutenção de bons níveis de força muscular, que representarão a manutenção de uma boa estrutura muscular e com isso evitar a perda de massa muscular que todos sofremos com o avanço da idade (sarcopenia);

(ii) uma enorme capacidade mitocondrial nos nossos músculos. As mitocôndrias são as nossas fábricas energéticas e por isso mesmo devem ser preservadas. É no seu interior que acontecem processos muito importantes que nos levam a produzir mais energia, necessária para as nossas atividades diárias.

Por isso mesmo, ser saudável e viver mais anos com mais qualidade de vida exige, da nossa parte, uma capacidade de misturarmos estímulos diferenciados com objetivos distintos. A diversidade de estímulos no treino é um dos segredos para atletas de alto nível, assim como, para ti, nos teus treinos diários. Para além de que poderá ser mais motivador e reduzir a probabilidade de desistência dos teus objectivos. E tudo o que queremos é consistência… porque sem ela, os efeitos dos teus treinos vão-se perdendo com o tempo. 

 

E agora? Mais preparado(a) para tomares decisões mais assertivas?      

 

Paulo Colaço

Treinador de corrida

Docente na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Paulo Colaço tem também uma experiência de mais de 30 anos como treinador de atletismo em diferentes disciplinas do atletismo com um foco mais particular, nos últimos anos, na corridas de velocidade e de meio-fundo e fundo.

Ao longo dos últimos tempos acumulou igualmente diversas intervenções em diferentes desportos coletivos na área da condição física.

Correr com COVID-19

“Correr com COVID-19” é o nome do primeiro documentário do projecto run4excellence: um primeiro passo que promete trazer muitas novidades “no bico”.

 

https://vimeo.com/ondemand/corrercomocovid19?1&ref=fb-share&fbclid=IwAR2xH5s7EEV5Wwo2tqPBL-YwwuufU2vnw3r_Z87lEeqPHDlNUeuEWWYt9XU

 

Neste documentário, a equipa técnica do projecto desafiou-se mergulhando num estudo com vários pontos de contacto entre a actividade desportiva (em particular a corrida) e a Covid-19. Desta forma, este documentário apresenta-nos uma visão muito prática e aplicada de como é importante olharmos para o nosso estilo de vida e para os nossos hábitos de prática desportiva, numa perspetiva protectora para o impacto de possíveis doenças, tais como a Covid-19. 

No decorrer do documentário podemos perceber melhor porque que é que algumas pessoas estão mais susceptíveis a terem problemas mais severos com a doença, porque razão os desportistas têm, por norma, impactos menos agressivos, como a resposta imunitária se altera em função da prática desportiva ou que cuidados se deve ter numa recuperação muscular funcional – nos casos de pessoas que foram atingidas, com severidade, pela doença. 

Ao longo destes 45 minutos vais poder aceder a muito conhecimento, mas sempre com uma tónica muito prática de modo a que se entenda o melhor possível o papel que a prática desportiva pode ter na regulação da prevenção e das respostas a uma doença com estas características.

Um documentário que nos leva mais longe do que a Covid, porque as preocupações são transversais a muitas outras doenças e o conhecimento transferível para doenças que já existiam antes e para outras que, infelizmente, nos continuam a afectar todos os dias.

Se a tua saúde, e dos teus familiares, é algo que te preocupa: não percas a oportunidade de explorar o que reunimos nesta produção.

Paulo Colaço

Treinador de corrida

Docente na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Paulo Colaço tem também uma experiência de mais de 30 anos como treinador de atletismo em diferentes disciplinas do atletismo com um foco mais particular, nos últimos anos, na corridas de velocidade e de meio-fundo e fundo.

Ao longo dos últimos tempos acumulou igualmente diversas intervenções em diferentes desportos coletivos na área da condição física.