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Consistência: a verdadeira chave para a superação

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16.02.2023
Consistência

A verdadeira superação está no poder da consistência de hábitos que promovem o bem-estar. Na força e disciplina em nunca abdicar do compromisso ao qual nos propusemos diariamente. E é por isso que a consistência é a verdadeira chave para a superação.

Quase todos os dias procuro motivar pessoas a encontrarem na prática desportiva a melhor forma de adotarem um estilo de vida o mais saudável possível. E tenho muitas vezes em mente aquela pessoa com sinais depressivos, um(a) fumador(a) ou pessoas com diferentes patologias para as quais a prática desportiva seria o “antídoto” perfeito. Como profissional de desporto realiza-me de forma particular conseguir marcar a vidas das pessoas através do desporto e, muitas vezes, com impactos que impressionam mesmo os mais céticos.

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A sociedade em que vivemos está particularmente sensível a idolatrar feitos de pessoas que perderam muitos quilogramas de peso excessivo ou que deixaram de fumar quando decidiram praticar desporto. É algo que dá para um programa de televisão ou encher páginas de revistas e parece tudo tão complicado de conseguir que, esses exemplos, são expressos no mesmo patamar de grandes feitos. Em tom de brincadeira, costumo dizer que mais facilmente se poderá ser reconhecido por se perder peso do que por nunca ganhar peso ao longo da vida…  Que reconhecimento damos a jovens que, desde muito cedo, decidiram manter uma prática desportiva diária regular, que nunca fumaram, ou se deixaram engordar? Pois… parece demasiado banal, sem história para contar.

 

Num artigo muito recente, um grupo de investigadores holandeses e franceses publicaram um estudo desenvolvido com um corredor com 75 anos de idade e com resultados entre os melhores europeus e mundiais de veteranos. No escalão de 75-79 anos, faz 5:19.90 aos 1500m, com um VO2max de 50.5 ml/kg/min, conseguidos com 4 a 5 sessões de treino por semana. Apesar de ter parado de correr numa fase da sua vida, os anos de treino de corrida acumulado fazem deste, entre tantos outros, exemplos de otimização do corpo humano que devem ser observados com atenção.

Uma prática regular ao longo da vida e, em particular, em idades em que, por norma, levam qualquer idoso a ficar retido em casa, vão-nos mostrando resultados surpreendentes.

 

A saúde deve, por isso, ser um processo de trabalho contínuo, consciente, de longa duração, suportado numa prática desportiva tão regular quanto possível ao longo da vida.

 

Considero que os verdadeiros exemplos de superação, não são os que revertem estados de saúde menos positivos gerados por maus hábitos de vida como o tabagismo, mas sim, por aqueles que desde uma idade muito jovem abraçam uma prática desportiva para a vida, sem hesitações. São provavelmente cada vez menos, mas é importante dar mérito aos que o fazem e que podem ao longo da vida constituir-se como os verdadeiros exemplos de superação. Isto claro, sem nunca deixarmos de elogiar os que revertem opções de vida menos saudáveis.

 

É também por isso, que precisamos de constituir no sistema desportivo português, uma teia de caminhos que levem a que, numa primeira instância, o jovem pratique desporto na sua juventude dando continuidade, por exemplo, quando vai para o ensino superior ou quando ingressa no mercado de trabalho. O foco deveria passar por proporcionar alternativas constantes capazes de manter esses jovens ativos ao longo da vida e não apenas em momentos de curta duração.

 

Os organizadores de eventos têm desenvolvido um trabalho notável. Sou cada vez mais confrontado com pessoas que relatam que o momento em que aderiram à prática da corrida, coincidiu com uma participação num evento e que a sucessão na participação de eventos os mantém presos a uma prática desportiva regular.

 

Mas existe mais neste processo. É importante adotar boas práticas de treino e aprender com o mesmo rigor e disciplina com que se aprendem outras matérias que não são mais importantes do que conhecer o nosso corpo, os nossos limites, e como o fazer funcionar da forma mais perfeita ao longo da vida.

 

Admiro, por isso, de forma muito particular, os corredores mais velhos, pelo que podem servir de exemplo para as novas gerações, em especial, quando estes procuram também práticas corretas, sem se deixarem vencer pela difusão de um conhecimento sem sentido e desprovido de verdade.

 

Num momento em que iniciamos um novo ano, nada como deixar algumas dicas que consideramos inegociáveis:

  • Não treines a corrida suportada na base da performance imediata. As adaptações dependem de uma consistência de anos e não deves procurar resultados rápidos, se não estiveres meses ou anos a repetir uma estrutura que tenha sido bem desenhada para ti.
  • Não corras à espera que a corrida te retire algumas gorduras em excesso. Até o poderá fazer, mas vai demorar tempo… Foca-te antes noutras sensações mais fáceis de avaliares. Vais sentir que corres com menos esforço, que a tua respiração é cada vez mais fácil para o mesmo ritmo de corrida, ou que a tua tensão arterial está muito mais estável. É aqui que te deves focar e quanto mais valorizares estas adaptações, mais facilmente chegarás a outras. Nomeadamente estéticas.
  • Não corras “a reboque” de outros corredores mais rápidos. Quando se vêem treinos de grupos de corrida, é muito comum vermos alguns em claro esforço atrás do grupo a tentarem seguir o ritmo do grupo da frente. Um erro que não deves cometer. Estás a sair das intensidades alvo que te ajudariam a evoluir. Procura alguém que oriente os teus treinos e segue instruções que torne o teu treino mais fácil e claro, mais individualizado.
  • Se puderes, corre todos os dias. Se não puderes, corre o maior número possível de dias. Pelo menos tenta que os dias de treino ganhem por 4-3 aos dias em que não treinas. Se não conseguires mais do que 2 ou 3 treinos por semana, que assim seja. Será sempre melhor do que não fazeres nenhum.
  • Não acredites em milagres. Alimenta-te bem com base em boa comida, privilegia o teu descanso respeitando as horas de sono e começa os teus dias cedo.
  • Correr é transportar o peso do corpo. Quanto melhor formos a faze-lo, melhor seremos a correr. Por isso correr depende da força que tens para transportar o teu peso do corpo. Isto tem de ser claro e deves pedir ajuda para desenvolveres esta capacidade.

 


 

O Paulo é docente na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto e tem uma experiência de mais de 30 anos como treinador de atletismo em diferentes disciplinas do atletismo com um foco mais particular, nos últimos anos, na corridas de velocidade e de meio-fundo e fundo. É fundador do projeto Run4Excellence.

Paulo Colaço

Docente na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Paulo Colaço tem também uma experiência de mais de 30 anos como treinador de atletismo em diferentes disciplinas do atletismo com um foco mais particular, nos últimos anos, na corridas de velocidade e de meio-fundo e fundo.

Ao longo dos últimos tempos acumulou igualmente diversas intervenções em diferentes desportos coletivos na área da condição física.