Há um aproveitamento do verão para vender dietas e produtos que prometem emagrecimento rápido e um corpo idealizado como se fossemos manequins feitos por medida numa fábrica.
Se entrares nesta onda, ainda te vais sentir culpada por não conseguires atingir aquilo que o produto prometia e vais passar o verão zangada contigo. Por isso, não acredites em perdas de peso que não envolvam vários aspetos da tua vida, e que se cingem apenas em contar calorias, beber “sumos”, tomar produtos-milagre, entre outros.
Muitas mulheres chegam aos 40 anos com queixas de falta de energia, ferritina baixa, cansaço permanente, dificuldade em concentrar-se, baixa líbido, muito frio no inverno, irregularidades menstruais, princípio de osteopenia, problemas digestivos e outros sintomas que indicam que o seu corpo está enfraquecido e não nutrido.
Muitas destas mulheres, saltaram de dieta em dieta para corresponder aos padrões de “beleza ideal” impostos, e mesmo que tenham conseguido emagrecer deixaram os seus corpos frágeis demais para fazer face à menopausa e aos desafios que se encontram quando há alterações hormonais profundas.
E se pudéssemos mudar esta narrativa do corpo magro, do “corpo de verão”, da perda de peso rápida, das dietas restritivas, em que os alimentos são vistos quase apenas como calorias, para a visão de fortalecimento de um corpo que se quer saudável durante todas as etapas da vida?
O teu corpo está permanentemente a criar as condições para se manter vivo e saudável. Está em permanente adaptação às condições externas e também se adapta aquilo que comes, incluindo a momentos de dieta que são interpretados por ele, como períodos de escassez.
Sim, o teu corpo tem mecanismos para sobreviver a períodos de escassez e é esse modo de sobrevivência que ele ativa quando fazes dietas restritivas. Nesse modo, o teu corpo está em stress e é obrigado a gerir adequadamente os recursos. Isto faz com que ele vá buscar o que necessita para realizar processos vitais a si próprio. Em dietas restritivas, muitas vezes, não é apenas a gordura que desaparece, mas também a massa muscular e a massa óssea, e esses dois tecidos são essenciais para te manteres saudável em todas as fases da vida.
Até o metabolismo baixa se a ingestão calórica não for adequada para manter as funções vitais do teu corpo, fazendo com que termines uma dieta restritiva com o metabolismo mais lento do que quando a iniciaste.
Por isso, é tão importante pensar de forma diferente, porque a saúde não se resume a um “corpo de verão”.
A forma de pensar deveria ser: como é que têm de ser as minhas escolhas diárias para me manter saudável, diminuir a percentagem de massa gorda, aumentar a massa muscular, manter a força e a flexibilidade, cuidar da mobilidade articular, manter a saúde metabólica e cardiovascular, melhorar a imunidade e a capacidade cognitiva?
Se queres ser saudável em todas as etapas da vida, precisas de dedicação, esforço e consistência, e levares a sério a tua vida antes que surja a necessidade imperiosa de o fazeres por causa de uma doença.
Mas antes de te falar sobre hábitos de vida que deves ter diariamente, e da dieta que nutre e que mantida durante muito tempo te faz ter o “peso certo” para o teu corpo, gostava de te dizer que existe um tipo de alimento, o primário, que não nos chega no prato, mas que é tão importante como a comida.
É quando esse alimento primário está em défice que temos tendência a comer demais e a fazer escolhas alimentares para encher e não para nutrir. O alimento primário que mais nos nutre é o amor que recebemos de relacionamentos íntimos saudáveis, como aquele que mantemos connosco, com os outros e com Deus (ou o que lhe queiras chamar). Também podemos incluir, nesse alimento primário, o contacto diário com a natureza; a arte que nos alimenta através de poemas, música, pintura, literatura, etc.; o silêncio e as pausas ao longo do dia; o saber que estamos em segurança e o sentido de pertença.
Antes de continuar, queria partilhar uma das coisas que ouvi Francisco Varatojo dizer nas aulas: “quem come sempre bem não necessita de fazer detox nem jejuns prolongados”.
Por esse motivo e porque essa também é a minha experiência, não vou referir neste artigo os alimentos usados na macrobiótica para detox/perda de gordura. Isto porque acho que esses alimentos devem ser utilizados apenas com o apoio de um Consultor/Coach Macrobiótico. Porquê? Porque são eficazes quando são usados pontualmente e se forem consumidos em quantidade e durante muito tempo, também acabam por se tornar prejudiciais.
Se queres perder peso nutrindo o teu corpo – tem atenção aos seguintes pontos:
Não insistas com ninguém para comer, nem permitas que o façam contigo. Muito menos se o alimento for com açúcar, gordura, industrializado e péssimo para a saúde.
Quando as necessidades de alimento primário estão satisfeitas, quando nos alimentamos com alimentos nutritivos, feitos com ingredientes de boa qualidade, cheios de vitalidade e nutrientes, o mais provável é que o teu apetite regularize e que não sintas necessidade de fazer restrições alimentares.
Fica aqui um bónus – um importante bónus – sobre a mastigação. Sabias que ela é um dos segredos mais bem guardados para quem quer manter o peso. Para além de ajudar nisso, se queres alcalinizar os alimentos antes de entrarem no teu corpo, pode fazê-lo através da mastigação adequada, porque a saliva alcaliniza os alimentos e há quem diga que consegue neutralizar algum contaminante que a comida traga e nos poderia vir a prejudicar.
O teu estômago vai ficar-te tão agradecido, mas tão agradecido!
Esta “dieta para todo o ano e para toda a vida” envolve várias áreas, é multidisciplinar, e deverá ser focada nas tuas necessidades individuais.
Da próxima vez que te sentires tentada a fazer um detox, perder alguns quilos em pouco tempo, tomar um produto milagroso, lembra-te que a tua saúde vale muito mais do que um corpo de Verão.
O seu nome é Dulce – que é como quem diz “doce”. É mãe, formou-se e foi professora na área de Engenharia Eletrotécnica e, depois, conheceu e apaixonou-se pela Macrobiótica e pelo Alimento.
Acabou por aprofundar os seus conhecimentos, estudar e especializar-se nestes domínios – assim como no Mindfulness.
Atualmente, continua a ensinar, tem uma comunidade linda chamada Mil Grãos, dá consultas de Orientação Alimentar e de Estilo de Vida, segundo a Filosofia Macrobiótica e orienta Workshops de Culinária Macrobiótica para quem quer aprender a comer de forma não só saudável mas inteligente, nutrindo e respeitando o seu corpo e o Planeta.