Começo pela visita à feira da Maratona de Berlim, na sexta-feira, dois dias antes da prova. Vê aqui o meu primeiro dia em Berlim – a caminho do dia da Maratona de Berlim.
Foi no antigo aeroporto de Berlim que os mais de 40.000 atletas levantaram os dorsais. Uma feira gigante, digna de uma major, um paraíso para os amantes da corrida. Ir à feira da maratona levantar o dorsal é um dos momentos que mais prazer me dão sempre que vou viajar para fora. Encontra-se de tudo, tudo o que esteja relacionado com corrida: roupa de desporto, suplementação para atletas, alimentação, workshops. Demoro sempre, no mínimo, umas quatro horas a ver tudo com calma. Também por isso, reservei o levantamento do dorsal para sexta-feira. Sábado, voltei ao local da feira, mas desta vez para fazer o meu último treino antes da prova.
Sabem que sempre tive o desejo de correr numa pista de aeroporto? Foram muitas as vezes que partilhava com o meu companheiro de corridas, o João, depois dos nosso treinos de séries, que adorava um dia poder correr numa pista de aviões. Achava sempre que aí é que eu ia “buuuuuuaaaarrrr”.
E assim foi. Fomos os quatro: eu, o Ricardo, o Rui e o João. Mas não imaginam o que me aconteceu.
No dia anterior, tive de comprar um relógio de corrida novo. Acabei por comprar novamente um Garmin, porque já era a marca do meu antigo, conheço o relógio, já estou habituada a ele e sabia que não me ia falhar. Neste último treino, no aeroporto, estive a testar o relógio novo, a ver o GPS, se o ritmo estava em condições, etc. E tudo isto também me tirou foco. Queria ter desfrutado mais aquele treino diferente, na pista do aeroporto, e não o fiz. A minha mente não estava limpa como das outras vezes. Estava ligeiramente stressada, com receio que o relógio me deixasse ficar mal no dia da prova, ou seja, que não estivesse no ritmo certo da minha passada. Mas acabou por se portar lindamente. Tão lindamente que até corri 43,3 km no dia da prova.
A janta do maratonista
Aquele clássico, que eu adoro. Depois deste treino no aeroporto, fomos almoçar e depois metemo-nos nas compras (compras de supermercado, não é de roupa). Éramos alguns e, apesar de termos uma alimentação semelhantes, as preferências em vésperas de provas são para respeitar. Por essa razão, mais do que fazer um prato apenas, preparámos várias soluções e cada um montou o seu prato do jeito que quis. Ficou uma mesa linda, com tudo aquilo que um atleta precisa para ter energia para correr uma maratona. Um verdadeiro repasto vegano, com batata doce no forno, tempeh e tofu, grão demolhado e cozido, arroz integral, brócolos, salada de abacate com tomate, feijão demolhado e cozido em alga kombu, cogumelos, salada verde, sopa de abóbora.
Estava tudo delicioso. Quem comandou as tropas foi o Rui Catalão, mas todos nós fomos os melhores ajudantes do mundo.
Quando estava a fazer a mala, lembrei-me de levar alga kombu (rica em proteína), porque já sabia que ia cozer leguminosas. Esta alga é maravilhosa porque torna as leguminosas mais leves, digeríveis e elimina o problema dos gases que o grão e o feijão podem causar. E isto faz toda a diferença para correr leve na prova.
No final, bebi a minha infusão e ainda comi três quadrados de chocolate. Outro ritual que temos — entre o final do jantar e o deitar — vemos no computador o percurso da prova em 3D para começarmos já a sentir a adrenalina e irmos dormir com entusiasmo. Esta é aquela noite em que já sabemos que não vamos dormir muito. Daí a importância de descansar nos dias anteriores. No meu caso, como já referi acima, já fui dormir com cansaço acumulado.
Este momento é uma excitação. Falamos dos nossos ritmos, expetativas, ansiedades, vontades. Lá no meio, há muita risada e espírito de companheirismo.
A melhor mãe que se pode ter
“Acho lindo tudo isto que estás a viver com os teus amigos de corrida. E acho maravilhoso a forma como tu lidas com esta prova. Ainda bem que vim. Amanhã lembra-te sempre que a mãe está contigo. E desta vez vou acompanhar-te no tracking”.
Malta, a minha mãe é só linda e incrível e maravilhosa e a mãe que todos querem ter. Ela decidiu acompanhar-me nesta viagem, até à Maratona de Berlim. Eu gostei da ideia, mas nunca pensei que fosse tão especial.
Ela esteve a apanhar o real secador no dia do levantamento de dorsais (isto é tudo lindo para um corredor, mas e quem não corre? Perder, por exemplo, mais de 30 minutos a ver géis de hidratação, meias de descanso, meias de corrida e por aí em diante é duro) e ela nunca se queixou. Pelo contrário. Ela e a minha Gabriela (que é como uma mãe para mim, em Lisboa) estiveram sempre com um sorriso a apreciar tudo. Atentas, curiosas e divertidas.
Adorava que conhecessem a minha mãe. Ela é um máximo, mas não gosta de aparecer. Confesso que até a forma como ela diz isso me da vontade de rir. Um dia, talvez.
A caminho do grande dia, o da Maratona de Berlim. Fiquem por aí!