Olá, o meu nome é Filipa Abreu. Sou Homeopata e dediquei mais de 20 anos da minha vida à medicina alopática como farmacêutica.
Nasci em Lisboa, mas logo aos 5 anos de idade emigrei para Macau, onde vivi 6 anos. Cresci numa família bastante convencional, com mãe médica e pai engenheiro, onde era dado pouco valor ao sentir, e apenas o que era visível e racional era valorizado. Isso fez com que crescesse muito dissociada de mim mesma, sempre a desejar preencher o papel de filha e menina “perfeita”.
Sempre me fascinou a forma incrível como ficava melhor sempre que a minha mãe me dava medicamentos quando estava doente, o que fez com que não tivesse muitas dúvidas quando chegou a altura de escolher o que queria fazer na minha vida. Claro que queria ir conhecer e explorar esse mundo da saúde, e conhecer a fundo esses medicamentos. Ciências Farmacêuticas era o curso que melhor se enquadrava no meu desejo.
Estudei muito, fui uma das melhores alunas do meu curso. Mas a verdade é que desde muito cedo começou a crescer uma certa decepção cá dentro, porque estudava coisas que, no meu entender, eram contraditórias e não faziam total sentido. Mas claro que, como menina perfeita que queria ser, achava que era eu que não estava a ver bem as coisas e não estava a ter capacidade de perceber alguma coisa, que não sabia o que era.
Apenas sabia que não conseguia perceber coisas simples como, por exemplo, porque é que o tratamento para uma gastroenterite passava pela toma de medicamentos que inibem a contração muscular do trato gastrointestinal, quando é através dela que os vómitos e a diarreia acontecem para que o corpo liberte o agente infeccioso.
Estudei e conheci a fundo todos os processos e activações que acontecem no sistema imunitário quando estamos com uma febre alta, e não compreendia porque é que medicamos com um antipirético. Percebo a importância do conforto e de manter a pessoa funcional na sua vida do dia a dia, mas não entendia então de que forma é que o corpo se vai libertar do agente infeccioso que está a debelar com aquela febre.
Quando passei a exercer, e passei a estar ao balcão de uma farmácia, vi dia após dia, ouvi história após história, e fiquei mesmo certa que não me estava a conseguir enquadrar naquilo que era esperado. Não conseguia lidar com a realidade da quantidade de medicamentos que cada pessoa tomava de forma crónica durante anos.
Segui na área da saúde, mas mais na vertente de gestão. Emigrei pela segunda vez, agora para Angola, onde exerci a minha carreira de sonho. Em 5 anos tinha criado de raiz 3 empresas, tinha mais de 100 pessoas à minha responsabilidade, era muitíssimo feliz e preenchida em todos os campos da minha vida.
Ao ser mãe – e passar pela experiência de gerar um ser dentro de mim – tornou impossível continuar a viver com este conflito interno.
Por coincidência, nos primeiros meses da minha gravidez fiz uma formação maravilhosa em Coaching e PNL, e foi aí, pela primeira vez, que consegui perceber a importância do que sentimos e pensamos. Foi aí que percebi como realmente eram possíveis aquelas histórias que ouvia ao balcão da farmácia, de pessoas que diziam que desde que perderam o marido o cancro apareceu, desde que sofreram um grande susto nunca mais conseguiram libertar-se de ansiedade.
Foi ficando cada vez mais gritante dentro de mim que somos muito além de um corpo físico, e que uma medicina que apenas considera o corpo é muito limitativa e redutora.
Depois do nascimento do meu filho, foi clara a necessidade de me demitir e parar por completo a minha actividade. Precisei de um grande momento de silêncio na minha vida, porque eu estava completamente perdida, a minha vida profissional tinha perdido sentido para mim. Era claro que eu não queria continuar a dedicar a minha vida a algo que não me fazia total sentido. À volta, as pessoas não me compreenderam, mas o apoio das pessoas mais próximas foi incondicional, e mesmo sem saberem o que ia acontecer, apoiaram-me e suportaram-me para que conseguisse viver o silêncio necessário que me permitiu encontrar a próxima etapa da minha vida.
Nesse silêncio, vivi uma grande busca sobre, afinal, o que é, quem eu sou, o que somos. E houve um grande aflorar da minha capacidade de ouvir a minha voz interior e começar a seguir o meu coração. Aí começaram a acontecer um conjunto de sincronicidades, acontecimentos em cadeia que me levaram a contactar com uma nova forma de ver a homeopatia.
Nesse momento, senti uma força enorme dentro de mim. Finalmente, o meu coração soube que tinha encontrado aquilo a que iria dedicar os próximos tempos da minha vida. Finalmente, tinha encontrado uma medicina em que todas as questões que tinha estavam respondidas, uma nova visão de ver a saúde onde tudo encaixava. Mais incrível ainda era ver relatos de patologias que tinha estudado como sendo incuráveis a desaparecerem, doenças que requeriam cirurgia, a serem redimidas.
Seguiu-se um período de muito estudo, estava mesmo viciada em todo o conhecimento que estava a consumir.
À medida que iniciei a minha prática, passei eu a testemunhar esses casos ditos “impossíveis”.
O primeiro aconteceu logo enquanto ainda estudava, quando uma grande amiga me disse que, aos 42 anos, ia ser operada para remoção de útero e ovários porque estava com endometriose e não conseguia continuar a sofrer assim. Nessa altura, ainda a medo, propus-lhe que me deixasse experimentar ajudá-la. Passados 3 meses, as queixas menstruais tinham desaparecido e, passado 1 ano, quando regressou ao ginecologista, os endometriomas deixaram de estar presentes.
Seguiram-se vários casos surpreendentes. Gosto de dar o exemplo dos cálculos renais: o meu primeiro caso foi de uma paciente que deu entrada no hospital com um quadro agudo, foi medicada e regressou. Já era minha paciente e logo me ligou a contar o que tinha acontecido. Mediquei-a com medicamento homeopático, e no dia seguinte disse-me que tinha “cabelos” na urina, pareciam fios muito finos que estavam a sair. Quando regressou, passados 15 dias, ao médico para fazer o acompanhamento, o médico disse que, se não tivesse os exames da urgência, nunca acreditaria que há 15 dias aquela paciente tinha tido aquelas pedras todas nos rins.
Um dos aspectos que mais me fascinou na Homeopatia é a ligação que existe em todo o processo de estudo entre sintomas físicos, emocionais e mentais. Ou seja, o foco não é só o que acontece no corpo físico, mas também como está o corpo emocional e mental.
A Homeopatia é uma medicina que nasceu no século XIX com Samuel Hahnemann, um médico alemão que tinha uma inteligência muito acima da média, ao ponto de falar fluentemente 8 línguas e dedicar grande parte da sua carreira à tradução de obras de medicina. Cedo na sua vida deixou de exercer medicina, pelo que via acontecer como reações adversas do uso de medicamentos na época, ficando exclusivamente pelas traduções. Com isso, acedeu a muito conteúdo que lhe permitiu formular hipóteses e começar a fazer experiências com tudo o que tinha à disposição no laboratório da farmácia do seu sogro.
O sucesso foi tão grande que vinham pessoas de todo o mundo para estudar com o Dr. Samuel Hahenmann. Criaram-se vários hospitais exclusivamente homeopáticos pelo mundo, como em Boston, Londres, Glasgow e Bristol, que com o tempo foram sendo convertidos em hospitais de medicina alopática.
É uma medicina muito utilizada em países mais pobres, como a Índia e o Brasil, pelos baixos custos que tem. Foi incluída há poucos anos no sistema de saúde suíço, que sabemos ser um dos mais exigentes do mundo, onde foram feitos vários estudos de relação custo-benefício para sustentar esta integração. Faz parte do sistema nacional de saúde na Noruega, Suécia e Finlândia.
Foi aí que descobriu que os sintomas que a toma de uma substância causa num corpo saudável são os mesmos sintomas que consegue curar numa pessoa doente. Esta é a premissa base da homeopatia, que é oposta à premissa base da alopatia. Em alopatia, damos um medicamento que vai contrariar aquilo que o corpo está a manifestar, por exemplo, na febre, damos um ANTI-pirético, na depressão um ANTI-depressivo, na gastroenterite um ANTI-espasmódico. Enquanto que, em homeopatia, damos um medicamento cuja natureza é desenvolver os mesmos sintomas que a doença está a manifestar. Mas então, como é que é possível curar se estamos a dar mais do “mesmo”? Porque estamos a fazê-lo não na sua forma física, mas na sua forma energética.
Os medicamentos homeopáticos são sempre de origem animal, vegetal ou mineral, onde os princípios activos são diluídos muitas e muitas vezes, em diluições de 1:10 ou 1:100, por 30, 200, 1000, 10.000 vezes. Este processo tem que seguir um conjunto de procedimentos rigorosos para termos medicamentos eficazes. Com tanta diluição acontecem duas coisas: deixamos de ter princípio ativo em quantidades que os equipamentos que temos à disposição nos dias de hoje conseguem detetar e obtemos formulações altamente seguras, onde apenas observamos efeito no paciente quando há ressonância entre o medicamento e o paciente.
Em maio de 2024, foi finalmente publicado um artigo numa revista científica onde se conseguiram encontrar nanopartículas nas preparações homeopáticas. Verificou-se também que as moléculas de água e as nanopartículas do medicamento formam clusters com diferentes formas, dependendo das diluições usadas. Aos poucos, a ciência está finalmente a conseguir perceber que algo, ainda não totalmente entendido, acontece em homeopatia.
Muitas vezes ouvimos dizer que homeopatia é só água. Existem quatro aspetos que demonstram de forma clara que essa afirmação não é verdadeira:
As consultas de homeopatia são conversas entre paciente e homeopata em que toda a pergunta que é colocada, quer sobre a vida do paciente, assuntos que o preocupam, sua historia clinica, sintomas que o encomenda visam sempre encontrar os sintomas que fazer match com o medicamentos que o paciente precisa neste momento para ultrapassar o desequilíbrio.
O tratamento é feito de forma geral com um medicamento de cada vez, que actua no quadro total do paciente. À medida que os sintomas vão mudando vamos encontrado novas camadas de sintomas que nos permitem seguir com tratamento usando outros medicamentos. Sa medicações não são feitas de forma crónica, as repetições são feitas por dias, ou semanas. Uma vez que o foco aqui é colocar o sistema imunitário a “trabalhar” corretamente.
Doenças mais profundas requerem um maior numero de sequências de medicamentos, ou seja são processos mais longos.
Assistimos a um momento em que as doenças mentais crescem exponencialmente, e, mais do que nunca, precisamos de incluir a nossa multidimensionalidade na medicina.
Desejo muito que chegue o dia em que a medicina homeopática possa existir e fazer parte dos nossos hospitais.
Literatura complementar:
Artigos científicos de casos tratados com homeopatia: