A moda (ainda) não pode ser sustentável

A moda (ainda) não pode ser sustentável

Leia este artigo em: 3 mins
31.08.2022

Uma das perguntas que mais ouço é: “Pode algum dia a moda ser sustentável?” – e a resposta que me ocorre de imediato é “não”. 

Se é verdade que a resposta pode variar consoante o que considerarmos “ser sustentável”, também é verdade que tudo o que requer extração e utilização de recursos naturais, produção e consumo, dificilmente será 100% sustentável.

E apesar de toda a inovação e tecnologia no setor, temos ainda um longo caminho a percorrer na transição para um paradigma de crescimento mais sustentável, regenerativo, enfim, mais alinhado com o bem-estar futuro da humanidade. 

Ainda assim, existem marcas que se destacam pela forma responsável com que abordam todos os fluxos na cadeia de valor, ora minimizando os impactes negativos das suas operações, ora compensando-os ou, mais importante ainda, na forma como desenham os modelos de negócios para dar resposta a problemas gerados pela indústria da moda e assim gerar impacto positivo, numa lógica regenerativa. Não posso deixar de referir como boa prática a Vintage for a Cause, marca que oferece roupa de qualidade a preços justos com o propósito de reduzir o stock da forma mais equitativa possível e criar oportunidades de empregabilidade. A par do binómio preço justo-qualidade, a marca destaca-se pela variedade de designs upcycled,  fruto das diferentes colaborações que vai fazendo. 

Tendo esta introdução como ponto de partida, e sem nunca esquecer que os produtos mais sustentáveis que existem são aqueles que já moram lá em casa, partilho convosco algumas referências nacionais e internacionais com boas práticas na indústria da moda:

  1. Isto. Apesar de ter roupa para mulher, destacaria esta marca de básicos de alta qualidade como uma opção para homem. Design atrativo, feito de forma responsável em Portugal, com 100% materiais orgânicos e transparência na comunicação são 2 pontos fortes da marca. 
  2. Armedangels – marca alemã a “ignorar a moda desde 2007”. Para além de usar materiais de baixo impacto, foi pioneira no investimento em inovação e na reciclagem de roupa pós-consumo. Destaca-se pela comunicação ativista e contínuas campanhas de sensibilização.
  3. Play Up – moda infantil, feita em Portugal, no seio dum negócio familiar, privilegiando design colaborativo, materiais orgânicos e circularidade. 
  4. Ecoalf– marca espanhola conhecida pelo slogan “There’s no Planet B” destaca-se pelos tecidos de propriedades técnicas, feitos a partir de garrafas de plástico, restos de redes de pesca e nylon, pneus usados e borras de café, além lã e algodão pós-industriais. A marca oferece uma variedade de produtos, homem, mulher e criança, calçado e acessórios.
  5. NAZ – a marca de slow fashion portuguesa que acredita em moda democrática, que utiliza maioritariamente excedentes e matéria-prima reciclada.
  6. SKFK Ethical Fashion– marca do país basco fundada em 1999 pioneira na introdução de materiais sustentáveis, que tem vários projetos paralelos de aluguer de roupa, upcycling e desenvolvimento comunitário espalhados pelo mundo. 

O que todas estas marcas têm em comum?

Associam qualidade a  design apelativo, garantindo uma escala já significativa, com forte sentido de missão que se espelha na forma como comunicam. 

Helena Antónia

Advogada de formação, a Helena mudou de rumo e advoga, desde 2013, pelo upcycling e pela inclusão social através da “Vintage for a Cause”: uma marca que é também uma causa, com a missão da redução do desperdício têxtil, em paralelo com a promoção do envelhecimento ativo de mulheres acima dos 50 anos.

Pós-graduada em Empreendedorismo e Inovação Social, a Helena é ainda líder do “Circular Economy Club”, no Porto, voluntária da “Fashion Revolution Portugal” e co-fundadora da “Between Parallels”.

Encara a sua jornada enquanto empreendedora de impacto como um processo de desenvolvimento pessoal, que partilha sempre que possível em seminários, palestras e em mentorias.

O seu trabalho foi reconhecido pela Fundação Yves Rocher, em 2020, e pela Revista Ativa Mulheres Inspiradoras na categoria de Sustentabilidade, em 2021, ano em que integrou a lista das TOP100 Women in Social Enterprise da Rede Euclid, da Comissão Europeia.