O que eu como é simples e não tem rótulos

O que eu como é simples e não tem rótulos

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18.08.2022

Sou um ser humano como tantos outros que está aqui de passagem e se permite a viver experiências e a sentir o impacto que as mesmas provocam no seu corpo: físico, mental, emocional e espiritual. Por essa razão, não gosto de rótulos. Sou uma mulher com um profundo respeito pelos alimentos e que acredita que tudo o que somos e sentimos está na base do que escolhemos comer.

“Quando é que começaste a ter uma alimentação mais saudável?”, perguntam-me muitas vezes.
E a minha resposta é simples: desde que estava na barriga da minha mãe.

Não duvidem que nós somos aquilo que comemos. E aquilo que comemos e a forma como o fazemos é determinado na nossa infância. É claro que as experiências que vamos tendo ao longo dos anos também nos transformam, mas o papel dos que nos cuidam, quando ainda não temos autonomia nem consciência para escolher o certo e o errado, é crucial.

Sempre me ensinaram a comer de tudo um pouco – carne, peixe, ovos, legumes e frutas. Mas a grande diferença está na qualidade da matéria-prima que vais escolher e na forma como vais cozinhar.

Quando digo muitas vezes que gosto de comer “limpinho”, esta expressão herdei-a da minha mãe. Sempre apreciei a forma simples como ela preparava as refeições.

O peixe ou era ao sal, cozido ou grelhado. Os legumes sempre foram escaldados: cozinhados o tempo suficiente para dar vida à sua cor e textura, sem nunca perder os nutrientes. As galinhas felizes do quintal da minha avó Ester, davam ovos felizes. E eram esses ovos  que faziam as delícias de alguns dos meus pratos preferidos: omelete com cebola e bacalhau à Brás.

Estes são apenas alguns exemplos, de entre dezenas deles, que tornaram o meu paladar fiel àquilo que é a comida de verdade: alimentos preparados da maneira mais natural possível, porque só assim os sabores, aromas e sobretudo nutrientes são preservados.

Mas vamos um bocadinho mais longe. Uma coisa que a vida me tem ensinado é que não há nada mais transformador do que termos uma atenção plena a tudo o que escolhemos e fazemos. Ter e ganhar mais consciência sobre os passos que damos é o melhor meio para evoluirmos e chegarmos ao nosso conceito de vida feliz.

Tão importante como comermos alimentos naturais, é entendermos que eles para estarem no seu maior potencial – para depois nos nutrirem – precisam de tempo e espaço. E é nesse momento que nos cabe a nós dar-lhes esse tempo para eles maturarem. E não faz mal termos saudades de os comer… porque, depois, quando eles estiverem no nosso prato, vamos valorizar e saborear ainda mais, ao ponto de querermos comer devagar para “nunca mais acabar”.

Comer local e sazonal é respeitarmos o ciclo da natureza. E se tivermos sempre atenção plena ao que comemos – enquanto comemos –  e do que estamos a sentir, não tenham dúvidas que, naturalmente, vamos querer comer determinadas coisas precisamente na altura que essas frutas e legumes estão a “dar fruto”.

Posso dar-vos o meu exemplo:

Agosto é verão. Está calor e o nosso corpo desidrata com mais facilidade. Nesta altura o meu corpo não me pede pratos de aconchego, mas sim frutas e legumes que tenham muita água, como é o caso do pepino, do tomate, da courgette, da melancia e melão entre outros. O corpo fala connosco… às vezes nós é que não estamos à escuta.

A comida de verdade desperta em nós as nossas melhores emoções. E nos nossos momentos mais desafiantes ela tem a capacidade de nos dar centro e foco nas tomadas de decisões. E se a comida tem esse fantástico poder de despertar as melhores emoções dentro de nós, porque não começarmos a dar-lhe cada vez mais importância?!

Comer é sem duvida um dos melhores prazeres da vida, mas o seu propósito vai muito mais além desse dito prazer, que é fugaz.

A comida serve também para nutrir, proteger e energizar.

Se bebemos café porque sentimos que nos falta energia, se bebemos uma infusão de camomila porque nos sentimos mais calmos ou até mesmo se comemos uma ostra porque acreditamos que ela é afrodisíaca, porque não estender essa associação de alimentos a estados de alma, a todos os outros?

O que faço no meu dia a dia é aplicar a regra do equilíbrio. Aquilo que tenho na minha despensa e frigorifico é o que me define, o que me nutre e inspira. E é por isso que é tão fácil e intuitivo ser consistente nessa prática: por me sentir bem, sentir que como e estou com o aconchego certo para correr, pensar, criar e relativizar. E o que valorizo é tão simples e fácil de conjugar que, numa sociedade onde tudo já aparece feito à distância de um clique, para muitos pode parecer uma carga de trabalhos e até um pouco esquisito.

Vejam abaixo os meus essenciais na cozinha e despensa.

DESPENSA

Cereais: cereais integrais são sempre as melhores opções pela quantidade de fibra que nos podem dar. E por norma tenho sempre duas variedades de cada vez. Valorizo o arroz, o millet, aveia, o trigo sarraceno, a cevada e a quinoa.

Leguminosas: feijões de todas as variedades – azuki, mungo, carolino, frade – são apenas alguns exemplos; lentilhas, ervilhas, grão de bico.

Sementes: girassol, abóbora, linhaça, chia são as minhas preferidas.

Frutos Secos: amêndoas, cajus e nozes;

Algas: a Kombu está sempre presente porque é com ela que cozo todos os meus cereais e leguminosas para tornar as fibras mais digeríveis.

Azeite

Raizes: curcuma e gengibre

FRIGORÍFICO

Legumes e Frutas: tudo o que como ou vem da minha horta, ou da mercearia Alecrim aos Molhos ao pé de casa ou da Quinta do Arneiro. Há anos que recebo em casa, todas as quartas feiras, os cabazes da quinta e desde há muito que deixei de personalizar o cabaz. Permito-me a receber os vegetais e frutas da semana e a partir daí preparo as minhas refeições.

Ovos: desde que sejam de galinhas felizes.

Sopa: o meu sustento para qualquer altura de aperto. Se estou esganada de fome e preciso de um aconchego, uma sopa cremosa acalma-me e dá-me mais clareza para saber escolher o que quero comer a seguir.

Tofu e Tempeh: dois derivados da soja que como regularmente nas minhas refeições. Gosto de os cozinhar salteados ou grelhados.

Miso: é feito a partir da fermentação da soja. Uma pasta que uso quer para fazer sopas ou chá. Uma dádiva dos deuses super rico em nutrientes e por ser um alimento vivo, contem bactérias e fermentos vivos que só vão beneficiar o nosso intestino.

Couves fermentadas: posso fazer em casa ou comprar. Gosto particularmente de fazer fermentados com couve coração e lombardo. Coloco uma pequena percentagem nos meus pratos porque, para além de adorar o sabor meio “avinagrado” é mais uma forma de consumir probióticos (bactérias boas) que reforçam o nosso sistema imunitário.

O QUE NÃO QUERO TER EM CASA

Tudo o que sei que comendo com regularidade me vai tirar energia e colocar-me em ciclo vicioso. Os prazeres nunca podem tornar-se vícios e como tal, nunca podem ter o direito de nos controlar.

Se quero comer um gelado, faço-o a partir das frutas congeladas que tenho em casa; se tenho desejo de umas bolachas, faço umas mini panquecas de banana, se quero comer chocolate, opto apenas por ter em casa cacau 100% e se quero deliciar-me com uma sobremesa ou prato mais festivo, então escolho um dos meus restaurantes favoritos para me “perder” numa refeição mais especial. Vou lá, desfruto a 100%, mas depois volto para casa e retomo à minha normalidade.

E vejo tudo isto não como uma prisão, mas sim como uma valorização de tudo o que estou a comer. Aprender e educar o nosso paladar aos sabores “da terra” é elevar o nosso prazer ao potencial máximo. Acreditem.

COMO MONTO O MEU PRATO

Deixo-vos abaixo um desenho que representa não só os meus pratos mas, mais importante, a minha visão dos alimentos no meu corpo. Gosto de olhar para eles de uma forma funcional. O sabor nem se coloca em causa. Mas saber que aliado a isso eu estou a dar-me um shot de nutrientes, dá-me um enorme prazer e sinto-me verdadeiramente orgulhosa das minhas escolhas. Simplesmente porque estou a colocar-me em primeiro lugar. A cuidar de mim.

CONCLUSÃO

Esta é a minha verdade. Acredito que tudo o que comemos tem um impacto “cá dentro”, na forma como nos relacionamos com os outros e no nosso planeta.

A minha ideia é ir aprendendo e acertando o meu caminho de acordo com as experiências que vou tendo, sem nunca deixar de escutar aquilo que o corpo está a pedir.

Se me sinto sem energia e mais irritada, se me sinto com vitalidade e criativa, se estou apática e profundamente triste, tudo isto também gira à volta de um prato.

Se de certa forma esta mensagem vos faz sentido e se vos despertou para alguma mudança, então experimentem durante 10 dias comerem com estes pressupostos. Não contem calorias nem quantidades.

Comam devagar, mastiguem bem os alimentos e desfrutem da riqueza do alimento que estão a comer. Digam não aos açúcares refinados, aos processados e aos rótulos com nomes esquisitos e comam apenas… simples. Apostem nos pratos coloridos e não tenham medo de comer cereais e leguminosas. Hidratos de carbono são sinónimo de energia. E sem energia, o nosso motor físico, mental, emocional e espiritual não segue jornada.

Comam com verdade e consciência. Pelo bem da nossa saúde.

Se quiserem saber mais sobre este tema que tanto me inspira e fascina leiam o meu livro e sigam as minhas receitas.

Isabel Silva

A Isabel Silva nasceu a 8 de maio de 1986 e é natural de Santa Maria de Lamas. Licenciou-se em Ciências da Comunicação, pela Universidade Nova de Lisboa, e fez uma pós-graduação em Cinema e Televisão pela Universidade Católica. Fez um curso de Rádio e Televisão no Cenjor e foi o seu trabalho como jornalista e produtora de conteúdos na Panavídeo que a levou para a televisão, em 2011. Durante 10 anos apresentou programas de entretenimento e, de forma intuitiva e natural, percebeu que aquilo que a move é a criação de conteúdos que inspirem, motivem e levem os outros a agir. Tem uma paixão enorme por comunicar e tudo o que comunica está intimamente ligado a uma vida natural carregada de energia, alegria e simplicidade.

É autora dos livros “O Meu Plano do Bem”, “A Comida que me Faz Brilhar”, “Eu sei como ser Feliz” e da coleção de livros infantis “Vamos fazer o Bem”.

Descobriu a paixão pela corrida em 2015, em particular pela distância da Maratona – 42.195m. Tem o desejo de completar a “World Marathon Majors” que inclui as 6 maiores Maratonas do Mundo. Já correu Londres, Boston, Nova Iorque e Berlim.

A 14 de Dezembro de 2016 lançou o blogue Iam Isabel e que hoje, numa versão mais madura, mas igualmente alegre e enérgica, é o canal DoBem.