Não quero preparar-me sozinha para uma Maratona

Não quero preparar-me sozinha para uma Maratona

Preparar-me SOZINHA para uma Maratona? NUNCA. Explico-vos porquê no seguimento do meu treino longo mais desafiante, a caminho de Sevilha.
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04.01.2017

…Principalmente nos treinos longos

Foi no dia 29 de Dezembro de 2016, quinta-feira, às 9h30 da manhã no café à beira da minha casa, antes de rumar até Sintra para correr 12 Km, que um homem veio ao meu encontro para falar comigo sobre… Corridas!! Diz ele, lá pelo meio da nossa conversa: “adorava fazer uma Maratona mas não sou capaz. Um dia fui correr 17 km sozinho e pensei – o que é que eu estou aqui a fazer? A correr para chegar onde?”.

Eu na realidade compreendo-o perfeitamente. Preparar-me SOZINHA para uma Maratona, NUNCA NA VIDA. Explico-vos porquê no seguimento do meu treino longo mais desafiante, a caminho da Maratona de Sevilha.

Importante considerar….

Vamos lá ver, eu gosto de companhia na corrida, não porque vá a “pôr a conversa em dia”, até porque descontrola a minha respiração, mas porque gosto de saber que alguém está comigo a fazer o mesmo treino que eu. E se formos a um ritmo semelhante, melhor ainda. É saberes que tens ali um camarada que também vive esta experiência com a mesma emoção que tu. Por vezes acontece perder algum colega de vista por termos ritmos diferentes, mas não interessa: começamos juntos e vamos terminar juntos também. E no final sabemos que há um mergulho no mar, uma marmita pós-treino e um diálogo acerca do mesmo e, por conseguinte, uma reflexão sobre o que correu bem e mal e o que poderá correr melhor nas próximas corridas. Mais… “Ondékeuboooouuuuu” almoçar depois de um treino longo? Este último ponto assume a máxima importância na minha vida, tal é o apetite descomunal que eu tenho. Sou capaz de comer o Mundo.

Bom… É um facto que não conseguimos treinar sempre todos nos mesmos dias e às mesmas horas mas, antes da preparação para uma maratona, assumimos um compromisso: os treinos longos têm de ser sempre ao fim de semana e de manhã bem cedo para treinarmos todos juntos. Só assim faz sentido para mim – os desafios devem ser partilhados. E acreditem: quando corremos juntos, ninguém desiste!! O que seria…

Na véspera já estou focada no treino

Dia 30 à noite tinha o jantar de aniversário de uma das minhas melhores amigas. Fez 30 anos e o jantar era as 21h30 num restaurante de Petiscos.

Tinha longo no dia seguinte às 8h30. Ora, a minha cabeça pensa assim – “para começar a correr as 8h30 tenho de acordar as 6h00 da manhã porque as 6h30 tenho obrigatoriamente de tomar o pequeno almoço para depois dar tempo de ir à casa de banho e iniciar o treino sem nada no intestino. Preciso de dormir, 7 horas, logo tenho de me deitar as 23h00. O que comer? O melhor, nestas vésperas, é sempre ser eu a cozinhar, assim já sei o que estou a comer. Bom, perante isto não posso ir ao jantar”. Não há frieza neste pensamento. Há apenas um compromisso com uma prova que eu desejo fazer e que tem uma importância considerável na minha vida (por esta razão, faço apenas uma Maratona por ano, com este foco). Não posso nunca falhar os treinos longos e para além do mais, o Rui Geraldes, o Pereira de Ascensão, o João e o Duarte estavam a contar comigo às 8h30 para os lados de Sacavém.

31 de Dezembro. 8h30 da manhã.

35Km – de Sacavém à Praia de Carcavelos. Que pena os meus Insta Stories já não existirem. Foram apagados, depois de 24 horas disponíveis, e eu esqueci-me de guardar. Nesses vídeos percebia-se muito bem o frio que estava.

Muita calma nessa hora!!! Eu só começo a correr depois do nosso café e do nosso diálogo de 10 minutos a definir a estratégia. Há que aliviar a tensão e soltar umas gargalhadas. O Pereira de Ascensão e o Duarte, como são os estreantes nesta preparação, estavam mais ansiosos. A juntar ao meu entusiasmo, tinha tudo para dar certo.

A minha estratégia

A minha ideia era simples: começar a 4h35/4h40 e nos últimos 10 Km se estivesse bem, alterava o ritmo para 4:15/4:20 min/km. Esta era a minha ideia. O Rui não estava certo se conseguia acompanhar o meu ritmo. Mas eu já tinha decidido (e não lhe disse nada) que ia com ele, neste que era o treino mais importante para a Maratona de Sevilha. E assim foi.

Tudo estava muito bem organizado – logo a seguir ao Lux, lá estavam 2 colegas nossos com águas, assim como no Padrão dos Descobrimentos. A chegar a Caxias também tínhamos águas à nossa espera. Faz toda a diferença a hidratação em treinos como estes. Tenho a certeza que sem estes abastecimentos, nunca terminaria com uma média de ritmo 4:33 min/km. E já que estamos a falar de hidratação, acrescento o gel que tomei ao km 14 e ao km 26. E nunca deixo que o meu corpo me peça o gel. Se acuso cansaço ao km 17 e se, por sua vez, só sinto o efeito do gel 15 minutos depois de o ter tomado, então, nesse caso, tomo o gel mais cedo (desculpem este desvio de pensamento, mas achei por bem escrever já para não me esquecer mais à frente).

Felizmente, sou bastante racional e ponderada em treinos longos. Arrisco, mas sempre de forma segura. Se quero terminar em grande, não me entusiasmo no início. E assim foi. Estava pouco vento, uma temperatura amena e um espírito super alegre, não fosse também esta a última corrida do ano. Apesar de juntos, vim sempre mais colada com o Rui. Ele lá ia ele a curtir a sua música com rasgos de entusiasmo lá pelo meio do treino. E eu, sempre focada a desfrutar da paisagem (corro, até à data, sem música. É uma hábito. Gosto de ter a perceção de tudo o que se passa à minha volta. Um dia experimento correr com música). Correu tudo conforme combinado por sermos os dois bastante ponderados, acho. Lembro-me de falarmos ao km 27: “Estás bem Rui?” – pergunto-lhe. “Estou bem Chica. Estou a guardar-me para a subida do Alto da Boa Viagem”.

Pois, até eu. Aquela subida depois de tanto km ia ser um desafio. Mas foi superado. De tal forma que, nos últimos 10 km fomos gradualmente aumentando velocidade até chegarmos, finalmente, à praia de Carcavelos. Estava sol, gente na água e a esplanada cheia. Fiz o último km a 4:10 min/km tal era a ânsia de chegar e dar um mergulho no mar. Gritaram pelo meu nome a 2 km do fim e acho que isso também me deu um “boost” de energia.

Cheguei à areia. Descalcei as sapatilhas. Splash!!!!! Água ao mais alto nível com direito a crioterapia.

Uau! Estava tão bem!!

O Pereira de Ascensão chegou 2 minutos depois de mim e, mal me viu disse – “Obrigado Bélinha. Só consegui este ritmo porque não corri sozinho”. Reparem, este sentimento é algo que eu partilho todas a vezes que corro com o João Catalão e com o Rui Geraldes. Neste dia, fui eu a lebre e também foi graças a ele que eu nunca quebrei. Estamos juntos nisto. Ninguém disse que era fácil. E há momentos que custa. Mas eles passam, sabem… E rapidamente chegas a essa conclusão quando concluis o teu compromisso para aquele dia. Não quero com isto dizer-vos que não conseguiria correr 35 Km sozinha. Na realidade isso seria possível. Mas, se eu não tiro prazer com isso, porquê estar a fazê-lo? Não quero ser escrava da corrida. Quero amá-la e admirá-la todos os dias da minha vida. Por isso, vamos lá lidar com ela ao jeito da minha personalidade.

Depois do treino, alongamos e marmitamos na praia. Durante uma hora… Não fosse o frio, mais tempo ali ficávamos. Fomos felizes para casa. No nosso grupo do Whatsapp já estamos a combinar o local e hora do próximo longo de fim-de-semana. Ehehehehe.

NOTA: Se gostaram do que leram, comentem e digam se querem mais partilhas como estas. Dêem as vossas sugestões. Assim posso ir ao encontro das vossas vontades/desejos/curiosidades.

Que venha a próxima maratona!