A Meia Maratona de São João das Lampas

A Meia Maratona de São João das Lampas

Verdade verdadinha. E eu sei. Não apenas porque me avisaram — mas porque eu estive lá e corri os 21 Km daquela que é, de todas as que já fiz, a Meia Maratona mais difícil de sempre. 
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20.09.2017

“A Meia Maratona de São João das Lampas são só rampas… Tudo sobe e desce. Difícil manter um ritmo constante. E reza para não estar vento… Então aí é que vai doer.”

Eu confesso que estes comentários antes de fazeres a prova não deixam de “assustar”, ou melhor, não deixam de “impor respeito”, mas por outro lado ainda me dá mais ganas de ir lá desafiar o meu corpo e terminar do jeito que eu tanto adoro – espalhar uns pózinhos de alegria e excitação. Para isso, tens de treinar. Sim, porque eu estava em boa forma. Eu estava preparada para aquele “sobe e desce”. Eu tive prazer a correr. Mas não deixei de sofrer. E custou muito. E não tenhas dúvidas, se queres fazer uma “boa marca” e desafiar o teu corpo, tens de sofrer!!!
Maaaaassss…. Se treinares bem, com qualidade, sofres muuuuito menos. É a chamada dor prazerosa – e tu aprendes a gostar dela… De tal maneira que depois, não vives sem ela.

Porquê a Meia Maratona de São João das Lampas?

Diz o João Catalão – “tu vais gostar desta prova. É tudo sobe e desce, tens apoio nas ruas e é só gente acolhedora”. Fiquei logo numa excitação. Já conhecia a fama da prova, e depois deste comentário, no final de um dos nosso treinos (com mergulho no mar), a marmitar as nossas barras, frutas e proteínas, criou-se o cenário ideal para, sem pensar duas vezes, tratarmos logo dos dorsais. Não tinha ainda nenhuma prova definida, (vá… Para além da EDP Maratona do Porto que vou correr a 5 de Novembro convosco, certo?!) por isso… Arraancaaaaa!!!!!

 

A minha preparação!!

Bom… A verdade é esta – eu não gosto de estar parada. Tenho este vício no corpo, minha gente. E sempre fui assim. E só assim me sinto bem. Mesmo depois da Maratona de Sevilha, respeitando os tempos de descanso e as intensidades do treino, eu nunca parei. Correr, saltar, suar, faz parte de mim. Esta “cena” das endorfinas desperta o melhor que há em mim – a minha alegria, sentido de humor e o “descomplicar” de situações do dia-a-dia. E desculpem este aparte, mas é por conhecer bem esta sensação tão prazerosa, que me vou abaixo quando não estou a 100% – como por exemplo, agora (dia 18 de setembro de 2017) que tenho um entorse no pé e não posso correr… Por tempo indeterminado. Ai… Eu sei que tenho de ser positiva e sei que qualquer atleta passa por momentos assim, mas eu ainda estou no momento da tristeza (mas já a passar para o nível da reação/ação) e também tenho de o viver, certo? Não posso evitar este sentimento que me invade a alma.

Só para perceberem… Eu sinto que tenho um TOURO dentro de mim e preciso de o soltar. Sinto que agora, por exemplo, estava capaz de correr 25 km no Guincho a ritmo progressivo (a terminar a 4:20min/km), dar um mergulho no mar e… Ainda fazia trabalho de CORE!!! Eheheheheh!! Perdoem este desabafo… Mas a pessoa sente, a pessoa partilha!!

Imaginem… Uma semana depois desta Meia Maratona, eu vou para a festa dos anos 90 e a dançar a música dos Vengaboys, dou um salto e, ao pousar o pé no chão dou o tal mau jeito e… Pumbas!!! Como disse, o entorse não é dos mais graves, mas Carambaaaa!!!!! Andava numa fase tão motivada e a treinar tão bem e isto tinha de acontecer?! É nestes momentos que também tenho de ter espírito de atleta, certo?! Do género… Aguentar não treinar, cuidar da lesão e descomplicar. Bem sei que há problemas maiores, mas nós também vivemos os nossos consoante todos aqueles que temos. E eu quero muito correr com alegria a minha Maratona do Porto!! Ehehehehe. “Isabel, take it easy… Me poupe, me stop, me economize ” – ouvi isto numa novela há muitas anos e nunca mais e esqueci da dita expressão!!

Maltaaaa!!! Eu estou a falar da Meia Maratona! Tenho de avançar… Mais tarde desabafo sobre a minha lesão! Agora arranca!! Tudo isto para vos dizer que o treino está sempre presente na minha vida. De maneira que, treinar para as Lampas, foi relativamente simples: desta vez fui apenas com o João, então fizemos treinos de escadas, treinos em terrenos variados e algumas séries, para não perdermos velocidade. Sem nunca esquecer o trabalho de reforço muscular. No meu caso, valeu o trabalho de core no E-Fit e os treinos metabólicos com a minha PT Filipa. Lembrei-me do Luiz Santana (efit) e da Filipa sempre que subia uma rampa. “Obrigadinhos” my loves!!

Cheguei à Freguesia de São João das Lampas.

A prova era às 17h00!! Hum… Não estou nada habituada a correr tão tarde. Para além de treinar sempre de manhã, na noite anterior apresentei a Gala do Love on Top de saltos altos, ou seja, 1h30 de pé a criar retenção de líquidos. Por esse razão deitei-me tarde também. Nada a ajudar (pensava eu. Está tudo na mente pessoal). De qualquer das formas dormi pelo menos 7 horas. Despertei por volta das 10h30. Passeei o Caju, tomei um batido de aveia e banana e fui fazer o saco e arrumar a casa. Por volta das 13h00 almocei uma salada de legumes com proteína e frutos secos e guardei os cereais para 1 hora antes da prova – comi arroz e ainda mandei abaixo 2 quadrados de chocolate. Bom, deixem-me dizer-vos que eu como desta forma porque já sei como o meu corpo reage. Eu acordei sem fome e… Sem vontade de ir à casa de banho. Ora, para não acontecer a mesma história da Maratona de Sevilha, eu desta vez só comi os hidratos depois de ir à casa de banho. Comigo resulta. Mas este é o meu corpo e até chegar a esta conclusão, cometi muitas asneiras. 

Levei 2 géis. Um tomo ao Km 14 e o outro fica de reserva (para mim ou para quem precise. Agora recordo-me que na Meia Maratona dos Descobrimentos dei um gel a um corredor que estava ao meu lado. Nunca é demais)

Isto foi o que eu comi. Agora corre!! Okaaayyyy!!!! 

Esta prova tem o mesmo “mood” da prova das fogueiras. Uma freguesia super acolhedora e feliz por estar a celebrar as festas da zona. Música popular, carros de choque, algodão doce e muito entusiasmo nas ruas até porque a partida da prova era mesmo ali ao lado.

Eu adoro quando as t-shirts da prova são pensadas também na mulher. Esta é vermelha, justinha ao corpo e pensada para correr. Não usei na prova (até porque corro sempre de top – menos é sempre mais. Quanto mais leve melhor) mas fará parte da minha colecção de t-shirts com coração. 

 

Aquecimento. Tiro. Partida.

Sigaaaaaa!!!! Fico sempre com um entusiasmo descomunal. Aqueles 3 minutos antes da partida são sempre alucinantes. É como se, naquele momento, nada mais importasse – apenas correr e dar o melhor para cortar a meta. 

A minha estratégia

Mesmo sendo a primeira vez a correr esta Meia Maratona, eu tenho de ter uma ideia mental do percurso. E nisso o João ajudou-me, até porque ele já conhecia a prova. Então diz-me ele assim: 

“Vai com cautela até ao km 4. Depois de passares essa fase, aí é que se vê quem treinou para as rampas. Entre o km 4 e o km 14 vais ter muitas subidas e descidas. Mesmo aquelas que não são tão íngremes, são longas, por isso, faz bem a gestão do esforço. Quando passares o km 14 vês como te sentes. Se estiveres bem, então lembra-te que o pior já passou”.

E o João também fala assim, no meu caso, porque ele sabe bem aquilo que treinamos e a forma como o fizemos. Na realidade, mesmo depois do km 14 eu continuei a achar a prova difícil, com subidas e descidas. Mas aqui nesta fase conta muito o foco, a concentração e a vontade de não quebrar. Valeram os fotógrafos que ao longo da prova apontavam a máquina para mim e para todos os outros corredores. Confesso que, no meu caso, é altamente estimulante – sorrio sempre e por momentos esqueço o cansaço.

Tive a sorte e, claro está, mérito também, de ter uma equipa de reportagem quase sempre a acompanhar o meu percurso (podem ver a reportagem completa aqui e aqui). Comecei de forma confortável e, no final da primeira grande subida (no km 4, lá está) ultrapassei a 2ª classificada. E a partir daí, o operador de câmara veio quase sempre comigo. E isso também ajudou a não quebrar: “Agora é que eu não vou vacilar”. Mas também devo confessar-vos e admitir que o melhor “gel” que tive foi, claramente, o apoio nas ruas. Sim, não deixei de escutar “Lá vai a apresentadora da TVI. Força Isabel” mas, para além dos aplausos e sorrisos, soube muito bem ouvir também “Vem aí finalmente a primeira menina. Bom ritmo” – e nesta altura, muitos não sabiam que eu era a Isabel da TVI. Não deixa de ser verdade, mas ali eu sou aquela que treina para correr com toda a “piriska”. Eu ali só quero ser uma “runner girl”. E adoro sentir que… É isso mesmo!!

Apanhei vento. Principalmente nos últimos quilómetros. E acredito que, se não fosse o gel eu podia quebrar nos últimos 5 quilómetros. Valeu também, como já disse, o trabalho de core e a postura – se há momento que deves correr de peito orgulhoso é aqui, nesta fase. Não vaciles. Ter uma boa postura facilita imenso a performance na corrida. E quando estiver a custar muito, faz como eu, “entra na bolha”, no teu mundo e vive apenas o presente. Eu nunca penso na meta – por vezes gera-me ansiedade e posso descontrolar a respiração – mas sim no momento da corrida. Tento encontrar uma música numa das gavetas da minha alma e trago-a cá para fora. E uma coisa é certa: quando dou por mim já só falta 1,5km. E aí eu penso – “Vai. É só uma série longa. Por isso, vai passar rápido. Dá tudo”

Foi assim que eu pensei nesta Meia Maratona. E à medida que me aproximava da meta só via pessoas e escutava frases de incentivo. A 100m entregaram-me uma rosa (consegui apanhá-la delicadamente e seguir em frente). 

 

Ganhei.

Eu não corro para subir ao pódio. Muito menos para ganhar. Mas caraças!!!! Cortar a meta é Incríbeeeeelll!!!!! E subir ao pódio é um orgulho enorme. Tenho tanto orgulho em mim naquele momento. Na verdade fico até a ter mais orgulho em mim por conseguir superar-me com saúde e esforço do meu suor. É muita adrenalina boa naquele momento. Mas essa adrenalina existe só pelo facto de correr. Correr é lindo. É libertador e cura tristezas. Afasta pensamentos maus. Promove o apego, o elogio e o espírito de camaradagem. E por isso dá saúde. É isto que me move. 

O jornalista Paulo Costa entrevistou-me no minuto a seguir à minha prova. Espreitem a reportagem, e aí vão entender melhor o porquê de eu gostar tanto de correr. Eu não disse tudo. Mas eu senti tudo. E quando eu sinto muito as coisas… Eu também choro muito. Se for por isto, deixem-me chorar a vida toda.

Dois pequenos grandes pormenores

Quando no final da prova tens à tua espera Águas de Monchique e Fatias de Melancia… Não há muito mais a dizer. Parabéns à organização por estes pequenos e prazerosos detalhes que fazem toda a diferença na vida do atleta.

Foi tudo tão bom, a seguir!!! O meu companheiro de corridas, Rui Geraldes, apesar de lesionado, foi lá!! Esteve lá comigo e com o João a torcer por nós. E também chorou comigo. Quando cheguei ao carro tinha uma mensagem dele no meu telemóvel às 17h30 (estava eu a correr) e dizia o seguinte: 

“BabyLove, vais ganhar. Eu sei”

Sacana!! Ehehehehe!! Comoàssim depois de tudo isto, ir para casa?! Nem pensar. Só se for para tomar banho e seguir para o restaurante. Até porque uma das melhores coisas nesta vida é conviver à mesa!! E tínhamos tanto para comer e tanto para falar que a cama só me viu chegar eram perto das 2 da manhã!!! A dor desta Meia Maratona de São João das Lampas foi tão boa que para ano, com saúde e se o trabalho deixar, estarei lá de novo, certamente.