No dia 21 de março, assinala-se o Dia Mundial da Árvore (ou Dia Internacional das Florestas), que coincide com o início da primavera no hemisfério norte. Foi criado para relembrar a importância das árvores e das florestas na saúde do planeta, assim como sensibilizar para a sua preservação.
A DoBem abordou alguns mentores, parceiros e amigos, ligados à Natureza e ao ecossistema, para melhor entendermos a nossa relação vital com as árvores — e a razão de ser urgente trazê-las à consciência coletiva.
As árvores são organismos vivos complexos, pertencentes ao grupo das plantas vasculares, capazes de atingir alturas notáveis, desenvolver copas densas e viver dezenas, centenas ou mesmo milhares de anos.
São compostas por raízes, tronco, ramos e folhas, e realizam um processo milagroso: a fotossíntese, que transforma dióxido de carbono em oxigénio e permite que toda a vida respire. Mas reduzi-las à função biológica é esquecer a sua grandeza:
🌳 As árvores comunicam entre si através das raízes e das micorrizas. 🌳 Guardam memórias ambientais e são sensíveis a alterações climáticas. 🌳 São habitat de milhares de espécies e verdadeiros ecossistemas ambulantes. 🌳 E para muitas tradições ancestrais, são espíritos vivos, pontes entre mundos, seres sagrados que conectam a matéria à consciência.
“As árvores são um exemplo de sabedoria e resiliência: simplesmente são, sem exigir nada em troca.”
“As árvores são seres inteligentes, elas comunicam entre si através da rede de fungos que interliga as suas raízes – lançam químicos que avisam outras árvores quando há animais que comem as suas folhas. Nunca podemos ver uma árvore apenas como madeira, como papel, sombra ou uma peça de mobiliário.”
Dulce Costa, mentora DoBem e Fundadora da Escola Macrobiótica Mil Grãos
“Existem árvores milenares ou centenárias que, pela sua longevidade, carregam a memória do nosso planeta – são testemunho da história da humanidade. Elas são realmente um presente divino essencial para a harmonia do planeta.”
“Tenho nostalgia arbórea. Porque vejo a paisagem a mudar a uma velocidade vertiginosa, imparável, assustadora.”
Fernanda Botelho, Autora e Herbalista
ABATE E A DESFLORESTAÇÃO: O QUE ESTÁ VERDADEIRAMENTE EM CAUSA?
Vivemos num planeta onde, todos os anos, desaparecem cerca de 10 milhões de hectares de floresta – o equivalente a 17 campos de futebol por minuto. É difícil imaginar esta escala de destruição. Tão difícil como imaginar o que estamos a perder com cada árvore derrubada. As razões?
Produção agrícola intensiva, com destaque para monoculturas como a soja e o óleo de palma.
Pecuária extensiva, responsável pela queima de florestas inteiras para criação de pasto.
Exploração de madeira.
Mineração e urbanização, que alastram em territórios outrora selvagens.
Entre outros.
A desflorestação é muito mais do que cortar árvores. É uma desorganização sistémica, um desequilíbrio profundo com consequências ecológicas, sociais e até espirituais.
“Quando vemos as árvores como algo útil para nós em particular, algo que podemos tirar proveito – está tudo bem. Mas se assim não for, não conseguimos olhar para as árvores como uma parte integrante e fundamental de um ecossistema que só é sustentável se essas árvores lá estiverem. É um ecossistema que, quando falta uma peça, deixa de funcionar. E o que nós fazemos, quando cortamos árvores saudáveis, é destruir ecossistemas inteiros.
Estamos a destruir florestas inteiras, para as árvores nos servirem. Acontece que não vamos conseguir sobreviver se não houver árvores suficientes.
Existem mais árvores no planeta Terra do que estrelas na Via Láctea. Portanto, imaginem a sua importância!
Os cortes de árvores que se faziam antigamente era sustentável. Agora, abatem-se florestas inteiras.
Para reflexão: a Terra continuará em equilíbrio se os seres humanos desaparecerem, mas não haverá equilíbrio possível se as árvores desaparecerem.”
DULCE COSTA Mentora DoBem e fundadora da escola Mil Grãos Macrobiótica
“O tema sobre o abate das árvores, da desflorestação, é uma preocupação global – uma preocupação de todos porque compromete a biodiversidade, contribui para alterações climáticas e afeta a saúde dos ecossistemas e, consequentemente, a nossa saúde. É um dos maiores desafios ambientais da atualidade. A remoção de florestas reduz a capacidade da terra de captar o carbono, leva às desertificações de algumas zonas do planeta, aumenta a frequência de eventos climáticos extremos e a perda da biodiversidade.
Para mim, a sacralidade das árvores vai além da crença espiritual – é um reconhecimento da sua importância essencial para a vida e para o equilíbrio do planeta. Preservá-las é não só um ato de respeito pela natureza, como um ato de respeito à nossa existência.“
“O que aconteceu a todas as árvores da minha infância? As minhas memórias estão agora distribuídas por vinhas onde as ervas espontâneas são queimadas por herbicidas. Antes, essas ervas que serviriam de alimento a tantos polinizadores… onde está a literacia ambiental? A lei obriga a cortar a vegetação arbustiva e arbórea num raio de 50 metros à volta das casas para proteção das mesmas. Então, porque se cortam tantas árvores adultas?”
“Fico sempre chocado e é um assunto que me é sensível. Uma pessoa com consciência sabe muito bem o que uma árvore representa, sabe que é muito mais do que uma sombra. Toda a flora é uma representação do oxigénio na Terra – é o que nos faz estar cá. Só isto justifica logo o quão contra o abate das árvores devemos ser.
Nesta fase em que estamos a passar por uma crise climática, o que temos que fazer é trazer mais árvores para a cidade e manter as que existem nos meios rurais.”
ANDRÉ MACIEL Mentor DoBem e fundador das Hortas LX
Cortar árvores é cortar futuro.
Não se trata apenas de salvar árvores. Trata-se de nos salvarmos a nós enquanto espécie. Trata-se de voltarmos a compreender que a floresta é uma extensão do nosso corpo – respira por nós, nutre-nos, protege-nos.
“O homem, movido pela ganância, corta, poda sem respeito, transforma florestas em monoculturas onde as árvores já não vivem, apenas sobrevivem. Vemos oliveiras mutiladas, sem espaço para crescerem saudáveis, tudo para facilitar a colheita, sem perceber que árvores doentes não dão frutos eternamente.
Na Quinta das Águias, fazemos o oposto. Honramos as árvores. Os nossos carvalhos centenários são guardiões da terra, e há 20 anos que os protegemos e lhes damos as melhores condições de vida. Trouxemos novas companheiras—plantámos 5.000 árvores só no primeiro ano!
Encanta-nos vê-las sob a lua cheia no inverno, os seus troncos desenhando sombras mágicas na noite. Com folhas ou sem folhas, floridas ou despidas, jovens ou marcadas pelo tempo — todas são sublimes. Não amo as árvores apenas pelo que nos dão. Amo-as pelo que são.”
Não basta plantar árvores no Dia da Árvore se no resto do ano ignoramos o seu valor. Precisamos:
Educar para a consciência ecológica desde cedo.
Proteger e regenerar florestas nativas — em vez de plantar monoculturas.
Consumir com consciência — apoiar marcas sustentáveis, rejeitar produtos associados ao desmatamento.
Apoiar projetos locais de reflorestação e agricultura regenerativa.
Reconectar com a natureza — só protegemos o que amamos.
Agora que este artigo já trouxe o tema à consciência, deixamos algumas perguntas retóricas, para refletirem, sobretudo sempre que virem uma árvore cortada:
Depois de destruído, quanto tempo é preciso para repôr?
Vamos conseguir encontrar as espécies que, com tanto carinho, cresceram ali?
Haverá dinheiro para pagar a reconstrução?
Se continuarmos assim, para onde vamos?
A floresta não precisa apenas de braços que plantem, precisa de corações que cuidem. Porque cuidar das árvores é cuidar de todos nós. E se queremos um futuro fértil, precisamos de o semear agora — com consciência, com amor e com ação.