EDP Meia-Maratona de Lisboa

EDP Meia-Maratona de Lisboa

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22.03.2019

 

Acho que já todos perceberam que gosto de correr com objetivos. E esses meus objetivos, nesta fase da minha vida, são claros: gosto de correr longas distâncias, e as maratonas são as minhas preferidas.

Adoro correr maratonas por tudo aquilo que já partilhei aqui em vários artigos, a preparação de três meses, que implica um foco físico e mental bastante desafiante, principalmente se tivermos em conta que a nossa vida pessoal e profissional está em constante mudança, o que afeta, naturalmente, a nossa performance nas provas.

Se lerem os artigos que escrevi sobre as Maratonas de Boston (aqui), Porto (aqui), Sevilha (aqui) e Berlim (aqui), facilmente vai identificar-se com algumas das coisas pelas quais já passei. No entanto, é importante nunca esquecer que, pelo menos no meu caso, as corridas não são uma profissão, mas sim uma paixão.

Tudo isto para vos explicar qual era o meu grande objetivo este ano: correr a minha terceira Major, agora em Londres, a 28 de abril. Todos os meus treinos e provas até lá estão alinhados para estar no máximo da minha forma nesse grande dia.

Quanto às provas, escolhi-as a dedo. Corri em Sevilha, para fazer um treino longo de preparação, passei pela EDP Meia Maratona de Lisboa, de que vos vou falar hoje, e ainda vou fazer a Meia Maratona de Praga, a 7 de abril, onde vou testar o meu pace para 21 quilómetros.

Na EDP Meia Maratona de Lisboa, a 17 de março, e por estar numa fase muito específica da minha preparação, escolhi manter um ritmo semelhante ao que vou seguir em Londres e tentar progredir nos últimos quilómetros.

A semana antes da EDP Meia Maratona de Lisboa

É importante contextualizar-vos de como tudo aconteceu antes da prova. Na quinta-feira anterior, fiz séries de 2000 para 4’25 min/km. Três vezes, com quatro minutos de descanso. A esta altura da preparação, este é um ritmo confortável e pode vir a ser o ritmo de maratona. Além disso, juntei os quatro minutos de descanso porque sabia que tinha prova no domingo e um treino longo no dia seguinte.

No dia seguinte, fiz os tais 30 quilómetros. Comecei debaixo da ponte Vasco da Gama, fui até à 25 de abril e voltei. Em condições normais, colocava mais ritmo neste treino, mas sabia que tinha a prova, por isso não coloquei esse ritmo no corpo e corri sempre a um ritmo de 4’53 min/km. Foi um treino desafiante para a minha mente, porque cheguei àquele momento em que já não é fácil correr a um ritmo mais lento, ainda por cima durante tanto tempo. Mas tem mesmo de ser, pessoal, são estes pequenos esforços que nos fazem ter bons resultados.

Foi para conseguir obter bons resultados que no sábado descansei. Não treinei, de todo, foi um dia totalmente dedicado à minha recuperação e preparação mental para a prova do dia seguinte.

Domingo lá estava eu, pronta para correr a EDP Meia Maratona de Lisboa. Aqui o objetivo, mais uma vez, era claro: manter um ritmo semelhante ao que quero colocar em Londres. Nesta fase, sabia que não era capaz de fazer o que queria ao longo dos 42195 metros, e ainda bem, porque temos de saber resguardar o nosso corpo e esperar pelo momento certo, e, para mim, o momento certo é Londres. Mas, claro, queria fazer uma boa prova e testar a minha consciência e maturidade enquanto maratonista.

E que objetivo era este?, perguntam vocês. Simples, queria arrancar a 4’20 min/km por quilómetro e não aumentar o pace, e aqui encontrei o meu primeiro desafio. É que o entusiasmo no início da prova é enorme, e ainda por cima a prova começa na ponte, com uma vista incríBel sobre o rio, sendo que dali a dois quilómetros há logo uma descida acentuada. No entanto, queria fazer a descida a 4’00 min/km mas só depois disso, e da voltinha ali no Cais do Sodré, é que queria entrar na velocidade de cruzeiro e manter o ritmo até ao final da prova.

Até ao quilómetro 15

Quando estou a correr, não falo, prefiro o aparato antes e depois da prova. Durante, vou sempre focada em manter o meu ritmo, na minha respiração e na minha postura. Quando passo a marca dos 15, tento perceber como estão estes três níveis e, daí, consigo entender o meu ritmo confortável para a meia. Nesta fase, claramente, estava nos 4’20 min/km. Confirmei no meu relógio e segui, de peito orgulhoso e sempre a escutar o corpo.

O Rui Geraldes, o Gustavo e o Hugo Sousa estavam ao pé de mim, e muito fala o Hugo enquanto corre. Lá ia ele, super confortável enquanto conversava, e eu sempre a ouvir tudo, sem falar, para não gastar energia.

O Gustavo é uma pessoa que encontro sempre em Meias e em Maratonas, mas com quem nunca tinha corrido lado a lado. Ele é um daqueles corredores conscientes e entendeu imediatamente o meu ritmo, por isso, quis acompanhar-me. Foi um grande companheiro e, a dada altura, disse-me para ir entre eles para estar protegida do vento. Nunca tinha feito isto, até porque não gosto de ir a ver rabos à frente, mas a verdade é que o desgaste é muito menor.

Este sentido de camaradagem tem um significado muito especial para mim, e muito além da paixão pela corrida é por isto mesmo que também faço provas, pela camaradagem, o companheirismo e por ter pessoas que partilham comigo este amor pela corrida. Estes homens estendiam sempre o braço para a minha hidratação e, acreditem, isto faz toda a diferença. Eu não pedi aquilo, mas agradeci-lhes por todo o apoio no final, vezes sem fim.

Tudo parecia estar a correr pelo melhor, não é verdade? Mas aconteceu algo inesperado ao quilómetro 13: a palmilha do meu Fuel Cell esquerdo estava a começar a sair do sítio. Não queria acreditar que aquilo estava a acontecer, até que, num segundo, me apercebi do que se tinha passado.

A minha Andrea, que comanda as arrumações cá em casa, tirou as palmilhas dos Fuel Cell uns dias antes e lavou-as na semana anterior à prova. Claro que, com o entusiasmo, eu simplesmente calcei as sapatilhas e segui viagem, sem confirmar se estava tudo operacional, e, na verdade, parecia estar tudo bem, só que não.

Felizmente, não foi grave. Apenas um ligeiro desconforto que, se fosse mais do que isso, claramente iria ter de parar e pôr a sacana da palmilha no sítio. Agora imaginem que decidia, à conta da emoção, que ia suportar qualquer tipo de dor e que isso me poderia originar uma lesão? Neste caso, a palmilha era fina e isso ajudou, além de que mantive a mente forte e otimista, até porque numa maratona nunca vejo o lado negativo, muito pelo contrário. Mas, nota mental, verificar sempre o estado das palmilhas antes de calçar as sapatilhas, boa?

Passar pelo Mosteiro dos Jerónimos

Este momento pode ser um verdadeiro Cabo das Tormentas para muita gente. É nesta fase da prova, ali perto do quilómetro 14, que passamos perto da meta, mas percebemos que ainda falta muito para a cortar. Ainda é preciso ir quase até ao Jamor e só depois voltar.

Dou-vos um conselho, pessoal, se forem correr esta prova estudem bem o percurso, para não ficarem ansiosos neste momento e desmotivarem. No meu caso, fui tranquila, até porque já sabia com o que contar. Nem quis olhar para o lado direito, mas olhei, e sabem porquê? Tinha lá a Dona Lola e o Senhor Vítor a chamarem por mim, a gritarem o meu nome e a dar-me força. Foi aquele boost de energia incríBel para os quilómetros que faltavam.

Levantei o braço, sorri e segui.

Depois do quilómetro 15

Foi quando passei esta marca que percebi que podia mudar de ritmo. Mandei abaixo meio gel e percebi que tinha o meu treino na mão. Acelerei o passo até aos 4’10 min/km para cortar a meta cheia de power.

Mas a coisa não correu como estava à espera. Foi muito melhor. Sem ter combinado, e de forma super natural, o meu amigo Hugo Sousa, que passou a prova toda em amena cavaqueira, foi a minha lebre e, dos 4’10 min/km passei para os 3’58 e, depois, para os 3’56. Ao quilómetro 19, diz-me ele “és cá das minhas, grande atleta, a termina em slipt negativo. Anda comigo.”

Só para terem noção, malta, o Hugo é uma máquina a correr. Já correu 28 maratonas, o melhor tempo dele é 2:36’24’’ na Maratona e 1.13’20’’ na meia. Como podem imaginar, ouvir uma coisa destas vinda do Hugo ainda me deu mais motivação para correr.

A minha adrenalina estava imparável e naqueles quilómetros a caminho da meta estive sempre de frente para os corredores que estavam atrás de mim. Nessa altura ouvi tantas vezes o meu nome, vi tantos sorrisos. Fiquei tão feliz com isto, obrigada, pessoal, foi mesmo do outro mundo. Agora imaginem isto e uma banda a tocar ali nos últimos dois quilómetros enquanto passava por um chuveiro que me deu um dos duches mais incríBeis que tomei este ano.

Aquilo que senti naquele momento não é algo que sinta todos os dias. É indescritível e, para mim, é a melhor droga do mundo, e é por isto que corro, à procura desta sensação. E digo-vos, nesta altura da minha preparação sinto que estou em forma e que aqueles últimos quilómetros não custaram nada. Aquilo era felicidade.

À 1h30’50’’ cortei a meta, com um ritmo de 4’16 min/km.

Mas, ao final do dia, o que é que importa? Ter feito 1h30’50’’ que, na verdade, nem sequer é o meu melhor tempo numa Meia (esse foi na de Munique, recorda o artigo aqui), ou importa saber como foi o meu percurso tendo em conta o meu objetivo inicial?

Em todas as preparações de Maratonas aprendo sempre muita coisa, mas há algo que prevalece e que tende a evidenciar-se cada vez mais: a minha experiência e consciência. E são elas que espelham este resultado.

 

Quando cortei a Meta comecei a minha segunda EDP Meia Maratona de Lisboa, a dos abraços, sorrisos, partilhas e agradecimentos. Tirei muitas fotografias, fiz vídeos, conversei com imensa gente, dancei, saltei, vivi intensamente aquele momento que me fez tão feliz. Estava orgulhosa de mim, assumi e cumpri o que tinha estimulado, tudo também, claro, graças aos meus companheiros que ajudaram e à minha mente, que passou no teste.

Apesar de estar feliz, ainda queria comprovar mais uma coisa. Queria muito terminar e sentir que estava capaz de correr, nem que fossem mais dois ou três quilómetros, ao meu último ritmo antes de cortar a meta, o de 3’56’’ min/km. E não é que estava mesmo?

Se isto não é um sinal que estou no bom caminho para a Maratona de Londres, então não sei o que possa ser.

Deixo vos aqui algumas das imagens que me chegaram através do Instagram. Com ou sem camisola, somos todos IncríBeis. Obrigada a todos!

 

Isabel Silva

A Isabel Silva nasceu a 8 de maio de 1986 e é natural de Santa Maria de Lamas. Licenciou-se em Ciências da Comunicação, pela Universidade Nova de Lisboa, e fez uma pós-graduação em Cinema e Televisão pela Universidade Católica. Fez um curso de Rádio e Televisão no Cenjor e foi o seu trabalho como jornalista e produtora de conteúdos na Panavídeo que a levou para a televisão, em 2011. Durante 10 anos apresentou programas de entretenimento e, de forma intuitiva e natural, percebeu que aquilo que a move é a criação de conteúdos que inspirem, motivem e levem os outros a agir. Tem uma paixão enorme por comunicar e tudo o que comunica está intimamente ligado a uma vida natural carregada de energia, alegria e simplicidade.

É autora dos livros “O Meu Plano do Bem”, “A Comida que me Faz Brilhar”, “Eu sei como ser Feliz” e da coleção de livros infantis “Vamos fazer o Bem”.

Descobriu a paixão pela corrida em 2015, em particular pela distância da Maratona – 42.195m. Tem o desejo de completar a “World Marathon Majors” que inclui as 6 maiores Maratonas do Mundo. Já correu Londres, Boston, Nova Iorque e Berlim.

Esta vontade de gerar um impacto positivo nos outros levou-a a criar novas áreas de negócio, como um ginásio de eletroestimulação – o Efit Isabel Silva – uma marca de snacks saudáveis, a IncríBel e a VOA.

A 14 de Dezembro de 2016 lançou o blogue Iam Isabel e que hoje, numa versão mais madura, mas igualmente alegre e enérgica, é o canal DoBem.