Viver e Sentir a Serra: corrida do Fim da Europa

Viver e Sentir a Serra: corrida do Fim da Europa

Fiz a Corrida do Fim da Europa. Cheguei muito feliz. Dei um salto tão grande que por momentos senti que estava a "bbuuuuuaaaaarrrrrr"!!!!!
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30.01.2017

E é simplesmente por isto que eu subscrevo e vou à corrida do Fim da Europa – “Dificilmente haverá prova mais bonita”

Foi em Janeiro de 2015 que corri, pela primeira vez, a tão famosa Corrida do Fim da Europa. Recordo-me que a Filomena e o Fernando já estavam inscritos há algum tempo e foram várias as vezes que me “chatearam” para eu me inscrever – “Isabel, vais adorar a prova. Tem subidas, tem uma paisagem incrível e aquele micro clima da vila de Sintra é único. Fica fácil correr”, diz-me o Fernando muito entusiasmado. Eh pah… Na realidade, eu na altura não estava focada na prova, mas perante tanta insistência, não apenas dele, mas também do Ricardo (O Arrumadinho, também ele um apaixonado pelas corridas), tinha de ir. Pior do que não gostar ou correr mal ou não participar, é depois arrepender-me. Siga! Ainda fui a tempo das inscrições.

Bom, o que é certo é que está é a terceira vez que participo na corrida do Fim da Europa e a razão está mesmo no título do artigo. É absolutamente mágico correr em Sintra (e por essa razão, quer esteja em preparação para provas ou mesmo sem nenhum foco, corro por estas bandas com regularidade. Gosto do ar que respiro por aqui, gosto de escutar a natureza e é uma alegria receber um “olá” dos vários ciclistas que por ali passam).

Eu gosto muito de subidas. Há corredores que preferem percursos planos, outros adoram descidas e eu estou ali no meio e talvez um “esquinho” mais que meio – gosto de um percurso misto, com subidinhas progressivas para treinar força, descidas mais ligeiras para enfrentar os meus medos (odeio descidas, acho sempre que vou dar o “malho” da minha vida), uns kms planos para “rasgar paninho” na minha velocidade prazerosa (atualmente 4:20min/km, mas tipo… Não vou a conversar, como devem calcular) e depois se vier uma subida desafiante – olha, como aquela que apanhei ao km 10, estão a sentir? – mas não precisa de ser muito longa, vá, então nesse caso temos o tipo de percurso que me encaixa como uma luva. Para além do mais, tendo estas condições garantidas, o relógio deixa de ter força neste tipo de provas. Aqui não olho a ritmos. Dou o meu melhor, mas acima de tudo escuto o meu corpo. O que seria impôr um ritmo naqueles primeiros 4 km. Ainda assim o meu Garmin apontou para 4:31 min/km de média nesse início que, para mim, é o logo o momento apoteótico da corrida.

A cena é que depois desses 4 Km, tu continuas a subir… E sobes mais 3 Km. Tau! Pumba! Segue! Avança! Tenho 4:10 de ritmo no km 8. Muito bem Isabel – aquela garrafa de água que despejei no meu corpo fez toda a diferença (por acaso é um hábito que tenho. Molho a boca mas, na realidade, a melhor hidratação, no meu caso, é levar logo um banho. Desperta-me e fico com mais adrenalina).

Bom, do km 10 para o km 11 tenho 5:17. É aquela subidona que todos temem. Custa. Custa p’ra caraças, mas nada como um bom core e umas pernas com treinos de reforço muscular para transformar aquela dor num momento prazeroso. Isso. É aquele momento que custa mas que, ao mesmo tempo te sentes em forma. E isso também se trabalha. E é isso que te faz ter motivação para continuar a correr e a desafiares-te a cada km. Adorava ter alguém a acompanhar-me com uma câmara para perceberem aquilo que se sente em cada km.

Quando cheguei à meta fui entrevistada e disse o seguinte: “Agora estamos rodeados de pessoas a aplaudirem-nos aqui na meta, mas quem não corre, não imagina os pensamentos que nos passam, os caminhos por onde passamos e os corredores que se cruzam connosco. Muitos deles passam por nós e dão uma palavra de força, outros estão a quebrar e precisam da tua energia. E tu dás. Outros simplesmente estão à tua procura porque não querem estar sozinhos e querem correr contigo, quase em género de pelotão – houve lá um momento que éramos uns quantos ao mesmo ritmo. É incrível. E se começas a quebrar, eles não deixam. E é esta comunidade de corredores, é esta camaradagem que faz do atletismo o meu desporto de eleição – eu queria terminar este artigo com este pensamento, mas fica tão melhor dizê-lo agora que não consegui esperar até ao final (também já não falta assim tanto).

Bom… Vamos lá falar dos últimos 6 Km!!! Tudo a descer. Mas a descer à grande. E eu odeio descidas. Na realidade não odeio assim tanto. Fico é “borrada” de medo quando penso na possibilidade de cair e de me lesionar à séria. Pensar que me lesionei a 3 semanas da Maratona de Sevilha, a 3 semanas de uma preparação de 3 meses, não ia aguentar. Ia ficar muito desiludida comigo. Vai daí que vou sempre com alguma cautela. Ainda assim, este foi o ano que desci melhor. Dei por mim a 3:40/3:45!! Melhor!  Lá fui eu… ao sabor do corpo. Aliviei a tensão do tronco e deixei as pernas assumirem o controlo. A dar tudo!!

“Isabel!!! Estás em primeiro lugar das meninas!!! Força!! Estás com bom ritmo”

Confesso que esse não é nem nunca será o meu foco. Gosto de me superar, de me desafiar, mas toda essa “luta” é muito minha e tem obrigatoriamente de ser sem pressão. Já me basta o meu stress no dia a dia, certo? Contudo (Eheheheheh), a pessoa escuta está boa nova e pensa: “Bom, se porventura pensares em abrandar, esquece lá isso. Agora mantém-te firme nesse ritmo e foca-te nos últimos 2 km!!

Foi tão giro e motivador passar por tanta gente a gritar pelo teu nome. Nos últimos kms passei por uma zona de cafés e restaurantes e só ouvia “Olha lá a Isabelinha. Olha lá a miúda cheia de speed. A nossa Bélinha da TVI. É ela é ela. Ela corre bem” – eheheheheheh!!! Isto de ser conhecida, por vezes, é altamente!!!! É que recebi logo aquele boost de energia que precisava. E, claro, sorri para todos eles (mas devo também dizer-vos que, independentemente de ser uma figura pública, todos os outros corredores, também eles heróis, recebiam aplausos e mensagens de força. Ali somos todos família). Valeu-me também os aplausos e sorrisos de uns turistas chineses – sempre no flash! Dei uns quantos “give me 5”.

No meio de tudo isto, a Tânia passou por mim, na descida final, sensivelmente a 2 km do fim. Ia em altas. Com uma leveza que até parecia fácil. Conhecemo-nos nas corridas e trocamos já algumas palavras no ginásio. O 1º lugar, este ano foi dela. Ela passou por mim, sorriu e ainda me disse “Estás muito bem Bélinha. Força”. Naquela altura pensei “Então e tu? Tu estás com a verdadeira “piriska” Ehehehehehehehe!!

Cheguei muito feliz. Dei um salto tão grande que por momentos senti que estava a “bbuuuuuaaaaarrrrrr”!!!!! A grupeta do Peniche a Correr estava ali à minha espera, também, para me abraçar e dar-me os Parabéns!! Gosto tanto deles. É um orgulho ser madrinha deste grupo!

Quando cheguei só pensei: “quero o cházinho quentinho de mel e limão” – deixo já aqui o meu agrado à organização da Corrida do Fim da Europa por esse belo miminho. Sabe mesmo bem. Enquanto isso abracei-me ao Catalão, à Mena e ao Fernando e partilhamos a nossa aventura.

Sim porque, o percurso é o mesmo mas as histórias são todas diferentes. Conheci corredores incríveis, tirámos fotografias, demos beijos e abraços e ainda subi ao pódio do segundo lugar da geral feminina. Recebi um lindo prato decorativo com a temática da prova. Um prémio para a vida que vou guardar e olhar para ele sempre de peito orgulhoso.

Eu já corri 3 vezes até ao Fim da Europa. E o desejo de correr mais, não tem Fim!

Grata. Feliz.
Pessoal, eu não aguento!

Fotografia
João Fonseca