Certamente que já ouviste falar de Empreendedorismo de Impacto. Mas será que sabes o que significa e o que distingue este tipo de empreendedorismo? Neste artigo, vou levar-te comigo por este tema que tanto me apaixona!
Bem sei que o palavrão “empreendedorismo”, invariavelmente, afasta mais do que aproxima – possivelmente devido a um imaginário a ela associado, nem sempre coincidente com a realidade.
No entanto, enquadrar este conceito é importante para melhor explicar todo o percurso que me trouxe até este momento.
Dizem que sou uma empreendedora de impacto, porque criei a Vintage for a Cause, que mais do que uma marca de roupa circular, é uma negócio de impacto, que quer reduzir o desperdício têxtil e a exclusão social das mulheres acima dos 50 anos fora da vida ativa.
Empreender não é mais do que desafiar o status quo através de uma visão diferente do mundo. É agir e mobilizar recursos de forma a influenciar a realidade.
É também resolver problemas ou responder a lacunas na sociedade, gerando impacto positivo e contribuindo para uma mudança sistémica. E é sobretudo sobre este tipo de empreendedorismo que nos vamos debruçar. Aquele que pretende transformar o mundo.
Este conceito – de empreendedorismo de impacto – abrange uma variedade de modelos de negócios em diferentes partes do mundo que têm em comum quatro elementos chave que os definem como negócios de impacto, negócios sociais ou empresas sociais:
1. Valor em vez de lucro
Uma iniciativa de impacto visa gerar retorno financeiro, mas a sua missão é resolver um problema social ou ambiental, através dum modelo de negócio inovador. Numa empresa com fins lucrativos o objetivo é gerar lucro. Numa empresa social, o lucro é instrumental. As empresas sociais priorizam gerar valor social ou ambiental em detrimento do lucro, e, em vez de shareholders (acionistas), têm stakeholders (partes interessadas).
2. Foco na resolução de problemas
As iniciativas de impacto criam soluções diferenciadas e inovadoras para problemas sociais ou ambientais onde as alternativas dominantes falharam. Os empreendedores de impacto vão à raiz de um problema social e/ou ambiental, desenhando formas de o resolver de forma mais eficiente que o mercado, que possam ser escaladas para abranger um maior segmento da sociedade. Inovação não significa necessariamente algo totalmente novo. A inovação está muitas vezes na forma como se combinam recursos ou se desenham as relações entre os diferentes stakeholders ou até mesmo na forma como se organizam as atividades.
3. Modelo de negócio autosustentável
Uma das características centrais de uma iniciativa de impacto é a sua capacidade de gerar receita aliada à sua missão social ou ambiental. Os empreendedores de impacto, ao mesmo tempo em que resolvem problemas sociais por meio de soluções inovadoras, também podem lucrar à medida que vão prosseguindo com a sua missão. Mas o lucro obtido não é usado para ganhos pessoais, e sim reinvestido em impacto para a longo prazo erradicar ou mitigar o problema que visa resolver. A responsabilidade social corporativa ou as ações de caridade levadas a cabo por parte de iniciativas sem fins lucrativos, apesar de poderem gerar valor social, não são negócios ou iniciativas de impacto.
4. Mediação de Impacto
Outro pilar fundamental de uma empresa social é a sua capacidade de gerar impacto. Não é impacto se não for passível de ser medido. Enquanto, na maioria dos casos, o impacto de uma empresa comercial é medido pelo impacto financeiro, ou seja, um único resultado final, o impacto de uma iniciativa de impacto é medido pelo triplo resultado final nas pessoas, no planeta e na economia.
As empresas sociais têm, portanto, no centro das suas decisões um propósito maior que é gerar benefícios coletivos, alocando todos os recursos para que uma solução persista o tempo suficiente para resolver um problema, gerando assim um retorno muito para além do lucro e que pode ser monetizado.
Agora que já sabes o que é empreendedorismo de impacto, tens alguma ideia para transformar o mundo?
Se sim, vais gostar da minha próxima partilha.
Advogada de formação, a Helena mudou de rumo e advoga, desde 2013, pelo upcycling e pela inclusão social através da “Vintage for a Cause”: uma marca que é também uma causa, com a missão da redução do desperdício têxtil, em paralelo com a promoção do envelhecimento ativo de mulheres acima dos 50 anos.
Pós-graduada em Empreendedorismo e Inovação Social, a Helena é ainda líder do “Circular Economy Club”, no Porto, voluntária da “Fashion Revolution Portugal” e co-fundadora da “Between Parallels”.
Encara a sua jornada enquanto empreendedora de impacto como um processo de desenvolvimento pessoal, que partilha sempre que possível em seminários, palestras e em mentorias.
O seu trabalho foi reconhecido pela Fundação Yves Rocher, em 2020, e pela Revista Ativa Mulheres Inspiradoras na categoria de Sustentabilidade, em 2021, ano em que integrou a lista das TOP100 Women in Social Enterprise da Rede Euclid, da Comissão Europeia.