Milhões de mulheres tomam a pílula a achar que estão a resolver problemas de saúde, quando, na verdade, estão apenas a silenciar sintomas que escondem desequilíbrios hormonais.

Os contraceptivos hormonais tornaram-se numa prescrição padrão para diversas questões de saúde feminina, indicados frequentemente como a solução para meninas desde os seus 10 a 15 anos. Se estás a ler este artigo és possivelmente uma das mulheres que toma a pílula para diminuir o sofrimento de um ciclo desequilibrado. 

É importante começarmos por relembrar que a pílula foi desenvolvida para ser utilizada por períodos limitados da vida da mulher, com o propósito de prevenir a gravidez. No entanto, a utilização prolongada por décadas pode trazer consequências profundas para o equilíbrio hormonal feminino, que muitas vezes não estão devidamente descritas ou estudadas.

A PÍLULA: SUPRESSÃO DO CICLO NATURAL

Os contraceptivos hormonais previnem a gravidez ao suprimir temporariamente a ovulação, criando um estado que pode ser comparado a uma “menopausa induzida reversível”, já que modulam artificialmente os níveis hormonais sem levar à falência definitiva dos ovários. Através das versões sintéticas das hormonas femininas, cria-se um ambiente hormonal artificial que imita um estado permanente da fase pós-ovulatória do ciclo.

Quando interrompes a pílula por uma semana e tens um sangramento, não estás a ter uma menstruação. A menstruação ocorre após a ovulação, quando não há fecundação do óvulo, com o objetivo de eliminar as células do endométrio que cresceram no útero para receber um embrião.

O sangramento causado pela pílula acontece não porque há células do endométrio a serem expelidas, mas sim porque a privação repentina das hormonas  sintéticas desencadeia um sangramento. Assim, na realidade, as mulheres que tomam a pílula, mesmo aquelas que têm pausas de 7 dias, não menstruam de facto.

O PAPEL DAS HORMONAS, MUITO ALÉM DOS ÓRGÃOS REPRODUTORES

As hormonas são mensageiros químicos que regulam diversas funções no corpo. São produzidas por glândulas endócrinas, como os ovários e o útero, em resposta a sinais do sistema nervoso central.

Ao serem lançadas na corrente sanguínea, hormonas como o estrogénio e a progesterona ligam-se com precisão a recetores em inúmeras células, ativando reações em vários órgãos e tecidos. Não se limitam aos órgãos reprodutores, mas afetam também outros sistemas, como o cardiovascular, nervoso e afetam o metabolismo.

Dada essa ampla influência, o ciclo menstrual é essencial para o equilíbrio geral da saúde feminina, o que explica a extensa lista de efeitos secundários que encontras nas bula dos contraceptivo hormonal.

Uma nota importante referir que DIU hormonal, ou o anel vaginal libertam igualmente hormonas que atingem a corrente sanguínea e afetam igualmente todos mas órgãos e tecidos. Não é por estares localizados próximo dos órgãos reprodutores que têm uma ação localizada.

O QUE ACONTECE QUANDO USAS CONTRACEPTIVOS HORMONAIS?

Por estas hormonas sintéticas, terem a capacidade de se ligar aos receptores em vários órgãos e tecidos, os contraceptivos hormonais podem causar inúmeros efeitos adversos:

  1. Problemas Cardiovasculares: Esta é a principal advertência encontrada na bula dos contraceptivos hormonais. Eles alteram a flexibilidade dos vasos sanguíneos e impactam a coagulação do sangue, aumentando o risco de ataque cardíaco e trombose.
  2. Alterações no Humor e Saúde Mental: Muitas mulheres relatam mudanças significativas no humor, incluindo aumento da irritabilidade, ansiedade e sintomas depressivos, por vezes até com pensamentos suicidas. Estudos recentes apontam uma forte correlação entre a pílula e a depressão.
  3. Redução da Libido: A pílula elimina o pico de estrogénio que antecede a ovulação, fase em que a mulher sente maior desejo sexual. Esse efeito é um dos motivos pelos quais muitas mulheres relatam uma drástica diminuição da libido durante o uso da pílula, que normalmente reaparece com a suspensão da toma. 
  4. Aumento do Apetite: Como o corpo é mantido constantemente na segunda fase do ciclo, em que se prepara para uma possível gestação, há um aumento natural do apetite. Esse fator contribui para que o ganho de peso de peso seja  um efeito colateral comum.
  5. Impacto na Escolha de Parceiros: Estudos recentes indicam que a pílula pode influenciar a escolha do teu parceiro, uma vez que reduz a capacidade de reconheceres os sinais de elevados níveis de testosterona nos homens, que acontece sobretudo na fase da ovulação.  Isso pode influenciar as relações interpessoais e a dinâmica dos relacionamentos.
  6. Dificuldade em Engravidar Após Interromper o Uso: O organismo precisa de tempo para se reequilibrar após o uso prolongado de contraceptivos hormonais, podendo haver dificuldades para engravidar.

ALTERNATIVAS NATURAIS AOS CONTRACEPTIVOS HORMONAIS

Para mulheres que desejam abandonar os contraceptivos hormonais e reconectar-se com o seu ciclo natural, existem alternativas eficazes e menos invasivas:

Método de Fertilidade Baseado na Observação do Ciclo

Ao longo do ciclo menstrual há características que mudam, nomeadamente a temperatura corporal e a aparência do muco cervical.  Existem aplicações como o Natural Cycles, que ajudam a sistematizar a informação e, em função dos dados recolhidos, informam-te em que fase do ciclo estás, identificando quando ocorre a ovulação e, assim, os dias em que tens de ter cuidado extra. É um método que requer disciplina e te leva numa viagem de autoconhecimento.

Preservativos (Masculino e Feminino)

Consistem numa proteção física e, por isso, sem interferência hormonal, com a grande vantagem de também prevenir infeções sexualmente transmissíveis.

Dispositivo Intrauterino (DIU) de Cobre

É um dispositivo em forma de T que se coloca no útero e impede a fixação de um embrião no endométrio. Eficaz por até 10 anos, sem hormonas. Pode causar cólicas e fluxo menstrual intenso em algumas mulheres.

Diafragma

O diafragma é um anel flexível de látex ou silicone, que impede a entrada dos espermatozoides no útero. A mulher pode colocar o diafragma várias horas antes da relação e tem que ficar colocado até 6 horas após a relação.

Espermicidas

Podem ser usados em junção com o diafragma. Os espermicidas são preparações que danificam ou aprisionam os espermatozoides ao contato. Estão disponíveis sob a forma de espumas, cremes, géis e supositórios e são colocados na vagina antes da relação sexual.

UTILIZAR CONTRACEPTIVOS HORMONAIS DEVE SER UMA ESCOLHA, NÃO UMA NECESSIDADE

Mulheres que iniciaram a pílula para tratar problemas com o ciclo, ao interrompê-la, enfrentam os desequilíbrios hormonais que estavam apenas mascarados. Muitas vezes, esses sintomas são interpretados como “efeitos da paragem da pílula”, quando na realidade representam apenas a manifestação do problema subjacente.

É fundamental que essas mulheres encontrem apoio de um profissional de saúde com abordagem multidimensionais, para atuar na origem do desequilíbrio e restaurar ciclos saudáveis.

Na minha prática clínica, observo frequentemente a necessidade de um detox hormonal homeopático, especialmente em mulheres com doenças relacionadas com os órgãos sexuais femininos. Esse processo auxilia na eliminação dos efeitos prolongados das hormonas sintéticas e na reconexão com o ciclo natural.

RECONECTA-TE COM O TEU CORPO E RESGATA O FEMININO

Os contraceptivos hormonais trouxeram avanços importantes, permitindo que passaremos a controlar a fertilidade de uma forma prática e despreocupada. Passou a ser mais difícil uma gravidez inesperada no meio de uma carreira em ascensão. No entanto, é essencial refletir sobre o preço dessa desconexão com o ciclo natural.

Escolher um método contraceptivo deve ser uma decisão baseada em informações completas e conscientes. Compreender o impacto dos contraceptivos hormonais no corpo é essencial para tomar decisões que respeitem a saúde e o bem-estar a longo prazo. Optar por métodos naturais pode ser um caminho para muitas mulheres que desejam reconectar-se com o seu ciclo e viver de forma mais saudável e equilibrada.


📚 Recursos Recomendados

  • This is your Brain on Birth Control” – Sara e. Hill 
  • “Taking Charge of Your Fertility” – Toni Weschler
  • “Period Power” – Maisie Hill
  • “The Fifth Vital Sign” – Lisa Hendrickson-Jack
  • Documentário “The Business of Birth Control” (2021)