Alguma vez na “B”ida eu ia imaginar ganhar uma Meia Maratona, ou, mais precisamente, a Alegro Meia Maratona de Setúbal? Nunca tal ideia me passou pela cabeça. Simplesmente porque não é isso que me move. Eu sou apresentadora e repórter. Este é o meu ganha pão, a minha profissão que tanto prazer me dá. Ganhar provas, para mim, é um foco que pertence, em grande parte, aos atletas de alta competição e que fazem do atletismo vida.
Eu corro porque gosto, como diz o slogan da t-shirt da Alegro Meia Maratona. E, claro, gosto de me superar e, sempre que a vida me permite (e aqui falo da disponibilidade mental, pessoal e profissional) tento melhorar os meus tempos. Mas a terminar bem!!! Em bom!! Como viram no vídeo do meu Instagram. Assim é que é correr com grande categoria. Para isso acontecer, para correres com prazer e com POWER tens de treinar. E para estares ali a correr na incrível Serra da Arrábida, com subidas e descidas (uma delas deu bastante luta até) a lançar sorrisos e “pózinhos” mágicos pela estrada, tens de sair da zona de conforto numa das tuas corridas semanais. No meu caso, e no seguimento do tipo de prova que me esperava, fiz no início da semana anterior um treino de escadas. Dei tudo. E deixei o resto das reservas num dos mergulhos que dei no mar. “Trás Pás!!!”
Posto isto, acrescento o facto de me ter lesionado, há cerca de 1 mês e meio, na Corrida dos Sinos, em Mafra. Levei para casa um honroso 7º Lugar, um lindo Sino, uma vontade de voltar para o ano… E trouxe também uma lombalgia. Espetáaaculo!!! Isto para quem adora praticar desporto e até tem bastante cuidado com a saúde do corpo (não vacilo nas massagens semanais, alongamentos diários, tipologia de treinos, alimentação), levar com uma lesão que implica uma paragem de pelo menos 1 mês, é duro. Bem sei que há lesões piores… Mas também há menores e nós damos dimensão aos nossos problemas de acordo com aqueles que nos aparecem no caminho. Foi um mês de paciência, reflexão e, claro… novamente MUITA PACIÊNCIA!!
Pior do que não treinar era estar limitada nas tarefas do dia a dia. Das coisas que mais me custaram foi, claramente, sentir dificuldade em passear o meu Caju. Ele queria tanto correr ou, simplesmente, passear a ritmo desafiante (sempre o habituei assim) e eu não conseguia dar corda aos sapatos. Acabei por mentalizar com o passar dos dias: “Ok. Tens uma lombalgia. Vais conseguir curá-la, mas tens de ter paciência e seguir os tratamentos e o descanso à risca”.
Mas a minha “cena” não era só a lombalgia. Havia outra coisa que me estava a gerar ansiedade e tristeza, caso não ficasse curada num espaço de um mês: “Então eu sou Madrinha da Alegro Meia Maratona de Setúbal e pode haver a possibilidade de NÃO correr?! Comàssim??!! Não pode. Tenho que ficar boa”. Olha… Às tantas foi este último pensamento que me deu forças e motivação para curar a minha lesão.
Eh pah…. não aguento. Certo?! Alguma vez na “B”ida eu pensei ganhar isto? Pessoal, eu só queria, honestamente, chegar ao final sem dor (vivia nesta incerteza porque o último e único longo treino que fiz, depois da lesão e antes da prova tinha sido no domingo passado: uns ricos 15 km no Guincho sem olhar a ritmos), em grande estilo e sentir que as subidas da Arrábida tinham sido apenas desafiantes e não dolorosas. Entendem este meu desejo, certo?! Correr com prazer. Correr com preparação. Só assim consegues curtir e tirar partido da beleza de uma prova.
Eh pah… sabem que aquela cena de gostares de correr (e até fazeres uns tempos jeitosos), seres figura pública e, neste caso, ainda és madrinha da prova, ouves sempre os mesmo comentários:
– “Então Bélinha, hoje vais para que tempo?”
– “Hoje é para ganhar, no mínimo”
– “Ando a ver os teus treinos e fazes na boa abaixo da 1h30′
Pessoal!! Na boa, mas tipo… A pessoa não tem que correr para bater sempre o record. Para dar o que tem e o que não tem. Até porque, na condição em que eu ia (vinda de uma lesão), arriscar e dar o litro ainda me dava outro brinde. E eu não estou para isso. O que seria arriscar a levar outra lesão para casa e ficar privada dos meus treinos nas semanas que se sucedem. Agora, eu tenho é de estar feliz a correr e de dar o meu melhor. E foi tudo isso que eu fiz!!!
O “speaker” passa-me o microfone antes da partida. Perigo!!!! Claro!! Já sei: não me vou calar. Tenho sempre coisas para dizer ao mundo. E disse. Mas só algumas. Estava tudo muito tenso. Eu entendo. Sério que entendo. No meu caso, as borboletas que sinto na barriga provocam-me tanta adrenalina que a minha vontade é apenas “mandar postas de bacalhau” para descomprimir a malta. No meio de tanta coisa que eu disse ainda consegui ver os dentinhos a alguns corredores que estavam na partida – em nervos com os dedos focados no relógio para fazer “ON” aquando do tiro de partida (dava uma bela chapa aquele momento).
Corri os primeiros 7 Km’s com o Ricardo (O Arrumadinho). Gosto muito dele. Ele tem uma vida agitada e atualmente não consegue dedicar-se a esta paixão tanto quanto gostaria. Mas eu adoro falar com ele sobre corridas. Sentimos exatamente o mesmo entusiasmo. Somos doidos por isto. E assim será, para sempre. Eu como ando mais dedicada, acabei por sentir necessidade de colocar mais velocidade na minha prova. Então passei para 4:30min/km. Mas, sempre confortável. Mantive-me assim até chegar à altura mais bonita, desafiante e dolorosa (para muitos) da prova: subir a Serra da Arrábida!
Olha… Quem diria!! Foi, para mim, o momento mais prazeroso da prova. Sou forte nas subidas. E tudo porque também nunca descurei (mesmo na altura da lesão) o treino de força. Para seres forte não basta apenas correres, durante a semana, muitos km’s. A resistência é importante, mas de que te adianta teres uma boa “caixa” se não tens umas boas pernas: resistentes e tonificadas?! Então nestas provas, o reforço muscular é fundamental. E por cumprir este requisito, senti que foi prazeroso subir a serra. Também não pensemos que não fiquei ofegante. Fiquei. Mas tudo controlado.
Meu rico Luís Santana (o meu PT do E-Fit) e minha rica Filipa (a minha PT no Solinca). Valeram todos os treinos que me deram nesta fase…
Lembro-me de passar, já na Serra, pela malta dos piqueniques. Era um cheiro a churrasco… Era tudo sentado com o farnel ao lado a gritar – “Vai!!! Força!!! Há cerveja e bifanas para quem quiser”… ‘Tá beeeiimmmm!!!!!! (E assim te distrais e passam alguns minutos da prova)
As descidas são tramadas!!! E mais tramado é quando acordas no dia seguinte. No treino regenerador que fiz na segunda-feira às 7h30 da manhã dei conta disso. Corri a 5:20min/km e estava no meu limite de velocidade. Valeu-me o mergulho na água fria do mar e a massagem no Urbano (o meu incrível massagista – fiel, bondoso e profissional).
E quando estás a 3km do final (já praticamente na Avenida Luísa Todi) e pensas que estás quase a chegar e começas a ligar o turbo?
Uma notinha apenas: assim gosto de levar os meus treinos e provas – começo sempre mais lento em comparação com a segunda parte da prova. Gosto de treinos progressivos. Constantes enjoam-me e começar mais rápido para depois terminar a morrer é só estúpido. Pelo menos para mim. Só reflete que não estavas capaz de manter um ritmo competitivo. Mas nem é tanto por isso: é que terminar em sofrimento, ao invés de teres um sorriso nos lábios não é motivador, a meu ver. É bom terminarmos fortes. Assim funciona a minha mente. Mas como digo, esta é a minha forma de ver as coisas). Adiante…
Muita calma nessa hora. É aqui que tenho o meu maior desafio: controlar a minha adrenalina para não cair na tentação e no erro de surgir uma dor de burro com descontrolo da respiração. Então o que é que eu fiz? Controlei ao máximo a minha emoção e adrenalina para os últimos 300 metros. Até lá, mantive-me nos 4:20 min/ km. E assim foi. Mas caramba!!!! Ouvir toda a gente a dizer “Vai Isabel. És a primeira mulher. Vais ganhar a prova”; assim é difícil manter a calma. Mas eu consegui. A realidade é esta: a pessoa não vai para ganhar, mas quando percebe que essa é uma possibilidade cada vez mais real, então aí a parada já é outra.
É verdade!! Não falhei nenhum posto de abastecimento. Estava calor e não podia desidratar! Mas a energia era tanta que me esqueci de tomar um gel ao km 13. Mesmo. Tomei 1/2 gel no Km 16 e correu tudo bem à mesma. Há coisas que só a cabeça é que manda!!
Muitos podiam estar naquele momento, numa outra parte do mundo, no mesmo estado que eu. Mas garanto-vos: ninguém estava mais FELIZ do que eu! Foi uma sensação única!!! Foi uma mistura de emoções que nunca alguma vez senti. E tudo porque, para além de ser a Madrinha da prova, eu estava sem dor, sentia-me cheia de energia, ouvia os aplausos, vi os sorrisos e SENTIA a EMOÇÃO de todos os que ali estavam por me verem ali a correr… Não tanto por ser a Isabel Silva. Mas sim por verem uma mulher a transbordar alegria e entusiasmo simplesmente porque estava a correr.
Tenho o troféu na minha sala. É um orgulho acordar todos os dias, olhar para ele e pensar:
À parte desta linda vitória… Foi absolutamente maravilhoso ser a Madrinha de uma prova tão bonita como a Alegro Meia Maratona de Setúbal! Sou apaixonada pela Serra da Arrábida e pela gastronomia de Setúbal. Sinto-me bem nesta cidade e sou sempre tão bem recebida.
By the way… Durante os 21Km lembrei-me várias vezes do momento certeiro que me aguardava no pós Alegro Meia Maratona de Setúbal: o belo do choco frito para abrir o apetite e a bela da garoupa para me deliciar! E assim foi. Ganhei o dia!