Há histórias que não são apenas contadas — são sentidas.
A da Sara Montes é uma delas.
Hoje é professora de Yoga e autora do livro Rituais para Viver em Equilíbrio, mas antes disso, foi alguém com os olhos postos no céu, em busca de algo mais profundo e que lhe fizesse sentido.
Encontrou o silêncio. Encontrou o Yoga. Encontrou o caminho.
Foi ainda adolescente que Sara conheceu a meditação. Aos 16 anos, já fazia cursos e mergulhava nos ensinamentos do budismo. As primeiras experiências de retiro e silêncio marcaram-na profundamente: “Para mim, estar em silêncio é estar em contemplação. É um estado natural.”
Tão natural que o seu Dharma, diz, é precisamente o oposto do que muitos procuram: enquanto tantos anseiam por paz, ela veio à Terra aprender a viver em sociedade, a relacionar-se, a estruturar-se.
Aos 22 anos, vendeu o carro e partiu sozinha para a Índia. Mais tarde, estabeleceu-se em Bali. Durante anos, viveu em comunidades devocionais, estudou com mestres, organizou retiros, aprendeu astrologia e aprofundou o Yoga em todas as suas dimensões. Mas, com o tempo, percebeu que o que começou por ser caminho… também foi fuga.
“Eu não queria encarar o modo de vida da cidade. Estava sempre em fuga — e os meus amigos diziam isso. Mas ainda bem que foi uma fuga saudável. Podia ter sido por outro lado.”
Regresso forçado, encontro interior
O regresso a Portugal não foi uma escolha fácil. A mãe foi diagnosticada com cancro. O universo trocou-lhe as voltas. Em poucos dias, Sara deixou Bali, organizou tudo e voltou. Chegou com dor, com choque cultural, com o coração em suspenso. E ainda assim, chegou com Yoga no corpo.
Logo nos primeiros meses, teve um acidente ao surfar: levou com uma prancha no terceiro olho. Dois pontos. Quatro meses sem praticar. Uma metáfora viva: tinha de aprender a ver de outra forma.
Yoga – o equilíbrio da terceira dimensão: física, emocional e mental
A Sara diz-nos que o Yoga a escolheu. E que o verdadeiro Yoga não está só nas posturas — está no respirar, no sentir, no viver com consciência.
Entre os ensinamentos que partilha, fala das quatro vias do Yoga — Karma (ação), Jnana (sabedoria), Raja (meditação) e Bhakti (devoção) — e conta como encontrou o seu caminho no Raja Yoga, mas também como Bali lhe ensinou a beleza do Bhakti: “Não há nada mais bonito do que a devoção à vida.”
No seu dia a dia, Sara vive Yoga através dos ciclos da lua, da contemplação da natureza, dos gestos simples, da escuta. E lembra: “Samadhi é libertação. Mas libertação não é deixar de sofrer. É conseguir observar a dor e a alegria com o mesmo olhar.”



Viver “Satya” — a verdade interior
Hoje, a Sara está a mudar-se para mais perto do mar. Deixou Lisboa. Quer viver com mais alinhamento.
“A fuga para Bali foi real, mas agora estou aqui. E quero viver Satya — a verdade — em Portugal.”
Recorda que, mais do que a não violência com os outros, o princípio ético do Yoga (Ahimsa) começa dentro de nós: “A não violência com o que somos. A não violência com a nossa verdade e integridade.”
E é por isso que se senta com a dor, que respeita os momentos de tristeza, que acolhe as emoções como parte do caminho, que cria momentos para estar atenta, observar e escutar.
Porque tudo passa. Porque tudo ensina. Porque, no fundo, o que importa é manter-se fiel ao que é.