Meias e Maratonas são as minhas distâncias preferidas. O treino de séries envolve estratégia e permite-me fazer aquilo que mais prazer me dá na corrida: correr a ritmo progressivo. Começar de forma confortável, aumentar naturalmente de velocidade e terminar a “todo o gás”, “como se não houvesse amanhã com o sorriso mais rasgado de sempre…
Exatamente o sorriso que eu tinha ao km 37 na Maratona de Roma. Esta é a melhor fotografia que alguma vez me tiraram numa prova – um italiano que ali estava junto às baias de segurança a fotografar os heróis que passavam na calçada. Procurou-me, através do meu dorsal, e partilhou a fotografia na minha página. Estou-lhe tão grata, nem ele imagina o quanto – é que… Eu estava a 5 Km do Coliseu de Roma… A 5 Km do fim e sentia-me com aquele power de quem sabe que vai terminar “em bom”, a espalhar saúde por todo o lado. Lembro-me de cortar a meta, tentar parar de correr, mas o meu cérebro ainda não tinha dado ordens às minhas pernas. Pudera… Foram 3h15 a correr…
E eu já sei: se quero ter velocidade numa Maratona não chega calçar os ténis e simplesmente ir correr. Queres ganhar velocidade? Ok. Então faz corridas progressivas; faz rampas; e faz SÉRIES – longas e curtas! Nesta quinta-feira eu fiz 3. “Apenas?” Sim, porque foram de 2000. E depois, amanhã espera-me um longo de 32 Km progressivos e a minha premissa é simples: correr “com muita saúde nessa hora”.
Treino de séries não é propriamente o treino que mais prazer me dá. Mas, ao mesmo tempo, o que me dá gozo é “dar corda” às sapatilhas de forma progressiva e atingir a velocidade ideal que me faz sentir que estou a “buuuuaarrr”. E eu adoro “buar” com B e não com V – tem graça e parece mais fácil – E isso só acontece se eu “rasgar o pano” no tartan.
Custa imenso, principalmente nas séries curtas porque tens mesmo de dar tudo. E na altura, enquanto estou a dar tudo na pista, penso: “anda Isabel… Tem de ser, depois no dia da prova vai ser só curtir”.
E na realidade é isto mesmo. Para fazermos aquilo que mais gostamos, muitas vezes temos de “engolir alguns sapinhos” e fazer coisas menos prazerosas – neste fase lembro-me muito do ditado que o meu avô Ramiro diz vezes sem conta – “Semeia para depois colher”.
E fazer séries é um dos treinos que fazem parte do meu compromisso com a Maratona de Sevilha. Bem sei que tenho uma vida para além das corridas, mas há treinos que não posso abdicar NUNCA (a não ser que esteja muito doente). Nem mesmo na minha semana de férias.
Por isso, nesta semana fui correr, pela primeira vez, na Pista de Atletismo de Faro.
Podes usar a pista gratuitamente e aproveito para elogiar, em primeiro lugar, as instalações: bons balneários, tartan em excelente estado e, por último e não menos importante, a gente que ali trabalha. De qualquer das formas, tens uma folha de inscrição para preencher.
Qual não foi o espanto da Dona Margarida quando recolheu o meu formulário: “AAAHHHHHHH!!!!! Não acredito! É mesmo a Isabel. Eu não a reconheci. A sua voz era muito familiar, mas fisicamente não estava de todo a ver bem… Gosto muito de si” – não percebi bem se sou mais “gira” ao vivo ou na televisão. Quero muito acreditar na segunda opção e que a maquilhagem e uns saltos altos tornam as pessoas mais… Mais… Senhoril vá. Uma riqueza a Margarida. Super calorosa, mas eu naquele momento estava era com os “calores”, em ansiedade para começar o treino. Fico sempre assim quando faço as séries. Como sei que custa, só quero é começar: “quanto mais cedo começar, mais cedo vou terminar”. Eheheheheh. Podem achar meio parvo, mas naquele momento faz todo o sentido na minha motivação.
Bom… Lá fui fazer 20 minutos de aquecimento nos arredores da pista. Não sabia bem por onde ia, mas fui correndo e, sobretudo, aquecendo. Esse era o objetivo – 20min a 4:50min/km. Depois, fui ao balneário buscar as águas e a minha longsleeve para os 10 minutos a trote no final do treino (o que seria “rapar frio” no final e arriscar uma constipação). Agora, vamos lá ativar – 4 retinhas. Tau!! Bom, e agora… AGORA É QUE É!!!! Ativar no relógio o treino programado: 3×2000 (7’51’’; 7’48’’; 7’31) com 3’ de descanso. “Choca aí João. Até já”. E começou!!!
Bom… Devo confessar que me custa muito mais treino de séries de 400 ou 800 do que treino de séries longas. Quanto mais curtas, mais rápidas, logo estas seriam em velocidade, mas controlada. Para além do mais, tenho o segundo dedo do meu lindo pé ligeiramente inflamado e não convém desafiá-lo hoje porque no domingo tenho um longo à minha espera. E a prova da minha ponderação é o intervalo de descanso entre as séries, assim como o próprio ritmo. Treinando assim sabia que não ia comprometer o meu rendimento nos dias seguintes (um dia falo-vos desta necessidade de respeitar os ritmos de treino. Hoje não há espaço na folha).
E não comprometi. E curti tanto fazer séries ali. Adorei este treino de séries!
Eu sou muito de rotinas, e às vezes não me agrada muito correr em locais diferentes e em pistas que desconheço. Mas também não vou deixar de gozar uns dias de férias porque não conheço a pista de Faro. Se é uma pista de atletismo, há por ali gente a correr e gente que gosta de correr, logo, dificilmente irei arrepender-me. E acertei. Em cheio. Conheci a Sandra, irmã da Ana Dias, ex-atleta do Sporting. Foi ela quem nos tirou uma destas fotografias. Mas isso foi mesmo só no fim, porque antes disso, depois do meu mega treino, estivemos à conversa sobre aquilo que é inevitável. E é tão prazeroso e estimulante falares com camaradas da corrida que olhem para este desporto da mesma forma que tu olhas – com respeito, foco, dedicação e muita loucura lá pelo meio.
Deu-me o contacto dela e hoje tive o privilégio de a conhecer na “Ana Dias Runner’s Club” – uma loja de desporto para corredores muito simpática, no centro de Faro. Bom
… Só para perceberem ela devia ter fechado a loja às 13 (isto porque hoje a Ana tinha a Corrida dos Reis aqui em Faro) e eu só saí de lá por volta das 14h00.
Não falámos nem metade daquilo que desejávamos, mas já assumimos um compromisso: amanhã vamos correr juntas. Eu e a grupeta dela. Tenho 32 Km para fazer e ela acompanha-me nos primeiros 16 Km – por caminhos que só ela sabe…
Eh pah… Eu bem sei que gosto de rotinas, ainda para mais em treinos tão desafiantes, mas estas aventuras com gente que sabe aquilo que está a fazer tem logo outra motivação.
Estou ansiosa que chegue amanhã. O meu foco são 32 Km. E é apenas isso – calçar os ténis e correr 32 Km.
A desfrutar da companhia e da natureza.
Depois de sair da Pista de Atletismo tinha outro compromisso, daqueles que aqui, no Algarve, NUNCA podes falhar (a não ser que estejas doente) – um belo mergulho no mar.
Ah pois… E mais uns alongamentos finais (a juntar aos que ja tinha feito na pista) também não fazem mal a ninguém.
Ai… Nada cai do céu, minha gente. E ainda bem. Caso contrário, não tinha metade do prazer!