Ainda não tinha dado o tiro de partida desta Meia Maratona – estava já eu “em entusiasmos”, pronta para pôr o relógio a funcionar – e já me perguntavam: “Então Bélinha, hoje é para baixar da 1h30?”. É que não foram muitos. Nem foram poucos. Já dizia a outra, “foram bastáántes até”! E apesar de, neste momento, eu ter vontade de soltar uma gargalhada (lembrei-me agora desta série de apanhados), naquele momento, dadas as vezes que tantos me perguntaram, (com a melhor das intenções, atenção!) o mesmo, eu pensei:
Esta malta não tem noção! Desde quando é que uma pessoa tem de ir a provas só para bater recordes? Desde quando ir sempre na piriska, gáspea e bolina (tudo ao mesmo tempo) é benéfico para mim? Desde quando uma corrida de qualidade implica sempre “dar tudo”?
E depois há outra: então, eu fiz uma contusão na rótula que me obrigou a parar de correr durante cerca de 2 meses, chegou a comprometer a minha ida à Maratona de Boston (este sim é o meu grande objetivo, correr 42.195m no dia 16 de Abril), comecei a correr há cerca de 3 semanas (e com muita calma nessa hora) e esta malta pensa que eu venho aqui para correr a 4.12 min/km? Confesso que, naquele momento, foi isto que eu pensei. Em jeito de “enervada”. Desculpem, mas sou muito impulsiva nos meus pensamentos e sentimentos e, quando assim é, vem tudo cá para fora. Isto significa que eu claramente lancei alguns olhares “vai mas é correr e faz melhor” ou “leva tu o triciclo que eu vou na minha”. Pensei muita coisa, mas depois só disse (até porque já estava a correr em alguns momentos dos comentários): “Amigo!!! Eu vou em treino. Agora não quero falar”. Pronto. Fui curta e grossa, porém educada!
Eu faço a festa antes e depois. Quando estou a correr também celebro o atletismo, mas estou a CORRER e, por essa razão, quero honrar e enaltecer o ato da corrida. Apesar de sorrir e curtir, eu vou no foco pessoal! Mesmo!
Durante os dois meses que estive sem correr, felizmente, não abdiquei de fazer aquilo que amo – treinar. Se tenho uma contusão na rótula, isso não significa que eu não consiga fazer outros tipos de desportos. Por essa razão nado, faço elíptica, treino funcional entre muitas outras coisas. Basta redireccionar o foco e gerir expectativas. Fiz muitas reflexões sobre a minha vida de atleta. Apesar da memória muscular, estar tanto tempo sem correr vai tirar-te resistência, velocidade e adormecer os teus músculos. Logo, quando retomares a corrida tens de o fazer de uma forma gradual e “guardar na gaveta” a performance que tinhas antes da lesão.
Terminar a EDP Meia Maratona de Lisboa a uma ritmo de 4.30min/km, tendo em conta a minha lesão, o tempo de corrida e as condições climatéricas do dia, foi só memorável para mim. Já corri meias maratonas a 4.12min/km, mas acreditem que cortar a meta desta prova foi das sensações mais prazerosas de sempre (no que toca a corridas, claaaro).
E tudo porque, nesta fase, eu preciso ficar CONFIANÇUDA!! Ou seja, acreditar que sou capaz, chutar as minhas mágoas para canto, pensar positivo e acreditar que sou uma “RunnerGirl” super forte!! Não estou a falar de insegurança. Longe disso! A “cena” é que eu tenho uma característica que me faz reflectir muito nos passos que dou na minha vida: chama-se CONSCIÊNCIA!! Eu tenho muita consciência do meu corpo e da “fase” em que ele se encontra.
Eu não corro com dor de lesão. Só admito a dor “do coração”, do cansaço que sentes quando sais da zona de conforto. E essa, deixa comigo. É essa que, nesta fase, eu tenho sentido. Estou a ganhar forma pessoal!! E isso leva o seu tempo. Mas desde o dia 27 de Dezembro até finais de Fevereiro, não foi esta última dor que me assistiu. Eu não estava bem para correr e eu já não sabia se ia à Maratona de Boston!!
Candidatei-me o ano passado e consegui. YEAAHHHH!! E vou com os meus melhores amigos – João, Geraldes, Rui e Catarina (há mais, mas esses foram à Maratona de Barcelona). Comprei viagem, dorsal, estadia… TUDO! E agora, fruto de uma queda estúpida e aparatosa, já não vou. Isssooooo é que era bom!! Ai vou vou!!! Tenho é de curar este dói dói até lá! Posso ter dúvidas, mas vou manter o foco e o espírito positivo!
E, na verdade, mantive esse espírito porque confio naqueles que cuidam da minha lesão. Estou a falar-vos do apoio do João Catalão, que é o meu osteopata, o Ricardo Paulino, o meu fisioterapeuta, o Arnaldo, o meu médico de família e o Urbano, o meu rico massagista. Escuto com muita atenção tudo o que me dizem… e sigo à risca. Eles não me falham: são honestos e conscientes quanto à minha condição de atleta.
Pah… todos diziam: “Tu vais a Boston buscar uma medalha”. E se são eles a dizerem isto, depois do final de cada tratamento, eu TENHO de acreditar! E acredito! Até porque há outro ponto fundamental – por mais que te digam o que fazer ou o que vai acontecer, TU é que tens de sentir. E na verdade, TU é que tens de saber. Tens de ser corajoso e dar-te “ao trabalho” de escutar o teu corpo, a tua razão e não apenas o coração. E de facto, eu lá no fundinho, também sinto que, mais do que grave, esta lesão é “só chata”. Torna-se grave porque pode comprometer a Maratona de Boston, neste caso, toda a sua preparação…
E não deixa de comprometer!!! Se antes da lesão eu pensei em manter ou melhorar o tempo à Maratona, AGORA não. Mantém-se o mais importante e aquilo que me move nas corridas: TER PRAZER E DESFRUTAR dos 42.195m. Porém, para manter os ritmos da Maratona de Sevilha, por exemplo, ou mesmo da Maratona do Porto (2017), eu tinha de ter ficado a 100% da lesão, mais cedo. Bem mais cedo. Só para terem uma noção, ainda hoje eu corro (sem dor), mas ainda não estou totalmente recuperada (ainda sinto incómodo a subir escadas e a fazer agachamentos, por exemplo.
Resumindo, aquilo que eu quero é terminar com saúde. Com a sensação de quem se preparou para uma Maratona, para terminar com um sorriso nos lábios. E para isso, tenho de ser consciente: não penso em split negativo, não passo a vida a olhar para o meu ritmo quando estou a treinar, não projeto os meus treinos da semana nos treinos de outras preparações…simplesmente penso no presente, naquilo que sinto e deixo-me levar pelas “ordens” do corpo.
Sabem que mais? “Tá muito bom assim”. Quando estava privada da corrida, eu só desejava correr 10 minutos sem dor. Hoje eu sinto que consigo correr a Maratona. Aprendi a colocar os desafios/objetivos em perspectiva. Esta lesão ajudou-me a gerir melhor as minhas expectativas. É bom e vou continuar a ter focos ao longo da minha vida (grandes e pequenos), mas com a noção de que, no caminho que percorres, podem existir percalços. Podes tentar evitá-los (e deves), mas se algo de menos bom acontecer, tens de saber lidar com a situação. De oura forma vais-te afundar! Mas isso “não vai dar”.
Okay… aceito a fase da revolta e do luto. Mas depois, a pessoa tem de refletir e ter ANDAMENTO, que a vida é só uma.
E por falar em “a vida é só uma”… também concluí o seguinte: maratonas há muitas, mas e joelhos? Só tenho dois e quero estimá-los. Vejo e conheço muito boa gente que sacrifica as suas lesões só porque não quer parar de correr. Não façam isso, pessoal! Mais vale parar para recuperar, o tempo necessário, do que ir insistindo/forçando numa lesão que, se calhar, até nem é grave, mas fruto do “não me conformo” pode tornar-se, no mínimo, crónica. E agora podia estar a falar-vos deste assunto até “amanhã de manhã”, mas não vai acontecer. Estou focada no objetivo deste artigo.
Mas vá, deixo só aqui o meu pensamento quanto a este assunto da lesão: mais vale curar de vez. E não duvides que depois, voltas mais forte – física e mentalmente. E pensem noutra coisa: todos os grandes atletas lesionam-se. E olhem esses… que fazem do desporto vida. Entendem?! Muitos dos que estão a ler este artigo correm ou fazem desporto para “desanuviar, curtir, desfrutar, sentir” depois de um dia de trabalho ou para ganhar energia para o dia que aí vem. Certo?! Correr para sofrer, NÃO! Só aceito o sofrimento “prazeroso” de sair da zona de conforto. Esse siiiimmmmm!!! Amanhã, domingo, espero sentir isso no longo de 30 km que tenho a minha espera.
Siga.
tudo isto para vos dizer que o meu objetivo nesta Meia Maratona era perceber se conseguia correr os 21Km, sem dor, DURANTE e DEPOIS da corrida a uma ritmo desafiante mas confortável. Ir com cautela, até porque falta um mês para a Maratona de Boston, e com noção de que este foi o meu primeiro LONGO do plano de treinos.
Fruto da lesão, tive de o reajustar. Claro que o facto de eu sempre ter praticado desporto, de ter corrido 4 Maratonas e, mesmo lesionada, ter conseguido fazer treinos estimulantes (aliás, fui partilhando todos os dias os meus treinos com a Filipa (PT do SOLINCA) e com o Luís no EFIT – para além da alimentação e descanso que tanto estimo, as massagens do Urbano e as sessões de crioterapia na Kryo Clínics – foram pontos chave fulcrais para retomar com qualidade.
Mas não deixa de doer!!! Começar a correr depois de quase 2 meses parada é sentir que, afinal, eu tenho quadríceps e gémeos. Não é fácil. A minha sorte é eu AMAR CORRER. É o que me safa…
O meu objetivo era simples: manter um ritmo constante e confortável e, se nos últimos quilómetros sentisse confiança, acelerar ligeiramente. Porém, abortei logo essa ideia quando percebi o temporal que íamos apanhar. Aliás, eu e, penso, todos os corredores da prova. Para além de, excepcionalmente, a corrida ter início no EIXO NORTE-SUL, a partir do momento que viras no sentido de Belém, levas com o vento de frente durante cerca de 9km.
O VERDADEIRO TEMPORAL ali por volta do meu km18 – CHUVA, GRANIZO, VENTO, FRIO… ao mais alto nível. Valeu a atuação musical de uma cantora que estava no ÚNICO PALCO da prova (sorri tanto quando passei por ela. A música comove-me e move-me para a mais feliz direção. É tão importante este tipo de apoio que o meu desejo é, no próximo ano, termos mais bandas ao longo do percurso), valeu pelos sorrisos de quem nos entregava as águas nos postos de abastecimento, não valeu pelo apoio nas ruas (muito poucas pessoas a dar uma força extra. Os poucos eram praticamente estrangeiros. Bem sei que o tempo não estava famoso… mas fomos na mesma correr, “né”?!), e tinha de valer pela tua vontade de garra d’atleta. E quanto a este último ponto… CARAÇAS!!! Eu tenho isso tudo!
Estava feliz! Porque via a meta, mas também me sentia a cortar a meta da Maratona de Boston. Sim… porque não falta um mês para correr a Maratona. Quando te preparas para ela, já estás a correr os 42.195m. O dia “D” é só o culminar daquele que é, para mim, um dos melhores desafios da vida.
Conheci, enquanto corria, a Amanda. Esta maravilhosa mulher da fotografia. É carioca e voou para Lisboa para correr a Meia Maratona. Claro que aproveitou mais uns dias para conhecer a cidade. Eu faço o mesmo. Adoro viajar para correr. É tão bom!! Cortas a meta, ganhas medalhas, conquistas confiança, conheces pessoas, culturas, costumes… e ganhas ainda mais vontade de fazer isto o resto da tua vida.
No final da prova, tinha a equipa do digital da EDP à minha espera para “dizer coisas ao MUNDO”. Pois, com certeza. Agarrei-me ao microfone e comecei a “debitar” as minhas sensações. E tinha de o fazer porque deixei o telemóvel em casa – e tudo porque não tínhamos transporte dos nossos pertences da partida para a chegada (gostava tanto que no próximo ano fosse diferente. Éramos todos mais felizes. Vamos acreditar). Continuando…
A Amanda vê tudo aquilo e diz assim:
“Nossa!! O que é que é isso?? Quem é você? Todo o MUNDO gritando “FORÇA Bélinha”, durante o tempo que eu corri do seu lado. Você é conhecida?”
Sabem… na verdade, eu sei que sou uma figura pública. Mas eu também sei que todo o apoio que recebi ao longo do percurso não é só porque eu sou a Isabel da TV… é muito mais do que isso. Mas mesmo MUITO mais do que isso – é que eu ali sou apenas uma Runner Girl que estima o “peso do dorsal”, que respeita a estrada que está a pisar e que corre com a ALMA e o CORAÇÃO que qualquer atleta quer e deve ter. E isso eu não digo. Isso é para sentir!
Eu por vezes levantava o braço, mas isso é arriscado para mim (foi à custa de um “acenar” ao km32 na Maratona de Sevilha que eu ganhei uma dor de burro que me fez correr curvada durante 10 km… lembram-se? Desabafei tudo no artigo da Maratona de Sevilha), por essa razão estive sempre a sorrir. SEMPRE! Não tinha como não sorrir. Afinal de contas eu estava a correr…e a correr uma Meia Maratona… sem dor e de cabelos ao vento!
OBRIGADA aos vencedores dos dorsais desta Meia Maratona. Não estive com todos, mas ainda abracei e dei dois dedos de conversa a 3 camaradas. Grata!!! Obrigada também a ti EDP… pela tua ENERGIA!!
Malta!!! Se tiverem fotografias minhas ou se, porventura, as encontrarem, enviem, please!!! Tenho poucos momentos registados desta meia maratona.