O Dia Mundial do Cérebro é uma iniciativa global promovida pela Federação Mundial de Neurologia que decidiu marcar esta data para aumentar a conscientização sobre as doenças neurológicas, promover a importância da investigação na área do cérebro, destacar os avanços científicos da neurologia e promover a conscientização da saúde do cérebro.
Pela DoBem, não queríamos deixar esta data passar em branco e sentimos em te falar sobre um fenónemo que é – tantas vezes – apenas associado apenas ao coração: o amor.
O amor é um dos sentimentos mais poderosos e complexos que podemos experimentar. Ele é capaz de nos levar a experiências profundas e transcendentes, criando uma complexidade de emoções – mas, também, de processos neuroquímicos que ocorrem no nosso cérebro.
A ciência por trás do amor sugere que uma série de reações químicas e atividades neurais desempenham um papel fundamental para sentirmos atração por outra pessoa. Uma das principais áreas do cérebro associadas a essa experiência é o sistema de recompensa, que é ativado quando nos envolvemos em comportamentos prazerosos, como comer alimentos saborosos ou receber elogios.
O cérebro também ama
O cérebro é a sede da experiência humana e, portanto, é o órgão central para processar o amor. E isto tem sido estudado e provado com ressonâncias magnéticas funcionais (fMRI) e tomografias por emissão de pósitrons (PET), que têm permitido observar como as diferentes partes do cérebro estão envolvidas nesse sentimento único.
Uma das áreas mais estudadas em relação ao amor é o córtex pré-frontal – uma região associada ao julgamento social, à tomada de decisão e à recompensa. Quando estamos apaixonados, é essa região que nos ajuda a avaliar e a tomar decisões relacionadas com este sentimento e com a(s) outra(s) pessoa(s) envolvida(s).
Outra área relevante é o núcleo accumbens – a dopamina, neurotransmissor que desempenha um papel essencial nas sensações de prazer e recompensa, é liberada nesta área quando estamos apaixonados, causando a sensação de euforia e felicidade associada ao amor.
O amor também está fortemente relacionado a certos neurotransmissores e hormonas que influenciam as nossas emoções e comportamentos. Além da dopamina, outros neurotransmissores importantes são a serotonina e a oxitocina:
O cérebro é o maestro que faz com que o amor seja um fenómeno emocional, mas que também tenha efeitos físicos notáveis. Quando estamos apaixonados, o nosso corpo pode experimentar uma série de reações biológicas, como aumento dos batimentos cardíacos, rubor facial, dilatação das pupilas e suor nas mãos. Essas reações são desencadeadas por um aumento nos níveis de adrenalina.
Além disso, como sabemos, o amor tem um impacto significativo em nossa saúde mental. Quando estamos num relacionamento saudável, a nossa saúde emocional pode melhorar significativamente, reduzindo os níveis de stresse e ansiedade.
O lado mais escuro do amor: a dependência
Embora o amor seja uma emoção maravilhosa, pode também ter um lado obscuro: a dependência química do cérebro em relação ao amor pode levar a situações em que experimentamos sentimentos de obsessão e angústia quando separados. Em termos neuroquímicos, essa dependência pode ser comparada a outro tipos de dependências, como álcool.
Estudos neurocientíficos revelam que quando alguém está profundamente apaixonado, áreas do cérebro associadas ao julgamento crítico podem ser suprimidas.
Dr. Pedro Schestatsky“O amor romântico também está associado à desativação de áreas do cérebro envolvidas no julgamento crítico e ideias negativas – o que explica aquelas declarações de amor em público e expressões amorosas, mesmo realiadas por pessoas tímidas.”
Isso pode explicar por que é que muitas pessoas apaixonadas tendem a ignorar defeitos óbvios ou a racionalizar comportamentos inadequados dos seus parceiros. Nesse estado, o cérebro prioriza o bem-estar emocional e a manutenção do vínculo amoroso acima de qualquer outra consideração.
A longevidade deste sentimento e os vínculos duradouros
A paixão intensa do início de um relacionamento tende a diminuir com o tempo, mas isso não significa que o amor se desvaneça. O que é curioso nisto, é que o cérebro passa a funcionar de forma diferente à medida que o relacionamento amadurece, com outras hormonas e neurotransmissores que desempenham papéis essenciais na construção de vínculos duradouros.
A vasopressina, por exemplo, está relacionada à monogamia e ao estabelecimento de laços de longo prazo. Ela promove a fidelidade e a ligação emocional entre parceiros. Além disso, a ocitocina continua a desempenhar um papel importante na manutenção dos laços afetivos, facilitando a comunicação e a empatia entre o casal.
O amor é um fenômeno incrivelmente complexo. Há séculos que este sentimento é representado pelo coração mas, na verdade, este envolve como que uma dança harmoniosa entre o cérebro, neurotransmissores e hormonas.
Hoje em dia – e cada vez mais – através das lentes da neurociência começam a ser desvendados os mecanismos subjacentes desse poderoso sentimento. No entanto, apesar de ocorrer no nosso cérebro – um fator comum a qualquer ser humano – o amor é multifacetado, sofrendo influências sociais, psicológicas e culturais – não podendo ser reduzido apenas a processos neuroquímicos.
O cérebro é, realmente, o maestro por trás desta maravilhosa orquestra de emoções e neuroquímica – que é uma das forças motrizes mais poderosas da humanidade, capaz de inspirar atos de grande bondade e compaixão. Compreender o papel que o cérebro desempenha neste sentimento permite-nos apreciar a beleza e a complexidade da experiência humana.