Meia Maratona de Munique: bati o meu record pessoal

Meia Maratona de Munique: bati o meu record pessoal

Preparar uma maratona é desafiante, mas traz coisas maravilhosas. O meu último desafio foi correr a Meia Maratona de Munique, onde bati o meu record pessoal.
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26.08.2018
Maratona

Quem nunca correu uma maratona costuma dizer-me muitas vezes que deve ser uma coisa mesmo muito difícil. Não é correr uma maratona que é difícil, aliás, correr uma maratona é quase sempre um prazer enorme para mim, o que é mesmo difícil é preparar uma maratona, são aqueles meses de treinos intensivos, duros, muitos deles ao frio, muitos ao calor, são aqueles dias em que temos de sair da cama às 4h30 ou às 5 da manhã, isso é que custa. Um dos dias mais importantes de uma preparação para a maratona foi esta sexta-feira, o dia em que, pela primeira vez, corri uma meia maratona (21 km) ao ritmo que quero impor no dia em que for correr a maratona.

É um treino fundamental para percebermos em que fase está o nosso treino, se estamos preparados ou não, se o corpo responde da forma que estávamos à espera, é o dia para testar abastecimentos, olhar com detalhe para a pulsação cardíaca, para os tempos que fazemos quilómetro a quilómetro.

Nesta sexta-feira, quis cumprir os 21 km a ritmo de maratona, ou seja, tentando manter um ritmo de 4’30’’ por quilómetro durante a meia maratona, e foi o que fiz. Quando parti, estava um pouco ansiosa e ia desconfiada e com algum receio porque sentia uma dor na perna que já me andava a incomodar há dois dias, mas a verdade é que me senti maravilhosamente e cumpri com o meu objetivo.

 

Para entenderem melhor a importância deste treino, partilho convosco o que fiz antes da minha última maratona, em Boston, que foi testar o ritmo de maratona, mas na Meia Maratona de Munique.

Antes desta meia maratona, tinha feito um treino longo de 35 km que me tinha corrido muito mal, porque cometi vários erros. E quais foram?

1.  Foi o meu primeiro longo em 8 meses, e talvez por isso, a estratégia de corrida foi errada. Fiquei sem energia aos 25 km e paguei isso no final.

2.   Comecei o treino às 8h45, logo, tomei o pequeno-almoço duas horas antes (atenção pessoal, estou a falar da minha experiência — outros atletas têm outros hábitos), mas não comi o que deveria ter comido. Optei por uma tapioca grande recheada com puré de batata doce. Não resultou. Na minha refeição pré-treino tenho sempre de incluir aveia e banana.

3.  Na hora do café, só comi 1 quadrado de chocolate de cacau. Devia ter comido 2.

4.   Não comi a banana 45 minutos antes do treino. Comi apenas mais um quadrado de chocolate. 

Por estas razões senti-me muito fraca ao longo do treino. Foi terrível. É uma tristeza correr com pouco prazer. A minha vontade era desistir. Valeram os géis que levei.

A verdade é esta – eu não deixo de ser IncríBel. Não desisti. Trabalhei a minha mente para uma possível adversidade no dia da Maratona. Todas estas experiências são importantes para nos tornarmos corredores melhores, mais eficientes e mais felizes.

Aprendi a lição. E fui com a lição tão bem estudada para Munique que acabei por bater o meu recorde à Meia Maratona. Cortei a meta com o maior entusiasmo e com a certeza de estar capaz de correr mais 3 ou 4 km ao ritmo do último km da Meia – 4’00’’. É assim que eu gosto de terminar. A dar tudo, a esgotar o tanque, mas sabendo que ainda tenho aquela energia extra que está guardada naquele cofre que só eu é que tenho a chave. Ehehehehe. TAU!

E antes de partilhar convosco o meu combustível antes da prova, deixem-me dizer-vos que a temperatura ajudou, e muito. Estavam 9 graus. E esta temperatura, para quem quer colocar alguma velocidade, é só espetacular. A prova era no domingo. Cheguei na sexta. Valeu o treino de 10Km no dia da chegada e os 35′ “calminhos” no sábado à noite. Porquê à noite? Porque a hora da prova era às 13h30 de domingo. Se achei tarde? Não. Na verdade lá faz muito frio e por essa razão nunca senti calor. Por outro lado, nesse mesmo dia decorria a Maratona e essa sim, teve início às 10h00 da manhã. Ainda acompanhei alguns maratonistas. Tive o privilégio de assistir a parte do percurso de algumas dezenas de heróis.

 

Uma das coisas que adorei nesta prova foi a música. Sempre que passava pelas bandas dava por mim a aumentar o ritmo. Considero-me uma corredora bastante consciente e cautelosa. No entanto, também sou profundamente emocional. Gosto de sentir tudo no limite e, por essa razão, nesses momentos, não tinha receio de ir na piriska. O corpo queria. E a minha mente também. Deixei rolar! Correr é sentir o vento a bater e a malta a apoiar. Também ouvi muitas vezes o meu nome. Aliás, uma portuguesa gritou pelo meu nome na varanda do primeiro ou segundo andar de um prédio. E um português deu-me um “give me five” e sorriu para mim. Isto sim foi um mega gel, daqueles que não se compram nas lojas. No final suei tanto que o meu Garmin apontou para as 1.110 calorias gastas nestes 21 km, o que para uma lady é top mundial.

Só mais um detalhe: cortei a meta no Estádio Olímpico de Munique. E terminar a Meia Maratona no estádio, no meu caso, foi uma emoção a dobrar. Se bem se lembram, na Maratona de Sevilha eu tive uma dor aguda no peito nos últimos 10Km (podem ler a aventura aqui) e, por essa razão, cheguei ao Estádio Olímpico cheia de dores, em grande sofrimento. Não senti a magnitude do estádio. Mas desta vez não. Desta vez senti tudo. Senti a grandiosidade do estádio e senti-me um Cristiano Ronaldo no seu melhor. Só não tinha o estádio cheio — só estavam lá o Catalão, a Inês e o Henrique, os três camaradas que também embarcaram nesta aventura). Foi mesmo uma emoção.

 

Depois é assim: uma prova que tem à chegada chá quente com mel já ganhou. É, certamente o que mais me sacia depois de provas de grande desgaste. Um quentinho que invade o corpo e a alma. Até o meu intestino fica um mimo. Depois, para não rapar frio tinha logo ali uma capa protetora, banana, bolinhos “yummy”, pão e colaboradores simpáticos. 

Terminei com uma média de 4’12’’.

No meio destas minhas divagações, ainda não partilhei convosco o meu combustível antes da prova. Cada corpo é um corpo e nem todos temos as mesmas necessidades. Um dos meus desafios na preparação de provas tem muito a ver com a minha alimentação – perceber aquilo que o meu corpo necessita. O corpo precisa de energia para funcionar e é cada um quem tem de descobrir a sua dose de energia. Como é óbvio, há sempre aquela base que acho importante cumprir antes das provas (pelos menos 2 dias antes).

·       Aumentar a ingestão de líquidos;

·       Acrescentar hidratos de carbono à refeição – lembrem-se que hidratos são sinónimo de energia — e vamos gastar essa energia toda;

·       Evitar comidas ricas em gorduras e com alto teor de sal.

 


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Eu escolho sempre comida fácil de digerir. Não sou amante de carnes vermelhas, muito menos de proteínas com alto teor de gordura, como por exemplo, os queijinhos. Sofro de outro mal: sou muito lambareira. Guardo esses momento de gula para depois da prova. Até lá mantenho o meu foco – dar a energia do Bem ao meu corpo. 

O que comi na véspera da prova

Se tive algum cuidado no dia anterior à prova? Sim. Nesse dia, véspera da corrida, tive muita atenção à água. Bebi pelo menos 1,5 litros de água. Não bebo bebidas gaseificadas, não como fritos, e em todas as refeições desse dia incluí uma pequena dose de hidratos de carbono. Por exemplo, nesse sábado o meu pequeno-almoço foi um batido de banana e aveia e duas tostas com mel.

De 2 em 2 horas, até à hora de almoço, fui comendo pequenos snacks, como cenouras, barras cruas e chocolate negro.

Quanto ao almoço, esse sim foi tardio. Começamos a almoçar às 17h00. Comi um prato vegano rico em hidratos de carbono e proteína vegetal. Vegetais crus e cozinhados nunca faltam. Antes do prato ainda pedi um sumo verde rico em espinafres. Destaco sempre as proteínas vegetais por serem mais fáceis de digerir no meu organismo. Todavia, não me canso de dizer que, cada corpo é um corpo e é importante vocês testarem os melhores alimentos para vocês. 

Bom, como almocei muito bem, acabei apenas por fazer uma pequena ceia, com uma bebida vegetal com canela e três tostas de arroz. Não tinha fome para mais. Por outro lado, queria acordar com vontade de tomar um mega pequeno almoço de atleta. E assim foi. 

O que comi no dia da prova

O tiro de partida era às 13h30. Ora, comecei a comer a minha primeira refeição do dia às 11h10, mais coisa menos coisa. Isso implicou “meter a mão” na cozinha as 10h45. Devo dizer-vos que acordei as 9h30 e, em jejum, tomei os meus 6 comprimidos de Spirulina, o meu probiótico, e tomei glucosamina em pó (na fase de preparação para Maratonas tomo sempre este suplemento. O desgaste nesta fase é maior, por isso, mais vale prevenir). Até comer ainda mandei abaixo 500ml de água. Fui logo 2 vezes à casa de banho. ImpecáBel!!

Ao pequeno almoço, comi a famosa Panqueca de Banana da minha mãe. Espreitem a receita aqui + 2 colheres de sopa de iogurte natural de soja (sem açúcares pessoal. Leiam os rótulos. Às vezes o que diz ser light não significa que é o melhor) e ainda acrescentei um punhado de framboesas. Depois, bebi um smoothie verde de 500 ml, à base de espinafres e maçã. Adorei a consistência e o sabor. Fiquei mesmo bem.

Posto isto, daí a 30 minutos, cumpri o meu ritual sagrado. Todos os dias, antes do treino tomo um café cheio com canela e 2 quadrados de chocolate negro superior a 85% de cacau ou então, mando abaixo os famosos chocolates da Iswari.

A cereja em cima do bolo, neste caso foi a banana, que guardei para 45 minutos antes da prova. Faz toda a diferença. E digo-vos uma coisa: segui tudo “à risca”. Comi tudo na hora certa e privilegiei os alimentos que nuca me deixam ficar mal, neste caso a aveia e a banana. A verdade é que, ao longo dos 21.095 km, nunca me senti cansada e sem energia. Nunca vou esquecer esta Meia Maratona!