Fomos ter com o mentor Manuel Pinto Coelho para entender o liga o intestino ao sistema imunitário. E, mais uma vez, voltamos ao essencial: o cuidado com a forma como vivemos.
Mais do que debater sintomas ou doenças, esta conversa é um convite a olhar para o corpo como um sistema vivo, dinâmico e inteligente — onde tudo está ligado. Esta é a abordagem deste médico que defende uma abordagem preventiva, integrativa e profundamente assente no estilo de vida.
O INTESTINO É A RAÍZ DA IMUNIDADE
Sabias que dentro do nosso corpo vivem mais de 100 triliões de microrganismos? A essa “bicharada”, como lhe chama Pinto Coelho, damos o nome de microbiota — um ecossistema invisível que habita principalmente no intestino e que tem um papel vital na forma como funcionamos, reagimos, pensamos e sentimos.

“É no intestino que começa o sistema imunitário. É lá que tudo se regula ou se desregula. E aquilo que comemos modifica, na hora, essas bactérias.”
Pinto Coelho fala com simplicidade, mas com urgência. Lembra que o intestino não é apenas um órgão digestivo — é um verdadeiro centro de regulação da saúde física, mental e até emocional.
EMOÇÕES E INTESTINOS
Sentimos tudo no estômago. Aquela “borboleta” antes de um encontro, o “nó” na barriga antes de uma decisão difícil — não são metáforas. O intestino tem cerca de 100 milhões de neurónios e está ligado ao cérebro por uma via de comunicação direta.
É o nosso segundo cérebro — ou talvez o primeiro. É nele que sentimos as coisas mais viscerais. Quando estamos desequilibrados emocionalmente, o intestino sofre. E, muitas vezes, quando o intestino está inflamado ou em disbiose, as emoções também se tornam mais instáveis.
Esta ligação explica por que razão pessoas com problemas intestinais desenvolvem ansiedade, irritabilidade ou depressão. O eixo intestino-cérebro é real — e cuidar dele pode ser um verdadeiro ato de saúde emocional.
SEROTONINA: O QUÍMICO DA ALEGRIA COMEÇA CÁ DENTRO
Se te dissermos que a maior parte da serotonina — a molécula que regula o humor e a sensação de bem-estar — é produzida no intestino, acreditas?
“A serotonina é produzida maioritariamente no intestino. Quando há tristeza, depressão ou desmotivação, antes de tomarmos um comprimido, devíamos olhar para o intestino”
Pinto Coelho
Ou seja, cuidar da microbiota, melhorar a digestão, eliminar alimentos inflamatórios e incluir alimentos vivos e fermentados não é apenas bom para o corpo — é bom para a mente.
ALIMENTAÇÃO, INFLAMAÇÃO E STRESS: AS TRÊS GRANDES CAUSAS
Há três grandes agressores silenciosos que comprometem a saúde intestinal e, por consequência, a saúde em geral: o açúcar, o glúten e a caseína. Estes alimentos são considerados pró-inflamatórios e podem afetar negativamente a permeabilidade intestinal, originando aquilo que se chama de “intestino permeável”.
Mas há outro inimigo silencioso: o stress crónico. O excesso de cortisol, libertado constantemente em situações de stress, compromete o sistema imunitário e favorece a inflamação.

“A ansiedade faz parte da vida. O stress crónico, não. Ele desregula tudo: desde o sistema digestivo ao hormonal, e está na origem de muitas doenças.”
Manuel Pinto Coelho
MICROBIOTA E EPIGENÉTICA: PODEMOS MUDAR O RUMO
Os nossos genes não são o nosso destino. O que mais importa é o ambiente onde esses genes se expressam. A epigenética é o campo da ciência que mostra que os nossos hábitos, emoções, alimentação e estilo de vida podem “ligar” ou “desligar” genes — incluindo os associados a doenças crónicas.
Aquilo que comemos, a forma como dormimos, a exposição à natureza, o exercício, os pensamentos que alimentamos — tudo conta. Podemos mudar o rumo da nossa saúde. Temos de começar a olhar para a raiz das coisas.