Fisioterapia Pélvica: uma terapia eficaz para incontinência

Fisioterapia Pélvica: uma terapia eficaz para a incontinência

Do BemDo Bem
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14.05.2024
icontinencia

A fisioterapia pélvica previne e trata as disfunções do pavimento pélvico, que é o conjunto de músculos, ligamento e fáscias localizados na base da nossa bacia. Uma das disfunções mais comuns, que afeta 1 em cada 3 mulheres, é a incontinência urinária – e a fisioterapia pélvica deve ser a primeira abordagem para o tratamento deste desafio! Vamos saber mais.

 

Olá, eu sou a Madalena e estou aqui para vos falar de um tema que, embora não pareça, é fascinante e muito importante: a fisioterapia pélvica. Muitas mulheres descobriram este nome depois de terem sido mães – de forma a obterem uma avaliação ou ajuda para resolver alguma queixa que surgiu depois do parto. Mas, a fisioterapia pélvica ajuda-nos em muitos outros casos.

 

FISIOTERAPIA PÉLVICA – O QUE É

 

O pavimento pélvico desempenha várias funções como o suporte dos órgãos pélvicos, continência urinária e fecal e função sexual, sendo que a fisioterapia pélvica tem como objetivo prevenir e tratar queixas e sintomas que estão relacionados com alterações em alguma destas funções.

 

Algumas das queixas e sintomas mais comuns são as perdas de urina, sensação de peso vulvar (prolapsos), obstipação, dor pélvica e dor nas relações sexuais.

A fisioterapia pélvica tem também um papel fundamental durante a gravidez, na preparação para o parto e tratamento de eventuais queixas, bem como na recuperação pós-parto, na recuperação da função e tratamento de cicatrizes de episiotomia, laceração ou cesariana.

 

 

O QUE ACONTECE NUMA SESSÃO DE FISIOTERAPIA PÉLVICA?

 

Se imaginarmos a nossa cavidade abdominal como uma casa, os músculos do pavimento pélvico são o chão dessa casa e têm uma forte ligação com o telhado – diafragma, músculo responsável pela respiração – e com as paredes – músculos abdominais e da coluna. Esta ideia de casa, e de que todas as partes dependem umas das outras para serem funcionais, mostra-nos a importância da relação que o pavimento pélvico tem com a respiração e com o controlo abdominal. A sua funcionalidade depende ainda da componente postural. Assim, numa sessão de fisioterapia pélvica, o pavimento pélvico não pode ser visto isoladamente, sem ter em conta todas estas relações que influenciam a sua funcionalidade.

 

Numa primeira sessão, fazemos um levantamento das queixas e sintomas que trouxeram a paciente até à consulta.

Depois pesquisamos um bocadinho melhor, e fazemos algumas perguntas relacionadas com a função urinária, função anorectal e função sexual. Nem sempre os sintomas de disfunção, ou indicadores de maus hábitos, são óbvios! Por isso, é muito importante fazer algumas perguntas mais específicas para juntarmos as peças todas do puzzle, que nos permitirá interpretar melhor as queixas e sintomas referidos.

 

Como o pavimento pélvico não é uma zona muito visível no nosso corpo, há, geralmente, um desconhecimento sobre esta parte do corpo. E é precisamente por aqui que começamos: garantir que a dinâmica abdomino-pélvica funciona em todas as suas componentes.

 

Há muito trabalho de consciência corporal e de alteração de comportamentos, que implica motivação, e que implica que as pacientes façam alguns trabalhos de casa para serem parte ativa no seu tratamento.

 

Só depois de interiorizada toda esta dinâmica global de funcionamento do pavimento pélvico, que pode demorar algumas sessões, é que avaliamos objetivamente este grupo de músculos.

 

Ao contrário daquilo que é o conhecimento geral, estes músculos nem sempre estão fracos e não têm de ser necessariamente fortes. Têm sim, de ter amplitude de movimento, como qualquer músculo do nosso corpo, para serem funcionais, ou seja, para que cumpram adequadamente a sua função.

 

Após esta avaliação, são então definidas as necessidades e prioridades no tratamento. Uma das componentes mais importantes no tratamento de uma disfunção do pavimento pélvico é a alteração de comportamentos: hábitos posturais no dia-a-dia, hábitos de ida à casa de banho, como sentar na sanita, respeitar a vontade de urinar ou evacuar, ingestão de líquidos, entre outros.

 

INCONTINÊNCIA – O QUE É

 

A incontinência urinária é uma das disfunções do pavimento pélvico mais comuns, afetando 1 em cada 3 mulheres. É definida como qualquer perda involuntária de urina (seja de pouca ou muita quantidade), que pode surgir com um esforço (por ex.: espirro, tosse ou impacto), pode surgir com a urgência para urinar, ou pode ser mista. A idade avançada, a obesidade, a menopausa, o número de gravidezes, partos vaginais ou cirurgias ginecológicas, são alguns dos fatores de risco que podem levar a esta disfunção.

 

A incontinência urinária tem um impacto significativo na qualidade de vida das mulheres, a nível psicológico, social e físico. E, por isso, é muito importante olharmos para este tema.

 

 

COMO A FISIOTERAPIA PÉLVICA AJUDA NA INCONTINÊNCIA

 

A fisioterapia pélvica deve ser a primeira abordagem a considerar no tratamento conservador da incontinência urinária. Através da avaliação dos sintomas, dos comportamentos e hábitos de vida, e de uma análise global das estruturas que influenciam o funcionamento do pavimento pélvico, o fisioterapeuta trabalha com a paciente a consciência corporal que lhe permite promover e potenciar diariamente a funcionalidade das componentes que estão afetadas.

 

Infelizmente, o fortalecimento dos músculos do pavimento pélvico (e os famosos exercícios de Kegel), está ainda muito associado ao tratamento universal para toda e qualquer incontinência. Sem uma avaliação objetiva, através de palpação vaginal, pode ser contraproducente prescrever exercícios de fortalecimento para músculos que podem não cumprir a sua função precisamente porque são demasiado fortes ou tensos.

 

Então, a incontinência urinária, que geralmente se associa a um pavimento pélvico fraco ou pouco forte, pode, na verdade, existir quando temos um pavimento pélvico demasiado tenso, encurtado e com pouca amplitude de movimento. Correção postural, distribuição de carga nos membros inferiores, gestão da pressão intra-abdominal, estabilidade abdominal e a respiração, são pontos fundamentais a ser trabalhados num caso de incontinência, para que haja um equilíbrio entre todas estas componentes, permitindo que o pavimento pélvico esteja “livre” para cumprir adequadamente a sua função.

 

Por estar relacionada com a vida íntima, esta situação tende a ser negligenciada pela própria mulher que tem queixas. Assiste-se a uma certa relutância em abordar o assunto e em procurar ajuda para a resolução do problema. É muitas vezes encarado como sendo normal, como parte do processo de envelhecimento, ou associado à fase da gravidez e da recuperação pós-parto.

 

O adiamento ou ausência de tratamento, vai levar a um agravamento dos sintomas e impacto na qualidade de vida vai aumentar. Não é suposto haver perdas involuntárias de urina, sejam de grande ou pouca quantidade, muito ou pouco frequentes. Na presença deste sintoma, é muito importante procurar ajuda imediata.

 

Como forma de prevenção, há alguns hábitos que devemos adotar:

  • respeitar a vontade de urinar
  • manter a ingestão de água adequada (pelo menos 1,5L/dia),
  • evitar o consumo excessivo de agentes diuréticos e irritantes da bexiga (café, álcool, chá, comidas picantes, bebidas com gás)
  • manter um peso saudável.

 

Felizmente, a fisioterapia pélvica tem vindo a ser cada vez menos um assunto tabu: é mais falado pelos médicos de família, ginecologistas e obstetras, e também em redes sociais e até entre amigas. Devemos continuar este trabalho de desmistificar o tema e alertar as mulheres para a sua saúde pélvica, para que a fisioterapia não seja procurada apenas como último recurso, depois de surgirem as queixas, mas para que se possa ter uma ação preventiva e evitar que elas surjam!

 


 

Madalena Saraiva
Fisioterapeuta desde 2015 – POWER CLINIC – Formações na área da saúde da mulher, e exercício físico na gravidez e no pós-parto.
Trabalha, exclusivamente, com saúde da mulher, em aulas de pilates clínico e fisioterapia pélvica