É possível compostar num apartamento? Claro que sim, e quero mostrar-vos como

É possível compostar num apartamento? Claro que sim, e quero mostrar-vos como

Sempre fui muito consciente nos meus atos em relação às pessoas e ao mundo e, mesmo quando erro de forma inconsciente ou consciente, encaro-o como uma aprendizagem. Porque a vida é mesmo isso: uma constante aprendizagem. E se há um ano achava que estava longe de compostar num apartamento, hoje digo-vos: tenho um compostor em casa. A culpa é do Rodrigo Sabatini e da Eunice Maia.
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02.04.2020
compostar num apartamento

O Rodrigo é o presidente do Instituto Lixo Zero no Brasil, fundador e mentor do movimento Zero Waste Youth. É um homem com uma alegria e serenidade deliciosas, e tive a oportunidade de o conhecer no ano passado quando estive no Congresso CouraVeg. Estivemos horas à conversa e um dos temas de que falámos foi da minha vontade em compostar em casa.

A verdade é que a Mentora Eunice Maia, responsável pelo projeto Maria Granel — que tem duas lojas, uma em Alvalade e outra em Campo de Ourique e uma loja online —, e autora do livro “Desafio Zero”, já me tinha dado umas luzes sobre como fazer isto em casa. Mas, sabem, às vezes não basta dizerem-nos como fazer, e não basta termos vontade de fazer. É preciso realmente fazer acontecer. E eu nunca tomava esse passo, porque a minha cabeça estava cheia com outros projetos, pessoas e profissionais.

E isso não tem mal nenhum, certo? Não temos de fazer tudo ao mesmo tempo. É bom ter metas, mas tão importante quanto tê-las é priorizar e irmos por partes.

Uma das minhas metas para 2020, antes mesmo de imaginar que estaríamos numa pandemia, era começar a compostar. Decidi que este seria o ano para o fazer e que não ia deixar passar mais um ou dois meses. Tinha de ser agora. E se tudo me parecia complicado, cheguei à conclusão de que as coisas só realmente o são até metermos a “mão na massa”.

“Querida Belinha. É tão simples. Vais ver”, disse-me a Eunice, vezes e vezes sem conta.

“Isabéu eu te ajudo. Eu vou em sua casa e coloco lá três baldes para teres o teu composto”, disse-me o Rodrigo.

E assim foi, malta! O Rodrigo veio cá a casa e, para além de me trazer o compostor, ainda me deu uma explicação de como devemos fazer.

Obrigada, Rodrigo. Era deste empurrão que eu precisava. Agora os restos de vegetais, frutas, folhas verdes, cascas de ovos, partes que não tenha conseguido aproveitar de hortaliças, pão e cascas cá de casa transformam-se em fertilizantes naturais.

E o que vou fazer com o composto resultante deste processo? Posso pensar em produzir o meu próprio adubo para fazer um canteiro com as minhas flores e aromáticas ou, simplesmente, oferecer ao jardineiro cá do prédio, por exemplo.

Mas afinal, o que é a compostagem?

A compostagem doméstica faz sentido para todos, mas, falando do meu caso, vocês não imaginam a quantidade de resíduos orgânicos que eu acumulo na minha cozinha. Eu cozinho muito, e mesmo os meus lanches, para além dos almoços e jantares, são sempre confecionados por mim. Sou capaz de lanchar uma sopa, ou legumes escaldados com uma proteína e sementes ou, até mesmo, fazer uma refeição igual às principais. Porque adoro comer comida de verdade.

Portanto, faz todo o sentido dar utilidade às sobras e evitar que diariamente elas sejam enviadas para um aterro. Estejam atentos ao que descascam e vão perceber que, cerca de metade do nosso saco do lixo é constituído resíduos orgânicos. E sabem o que é que acontece a estes resíduos? Disse-me a Eunice, e tal como escreveu no seu livro, citando um especialista — Paulo Conett (autor de “Zero Waste”), que quando a matéria orgânica é enterrada, como acontece quando vai para os aterros, “desfaz-se por um processo anaeróbio, gerando gás metano, bem pior do que dióxido de carbono”, quem diria! Ou seja, ao enviar para aterro estes recursos, estamos a contribuir para a poluição e aquecimento global, em vez de, de forma circular, devolver à terra o que dela veio e gerar novamente vida.

A compostagem é um processo biológico no qual os microorganismos transformam a matéria orgânica numa substância parecida com o solo, à qual chamamos composto que é, como diz a Eunice, um adubo rico em nutrientes que fertiliza o solo e melhora o crescimento de plantas, relvados e jardins.

O que podemos compostar? 

Segundo diz a Eunice no seu livro, existem dois tipos de resíduos que precisamos de usar para compostar e para que o processo resulte. Precisamos de equilibrar então os castanhos (matéria seca) e os verdes.

Castanhos (seco)

Folhas, relva seca, cascas de batatas (que devem secar durante a noite), palha, restos de podas, papel sem tinta nem cola, serradura, aparas de madeira, raminhos pequenos e finos e madeira não tratada.

Verdes

Folhas verdes, relva seca, ervas daninhas, vegetais e frutas, borras de café. Não devemos colocar citrinos nem produtos ácidos, carne e peixe, comida temperada, medicamentos, beatas, excrementos de animais, cinzas nem alimentos com gordura.

Agora, como posso compostar num apartamento?

Para fazerem um compostor caseiro, com minhocário, isto é, a compostagem que acontece graças aos microrganismos como as bactérias e fungos e com a ajuda de minhocas, tudo começa com baldes, que podem ser novos ou reutilizados.

Têm de ter, no mínimo, três compartimentos. Será nos dois primeiros, os digestores, que toda a transformação acontece e, por isso, não se esqueçam de fazer alguns furos por baixo destes dois baldes. É graças a eles que os líquidos vão ser escoados e que as vossas minhocas vão conseguir circular para cumprirem a sua missão. Para garantirem a ventilação e oxigenação, façam também uns furos mais pequenos perto das tampas dos baldes.

Para começarem, coloquem um pouco de terra já compostada com minhocas num dos vossos baldes digestores — os tais com furinhos. É essa camada que vai servir para gerar fungos e bactérias necessários ao vosso composto.

Depois, têm de ir intercalando os resíduos húmidos (verdes) com secos (castanhos). Cada camada deve ter cerca de três dedos de altura, e repetem o processo até chegarem à tampa. Depois, voltam a fazer tudo novamente no segundo balde.

Tenham sempre atenção à humidade do vosso balde. Não deve estar muito húmido e, se estiver, coloquem mais um pouco de secos para manter tudo equilibrado. Depois, é deixar a natureza, e as vossas minhocas, fazerem o seu trabalho.

O adubo está pronto quando a terra estiver escura, molhada e sem cheiro.

Se tiverem mais espaço, podem optar por compostar sem usar um minhocário. Podem ver aqui o passo a passo, mas não difere muito do processo anterior.

Imagem do livro “Desafio Zero”, da Eunice Maia, feita pela Helena Loução

Fatores que influenciam o processo?

Tempo. O tempo é, sem dúvida, dos fatores mais importantes. Não esquecer que, como em tudo na vida, compostar é um processo, e vai levar o seu tempo. Há que ter paciência e saber que não vão ver resultados de hoje para amanhã. Mas, se aceitarem investir esse tempo, tudo se faz.

Claro que há coisas que devem ter em conta antes de começarem a compostar. Primeiro, evitar colocar no vosso compostor todas as coisas que mencionei em cima, porque podem comprometer a saúde das vossas minhocas e o processo natural de compostagem dos resíduos. Depois, tenham o cuidado de não deixar o vosso minhocário ao sol, nem à chuva. Muito importante. O ideal, mesmo, é que ele fique na varanda, numa zona resguardada onde não seja incomodado.

Tenham também atenção à circulação de ar, que é muito importante. Por isso é que devem fazer aqueles furinhos de que vos falei acima. É graças à presença de oxigénio que os microrganismos fazem o seu trabalho e promovem a compostagem.

Cuidado também com a humidade. Não deixem o vosso compostor ficar muito seco nem muito húmido. A ideia é que tudo esteja equilibrado. Podem fazer um teste muito simples: peguem num pouco dos vossos resíduos e apertem com as mãos, se pingar, está muito húmido, metam mais secos, se acharem muito seco, mais verdes e água, se for preciso.

Compostores Comunitários — onde encontrar?

Existem já vários compostores comunitários em várias zonas urbanas. Deixo-vos aqui alguns onde podem depositar os vossos resíduos!

Lisboa

Alcântara: Calçada Ernesto Silva, junto às hortas comunitárias

Campolide: Avenida Conselheiro Fernando Sousa, junto ao muro do antigo quartel

Areeiro: R Presidente Wilson, logradouro Oeste, perto da Praça de Londres

Olivais: Rua Cidade Lobito, Quinta Pedagógica dos Olivais

Encarnação: Rua Sargento Armando Monteiro Ferreira, Junto ao posto de Limpeza da Junta de Freguesia

Amadora: Parque Central da Amadora (junto ao Eco-Espaço)

Odivelas: Parque Integrado da Ribeirada, Odivelas.

Odivelas: Parque Verde das Colinas do Cruzeiro

Vila Franca de Xira: Hortas urbanas do Ecoparque, atrás da Rua do Tejo

Porto

Podem consultar aqui a lista de locais de compostagem comunitária

Façam também uma pesquisa online, vejam junto das vossas juntas de freguesia e câmaras municipais e percebam se há projetos a decorrer nas vossas zonas. Quem sabe o vizinho do prédio da frente não se lembrou de criar um compostor e vocês podem contribuir para isso!

Ainda estou no processo, mas estou muito feliz com esta conquista. Agora que comecei, percebo a importância deste pequeno gesto e dou conta do poder e riqueza da mãe natureza. Ela faz coisas incríBeis. Nada se perde. Tudo se transforma.

Este artigo serve apenas para partilhar convosco uma das minhas metas. Não digo com isto que vocês agora devem começar já a compostar nas vossas casas. A ideia não é essa. Mais importante é entendermos o que é e os benefícios que pode trazer para nós e para o nosso Planeta. Só depois devemos agir, sempre em conformidade com o nosso propósito.

Nunca se esqueçam: baby steps. Cada no seu ritmo e com as suas prioridades. Interessa sobretudo entendermos o que estamos a fazer.

Isabel Silva

A Isabel Silva nasceu a 8 de maio de 1986 e é natural de Santa Maria de Lamas. Licenciou-se em Ciências da Comunicação, pela Universidade Nova de Lisboa, e fez uma pós-graduação em Cinema e Televisão pela Universidade Católica. Fez um curso de Rádio e Televisão no Cenjor e foi o seu trabalho como jornalista e produtora de conteúdos na Panavídeo que a levou para a televisão, em 2011. Durante 10 anos apresentou programas de entretenimento e, de forma intuitiva e natural, percebeu que aquilo que a move é a criação de conteúdos que inspirem, motivem e levem os outros a agir. Tem uma paixão enorme por comunicar e tudo o que comunica está intimamente ligado a uma vida natural carregada de energia, alegria e simplicidade.

É autora dos livros “O Meu Plano do Bem”, “A Comida que me Faz Brilhar”, “Eu sei como ser Feliz” e da coleção de livros infantis “Vamos fazer o Bem”.

Descobriu a paixão pela corrida em 2015, em particular pela distância da Maratona – 42.195m. Tem o desejo de completar a “World Marathon Majors” que inclui as 6 maiores Maratonas do Mundo. Já correu Londres, Boston, Nova Iorque e Berlim.

Esta vontade de gerar um impacto positivo nos outros levou-a a criar novas áreas de negócio, como um ginásio de eletroestimulação – o Efit Isabel Silva – uma marca de snacks saudáveis, a IncríBel e a VOA.

A 14 de Dezembro de 2016 lançou o blogue Iam Isabel e que hoje, numa versão mais madura, mas igualmente alegre e enérgica, é o canal DoBem.