Tenho acompanhado algumas famílias no desmame nos últimos tempos. De mulheres que precisam de ajuda para encontrarem estratégias para guiar o desmame dos seus bebés de forma respeitadora.
Elas existem realmente, mas não é um processo fácil nem para a mãe nem para o bebé.
Sempre que começo uma consulta de desmane, que por norma são sempre mães maravilhosas que me procuram a partir dos 24 meses, por diversos motivos. Ou porque socialmente sentem pressão, ou sentem pressão da família, ou querem engravidar, ou sentem repulsa algumas vezes ao amamentar ou porque não querem mais e sentem-se culpadas por isso.
O início destes acompanhamentos são sempre muito emotivos e o meu conselho é sempre:
“Procurem ajuda porque a culpa dividida é sempre um processo mais fácil de ultrapassar. A partir do momento que decidam fazer o desmame da vossa criança, sempre que derem de mamar, pensem que pode ser a última vez, então encham-se de amor e despeçam-se em vez de querer que aquilo acabe logo”.
Não existe um momento certo – ou errado, para o desmame.
O leite materno é o alimento ideal para o bebé humano. A Organização Mundial de Saúde assume que o aleitamento materno deve ser exclusivo até aos seis meses e, idealmente, ser mantido por um mínimo de dois anos. Contudo, existem vários motivos que podem levar a este fim de ciclo. Alguns, são impostos – outros, podem ser por decisão da mãe.
Sabemos que a cessação da alimentação por leite materno, vulgo “desmame”, faz parte do processo de amamentação e deverá dar-se naturalmente com o desenvolvimento da criança. No entanto, na sociedade moderna, vemos o processo da amamentação ter a interferência de diversos factores (biológicos, psicológicos, sociais e culturais) levando a que surjam outros tipos de desmame que não o natural.
Contudo, a amamentação é sobretudo uma relação entre duas pessoas – a mãe e o bebê – e, como toda relação, precisa funcionar bem para ambos.
São factores que potenciam o processo de desmame e que leva a que sejam adoptados comportamentos inadequados para cessar o aleitamento.
Chegou a uma altura em que não podes ou consegues mais amamentar – o teu filho cresceu, e – seja por que motivo for – é necessário que se inicie o processo de desmame: um desmame gradual, flexível, progressivo, leve e sem pressa.
Sabemos que todo o desmame, não sendo natural, é uma mudança abrupta nos hábitos de vida da díade mãe-bebé – sendo experimentado de forma desagradável por um dos dois ou por ambos. A realização do desmame desencadeia, na mãe e no filho, consequências comportamentais e sentimentais que não podem ser consideradas inócuas. Assim, qualquer decisão de desmame não natural pode – e deve – ser ter ajuda especializada.
Ao contrário do que possas pensar: as Consultoras de Lactação não servem apenas para te ajudar… na amamentação! Ou seja, na primeira fase deste processo. Por vezes – quando precisamos de ajuda e suporte – apenas não nos lembramos, assumindo um peso desnecessário que se torna solitário e nos enche de angústia.
É importante serem conhecidos os motivos e estudadas estratégias por forma a minimizar desconforto que daí possam advir ou de forma a contornar os obstáculos e recuar na decisão se assim for a tua vontade.
Ainda que o desmame se dê de forma natural, não é raro surgirem dúvidas e até sentimentos de tristeza para a família por esta transição. É por isso que a orientações de especialistas na área para adaptação de estratégias simples podem ajudar processo e antecipar o que se segue.
Sabemos que todo o processo de maternidade gera cansaço e que, muitas famílias, têm dificuldade em se adaptar e organizar no que diz respeito à distribuição de papéis e tarefas.
Em todo este processo, é importante que ambos os progenitores estejam incluídos e se apoiem. O desmame não é exceção.
Alexandra Ramos, Amamenta Mais