Um estudo assinado pelo neurocientista Richard Davidson identifica a felicidade como uma habilidade que se pode desenvolver a partir de quatro pilares: resiliência, olhar positivo, atenção plena e generosidade. Para o especialista, estas são as áreas mais relevantes, capazes de prolongar uma sensação de harmonia. Mas, e quando a tristeza aparece? É nesse momento que entra em ação a equanimidade.
A equanimidade é um estado de equilíbrio emocional no qual se mantém uma atitude serena e imparcial diante de situações desagradáveis, agradáveis ou neutras. É uma qualidade mental que envolve a capacidade de enfrentar altos e baixos da vida sem se ser dominado por emoções intensas como raiva, ansiedade ou euforia excessiva.
Na prática, a equanimidade não significa indiferença ou apatia, mas sim a habilidade de observar os acontecimentos com clareza e aceitação, sem ser arrastado pelas emoções. Isso permite tomar decisões mais sábias e manter a paz interior, mesmo em momentos desafiadores.
Para sabermos mais sobre este assunto, o professor de yoga e meditação Luís Matias, que conheceste no artigo da DoBem, dá-nos a conhecer três nomes:
Então, como se aplica a equanimidade no dia a dia? Perguntámos ao Luís Matias como o fazia e ele contou-nos:
“Talvez a melhor forma de praticar e desenvolver a equanimidade seja aceitar uma das leis universais da Natureza que nos diz que tudo é impermamente. Nada é permanente, tudo é transitório. Desde as particulas mais pequenas no nosso corpo, às estrelas mais longinquas, tudo está em constante mudança. Tanto o sofrimento quanto o prazer são transitórios, e perceber isso ajuda a reduzir o apego e a aversão, que são as raízes do sofrimento. Todas as experiências são temporarias, as boas e as más”.
A equanimidade não é apenas uma prática emocional, mas também intelectual. Surge da percepção profunda da interdependência e da impermanência de todas as coisas. Essa compreensão dissolve a ilusão de separação entre nós e o outro, entre nós e tudo o que exiete, e permite-nos lidar com a vida de maneira mais plena e serena.
Aceitar a realidade como ela é talvez seja a melhor forma de praticarmos ou desenvolvermos a equanimidade. Citando o conhecido poeta e pensador persa Rumi: “Tente não resistir às mudanças que chegam ao seu caminho. Em vez disso, deixe a vida fluir através de si. E não se preocupe: ela não deixará lugar nenhum vazio”. No seu poema famoso A Casa de Hóspedes, Rumi convida-nos a receber tudo o que chega, seja tristeza, alegria ou raiva, como um visitante temporário enviado pelo Divino. Isso reflete a essência da equanimidade: aceitar a transitoriedade de todas as experiências com serenidade e abertura.
“Este ser humano é uma casa de hóspedes.
Cada manhã uma nova chegada:
Uma alegria, uma tristeza, uma mesquinhez,
Algum momento de consciência chega como um visitante inesperado.
Receba-os e acolha todos!”
A prática do Yoga, da Meditação e do Mindfulness são algumas práticas contemplativas que nos ajudam a desenvolver a equanimidade porque, quando praticamos, aprendemos a tornarmo-nos observadores atentos e imparciais, simples testemunhas ou espectadores de tudo o que vai surgindo, sejam sensações, emoções ou pensamentos, seja eles agradáveis, desagradáveis ou neutros. Observamos tudo o que nos surge sem avaliarmos ou julgarmos, sem nos identificarmos, sem nos envolvermos. Em vez de reacções automáticas e impulsivas aos estimulos e situações que vamos recebendo, em vez de estarmos em modo “piloto automático”, as práticas contemplativas ensinam-nos a estarmos mais despertos, mais conscientes e a transcender o hábito de reagir impulsivamente, sem sermos escravizados por emoções ou desejos
Tal como quando observamos uma nuvem no céu e ela vai acabar por se dissipar também se observarmos as nossas sensações, emoções e pensamentos sem nos deixarmos envolver, sem deixarmos que eles se fixem, naturalmente eles também vão acabar por se dissipar tornando a nossa mente mais clarividente
“Fake until you make it” é uma expressão interessante no caso da equnimidade. Progressivamente, vamos consiguindo mantermo-nos equânimes e não desenvolver a reacção primária e impulsiva.
“Relembrando e reflectindo constantemente que tudo é impermanente; mantendo uma qualquer prática contemplativa de forma consistente e continua; e mantermo-nos despertos e consicentes para não nos acomodarmos ao registo de “piloto automático” e deixarmo-nos dominar pelas nossas sensações, emoções e pensamentos. No fundo: prática, prática e mais prática”, resume o professor de yoga Luís Matias.