Quando a maré baixa descobre as rochas e deixa a nu pequenas poças de água salgada, o que muitos veem como simples “ervas do mar” esconde, na verdade, um dos maiores tesouros da natureza. As algas, discretas mas abundantes, são simultaneamente alimento e ecossistema, tradição e futuro. Presentes há milhares de anos na alimentação oriental, começam hoje a despertar curiosidade em Portugal, não só pelo seu valor nutricional, mas também pelo papel vital que desempenham nos oceanos e no combate às alterações climáticas.

“As algas são o futuro”, afirma Joana Duarte, chef de cozinha, bióloga marinha e oceanógrafa, criadora da Rota das Algas. E quando fala, fá-lo com a experiência de quem conhece o mar por dentro da ciência e por dentro da cozinha. Formada em Biologia Marinha e Biotecnologia, com mestrado em Oceanografia, a Joana trabalhou no Instituto Português do Mar e da Atmosfera antes de enveredar pelo caminho da gastronomia, passando por cozinhas estreladas em Barcelona e Lisboa. Hoje, une essas duas paixões num projeto único: levar as pessoas a caminhar pela beira-mar, identificar algas comestíveis, provar, colher e aprender a usá-las na cozinha de forma criativa e sustentável.

A Rota das Algas é, acima de tudo, uma experiência de reconexão. Durante três horas, num percurso pela maré vaza, os participantes aprendem a observar e distinguir as diferentes macroalgas, descobrem como integrá-las em receitas simples do dia a dia e recebem noções de ecologia, astronomia, oceanografia e legislação da apanha. O objetivo não é apenas mostrar que as algas são comestíveis, mas sobretudo transmitir que podem ser exploradas de forma responsável, valorizando um recurso natural que está à nossa porta e que tem um potencial imenso.

Do ponto de vista nutricional, as algas são verdadeiros superalimentos. Contêm proteínas completas, comparáveis às do ovo, minerais essenciais como cálcio, magnésio, ferro, iodo ou zinco, vitaminas A, B, C e E, fibras solúveis que favorecem a microbiota intestinal e antioxidantes que ajudam a proteger as células do stress oxidativo. São também fonte de ácidos gordos ómega-3, fundamentais para o cérebro e para o coração. Numa altura em que tantas pessoas procuram alternativas às proteínas animais, as algas surgem como uma resposta natural, vegetal e altamente biodisponível.

Mas o poder das algas vai muito além da saúde humana. Elas são peças-chave no equilíbrio dos ecossistemas marinhos: produzem oxigénio, absorvem dióxido de carbono, regulam o pH da água, purificam nutrientes em excesso e servem de refúgio a inúmeras espécies. Ao contrário de muitas culturas agrícolas, não precisam de terra, de água doce ou de pesticidas. Pelo contrário, contribuem ativamente para a regeneração dos oceanos. É por isso que se fala nelas como parte essencial das soluções de “carbono azul”, capazes de ajudar a mitigar as alterações climáticas.

Portugal, com a sua costa extensa e diversa, tem aqui uma oportunidade única. Ao aprendermos a integrar as algas na alimentação, estamos também a valorizar um recurso local, abundante e de baixo impacto ambiental. Podemos começar de forma simples, acrescentando nori a um arroz, wakame a uma sopa ou codium fresco a uma salada. Pequenos gestos que trazem sabor, minerais e vitalidade, ao mesmo tempo que apoiam uma alimentação mais sustentável.

A Rota das Algas é sobre reconectar”, resume a Joana Duarte. Reconectar com a natureza, com o mar, com o nosso próprio corpo e com o futuro da alimentação. Porque falar de algas é falar de saúde, de ecologia e de uma gastronomia criativa que olha para o mar não apenas como fonte de peixe, mas como um ecossistema rico e generoso.

Talvez por isso as algas sejam tão mais do que um ingrediente. São uma ponte entre a tradição e a inovação, entre a cozinha e a ciência, entre o prato e o planeta. São, de facto, um superalimento — para nós e para o mundo.