Vivemos numa correria desenfreada contra o tempo e com isso desligamo-nos de nós… do mundo. Precisamos de voltar a viver em equilíbrio, ou seja, “estarmos atentos, com paciência, aos ritmos da natureza, das estações do ano e do próprio corpo; adaptarmo-nos em harmonia às suas oscilações e impermanencias tão naturais e perfeitas”.
Quem o diz é a Sara Montes que, sendo uma das principais referências do Yoga em Portugal, é uma mulher que admiramos pelo seu lado intuitivo e ligação profunda ao calendário lunar.
Se a Natureza se orienta a partir de ciclos lunares, não será que a humanidade deveria fazer o mesmo? A cada semana, a lua muda de fase e junto com ela, todos nós, em especial as mulheres.
A jornada de vida da Sara tem a Lua como bússola principal para o seu auto-conhecimento.
Nesta crónica, escrita pela própria, convidamos-te a – através da sua história – descobrires como a Lua te pode trazer o equilíbrio e a harmonia que estás à procura. Bem-Vinda, querida Sara!

Desde criança que me sinto atraída pela noite. Olhar as estrelas, a lua, imaginar o que está além do que conhecemos. Dizem que foram longos os anos que me encontravam à noite, a deambular pela casa em grandes conversas. Ficava a olhar o céu durante e, no dia seguinte, acordava como se nada tivesse acontecido.

Hoje, é à noite que recebo inspirações para o meu trabalho, que tenho as melhores ideias, que medito mais profundamente e que me sinto “em casa”. A Lua, é a minha grande companheira, professora e musa de inspiração nos diversos serões enquanto me questiono sobre a vida e esta grande complexidade de ser-se humano, em todas as suas formas, texturas e padrões.

A Lua acalma-me, amplia o entendimento sobre mim mesma e ajuda-me a solucionar questões que não podem ser respondidas pelo intelecto, mas apenas pela intuição. Ela foi a minha maior aliada nas múltiplas viagens que percorri sozinha pelo mundo nos últimos 20 anos. Em momentos de solidão, pressão ou tristeza, a sensação de tranquilidade, recetividade e serenidade foi-me sempre devolvida no momento em que estávamos as duas – frente a frente – a ganhar maior clareza sobre a imensidão da vida e como tudo muda e passa a cada instante.

A Lua trabalha a minha intuição e eu costumo dizer que a intuição é a maior “dica” que o subconsciente pode trazer às nossas vidas. O subconsciente é a parte mais profunda e menos acessível da mente, é a responsável por 95% dos nossos processos cerebrais. É onde guardamos memórias e experiências que foram reprimidas ou esquecidas, mas que ainda influenciam os nossos comportamentos diários.

É também onde carregamos a nossa memória ancestral, a que passa de geração em geração, através de laços familiares, culturas e tradições e que muitas vezes molda partes de nós que não nos deixam andar para a frente, ou ser quem verdadeiramente somos em todo o nosso potencial. A mente subconsciente, quando trabalhada, dá-os aqueles insights de como resolver uma questão à última hora ou aquela confirmação interna, vinda do nada, sobre uma pessoa, situação ou ação que se tenha de ter.

Enquanto o dia, onde se encontra o Sol é responsável pelo nosso consciente.

Fui então estudar as fases lunares – de uma perspetiva analítica – até ao mais ínfimo pormenor.

Então a pergunta que se coloca é: como usar a Lua, a meu favor, para trabalhar a minha inteligência emocional e ter acesso ao meu interior? Antes de acederes às respostas – deixa-me explicar-te o que é a Lua, como funciona e como impacta a Terra (da qual fazemos parte).

O QUE É A LUA?

A Lua é o satélite natural da Terra, ou seja, um corpo celeste que orbita o nosso planeta. Ela é o quinto maior satélite do Sistema Solar e é responsável por muitos fenómenos que afetam a Terra, como as marés, causadas pela atração gravitacional entre a Lua e o nosso planeta.

A Lua também tem grande importância cultural e científica. Ela influencia diversos aspetos da vida na Terra e, ao longo da história, foi tema de mitos, lendas e estudos astronómicos. A sua superfície é cheia de crateras e montanhas, resultantes de impactos de meteoritos, já que não tem atmosfera densa o suficiente para proteger o solo. Ela também não tem vida ou água líquida, mas há sinais de água congelada em algumas regiões, como os polos.

O QUE SÃO FASES LUNARES?

As fases lunares são as diferentes etapas do ciclo de iluminação da Lua que podemos observar da Terra ao longo de aproximadamente 29,5 dias, o tempo que leva para a Lua completar uma órbita ao redor da Terra. Esse ciclo é causado pela interação entre a Lua, a Terra e o Sol, e a forma como a luz solar incide sobre a Lua muda conforme ela se move ao redor da Terra.

Existem oito fases da lua, sendo que nos focamos em quatro fases principais. São elas:

  • Lua Nova: nesta fase, a Lua está entre a Terra e o Sol, e a face iluminada da Lua está voltada para o lado oposto da Terra. Ela está “escondida”, e não conseguimos vê-la no céu, porque a parte iluminada está voltada para o lado oposto.
  • Quarto Crescente: depois da Lua Nova, a Lua começa a mover-se na sua órbita e começamos a ver uma “fatia” crescente da Lua iluminada. Ela forma uma espécie de “D” no céu (a parte iluminada cresce da direita para a esquerda).
  • Lua Cheia: quando a Lua está do lado oposto da Terra em relação ao Sol, a face totalmente iluminada da Lua fica visível. Isso acontece quando a Lua está a 180 graus da posição da Lua Nova, e vemos toda a sua face iluminada.
  • Quarto Minguante: após a Lua Cheia, a parte iluminada começa a diminuir novamente. A Lua vai passando por uma fase onde a luz diminui da direita para a esquerda, formando uma espécie de “C” invertido.

A RELAÇÃO ENTRE AS FASES LUNARES E A NATUREZA

Há várias formas pelas quais as fases lunares influenciam a natureza, e muitas dessas relações são percetíveis, principalmente em fenómenos naturais como as marés, comportamento de animais e até mesmo o crescimento de algumas plantas. Embora a ciência moderna tenha mostrado que a Lua não tem um impacto direto em muitos aspetos da natureza (como o crescimento das plantas, por exemplo), ela confirma que exerce forças gravitacionais que afetam o ambiente de maneira significativa. Não é fantástico?

A LUA À LUZ DA CIÊNCIA

Embora possamos não compreender completamente todos os mecanismos, a investigação aponta para diversas formas como a lua nos afecta:

  1. Ritmos circadianos e sono: a lua, especialmente a lua cheia, está há muito tempo associada a sono interrompido. Estudos mostram que, durante a lua cheia, as pessoas tendem a ter um sono mais leve, demoram mais tempo a adormecer e acordam com mais frequência. Isto pode dever-se ao aumento da luz durante a lua cheia ou até mesmo à atração gravitacional que afeta subtilmente os nossos corpos.
  2. Humor: muitas pessoas referem sentir-se mais energizadas ou agitadas durante determinadas fases lunares. A ideia de um “efeito lunar” na saúde mental não é nova; é frequentemente discutida em relação a alterações de humor, irritabilidade e até mesmo doenças mentais como a depressão ou a ansiedade. A expressão “lunático” é prova disso e embora alguns estudos tenham sido inconclusivos, outros mostram uma ligeira correlação entre a lua cheia e o aumento das visitas ao hospital, especialmente devido a problemas psiquiátricos ou acidentes.
  3. Flutuações hormonais: a atração gravitacional da lua é semelhante à forma como afeta as marés do oceano, e alguns investigadores acreditam que também pode afetar os nossos corpos a nível hormonal. As mulheres, em particular, podem notar os seus ciclos menstruais a alinharem-se com as fases da lua, um fenómeno que as culturas antigas frequentemente seguiam, sugerindo uma ligação biológica mais profunda entre os nossos ciclos e o ritmo lunar.

De acordo com estudo de H.H. Mitchell no Journal of Biological Chemistry 158, o cérebro e o coração são compostos por 73% de água, os pulmões são cerca de 83%, a pele 64%, os músculos e os rins 79% e até os ossos são aquosos em 31%. O corpo humano tem 75% de água, o mesmo acontece com o planeta Terra.

Agora fica mais fácil entender que o ciclo da lua reflete o processo contínuo de mudança e transformação humana, e esse ciclo, a meu ver, pode ser interpretado como um espelho do que acontece na nossa mente subconsciente, nas nossas emoções e água que carregamos, e que nos conduz a hábitos mais saudáveis e uma vida mais equilibrada.

Deixo-vos algumas sugestões do que podem encontrar em cada fase e no livro que escrevi “Rituais para Viver em Equilíbrio” – onde podem trabalhar 12 temas ou áreas da vossa vida, mês a mês, em apenas 15 minutos por dia.

E agora sim, vamos à parte que vos vai suscitar mais curiosidade e entusiasmo: a em que entendem o que significa cada fase da lua e como se podem trabalhar nela com mantras, rituais, respirações e exercícios de forma a estarem mais alinhados com aquilo que a vossa alma vos pede há tanto tempo.

A lua nova representa um período de escuridão e silêncio, onde a lua não é visível no céu. Esse período simboliza o início de novos ciclos, o “vazio” que precisa ser preenchido. Para o subconsciente, este momento é propício para a introspeção profunda, para explorar o que está encoberto, como desejos reprimidos, medos ou padrões emocionais não resolvidos. Pode ser uma boa fase para explorar essas questões de maneira mais profunda e começar a reprogramar a mente subconsciente com sementes de novos desejos e intenções.

Práticas para trabalhar com o subconsciente na fase de Lua Nova:

  • Meditação e journaling: refletir sobre os padrões emocionais ou mentais que desejas mudar e criar novas intenções para o próximo ciclo lunar.
  • Afirmações e visualizações: cria intenções claras e positivas, visualizando-as. A lua nova pode ser uma excelente oportunidade para começar a manifestar mudanças internas.

À medida que a lua cresce, a sua energia começa a aumentar, simbolizando crescimento, expansão e a manifestação de intenções. No plano do subconsciente, isso é equivalente ao processo de integrar novas crenças e hábitos à nossa vida, além de dar início a ações mais concretas em relação aos objetivos estabelecidos na lua nova.

Podemos nos aperceber que pensamentos e emoções surgem com mais clareza e padrões que estavam adormecidos começam a tornar-se mais evidentes. É um óptimo período para práticas que nos ajudem a manter focados.

Práticas para trabalhar com o subconsciente na fase de Lua Crescente:

  • Ação consciente: durante essa fase, coloquem os planos em ação, mantenham-se focados com práticas de respiração por exemplo.
  • Reafirmações diárias: façam afirmações e leiam os vossos objectivos para reforçar as mudanças que desejam implementar, aumentando a confiança na capacidade de manifestarem os objetivos.

A lua cheia é o momento de culminação da energia lunar, quando a lua atinge o auge de visibilidade. Este é um período de grande energia e revelação, externa e internamente. No subconsciente, a lua cheia ilumina o que estava escondido e traz à tona emoções profundas, padrões ocultos e informações importantes que estavam armazenadas no inconsciente. As verdades ocultas emergem para a luz – e isso pode levar a uma cura emocional significativa. Perto da lua cheia, sinto frequentemente um aumento de energia. Há uma inquietação que se instala, dificultando o sono. Sinto-me mais alerta do que o habitual, mas a minha mente está propensa a ter um aumento de atividade cerebral, de pensamentos, tanto criativos como avassaladores. É como se a energia da lua despertasse algo profundo dentro de mim, mostrando emoções ocultas ou pensamentos não resolvidos. Descobri também que os meus sonhos se tornam mais vividos durante este período e, por vezes, parecem “proféticos” ou profundamente significativos.

Práticas para trabalhar com o subconsciente na fase de Lua Cheia:

  • Libertação emocional: usamos a lua cheia para libertar emoções reprimidas ou padrões do passado que já não têm mais função nas nossas vidas. É um ótimo momento para escrever cartas para nós mesmos ou para alguém e fazermos banhos de purificação.
  • Meditação e contemplação: aproveitar a luz da lua cheia para contemplar e refletir sobre os padrões subconscientes que precisam ser transformados. Contemplar significa ouvir os nossos sentimentos e insights mais profundos e deixarmo-nos ir, observando até cairmos num estado mais profundo de absorção ou meditação.

Durante a lua minguante, a lua começa a desaparecer, simbolizando a necessidade de relaxar e de cuidarmos de nós. É um período de “ressignificação” do que já foi vivido, uma fase fundamental de cura emocional e também de limpeza profunda durante o sono. Durante este período faço menos exercício físico, opto por marcar massagens ou fazer posturas mais terapêuticas e restaurativas. Pessoalmente estou muito ligada a esta lua, pois no dia em que nasci, a lua estava na sua fase minguante. Talvez por isso, seja mais propensa à cura de mim própria e à dos outros e marque os meus retiros, preferencialmente, em noites de fase minguante.

Práticas para trabalhar com o subconsciente em fase de Lua Minguante:

  • Desapego e perdão: esta é uma fase propícia para trabalhar com o perdão. Libertar ressentimentos que tivemos durante as fases anteriores ou questões mais antigas que precisem ser libertadas.
  • Ritual de purificação: podem realizar um ritual de limpeza, seja limpando a casa, ou fazendo um banho de purificação. Sigam no meu livro todos os rituais.

Para saberem os dias e fases lunares de cada mês, acedam a www.gaya.yoga – onde disponibilizo uma imagem com um calendário lunar.

EM SUMA,

A Lua tem uma presença fascinante e mágica nas nossas vidas, seja no céu noturno, em momentos especiais da nossa vida ou em diversas culturas e tradições.

Ela é um testemunho silencioso dos sentimentos humanos, um lembrete do quanto nos podemos conectar reciprocamente e ao mundo ao nosso redor, seja nos momentos que nos apaixonamos e romanticamente olhamos uma lua cheia, ou terminamos e sentimos uma fase de declínio e menos luminosa.

Observar a Lua e agirmos segundo as suas fases, é algo que devia ser natural em nós. Da mesma forma que temos horários fisiológicos, ou entendemos o impacto do sol no nosso campo físico e psicológico através das estações do ano, também devemos, cada vez mais, nos conectar com o impacto que as fases lunares têm na nossa saúde mental e emocional.


Sara Montes é licenciada em gestão hoteleira e colabora com cadeias hoteleiras internacionais na área de bem-estar. No entanto, desde cedo, a sua busca primária tem sido interior.

Desde 2008, conta com um vasto currículo de cursos de meditação e instrução de yoga certificados pela Yoga Alliance International, bem como estudos nas áreas da Neurociência, Astrologia e Shamanismo.

É fundadora da Gaya Immersions, organizando inúmeras viagens pelo mundo para pessoas que procuram o crescimento e a realização.

Criou o seu próprio método – Gaya Yoga –, resultado da experiência de ensino que teve com alunos de diversas culturas, diferentes patologias e faixas etárias.