Como combater o desperdício nas escolas?

Como combater o desperdício nas escolas?

No final de 2019, fui convidada pela Eunice Maia, Mentora da DoBem, para me juntar a um novo projeto que estava a desenvolver. Chama-se Projeto Escolas Desperdício Zero, e a ideia não podia ser mais simples: atuar junto das escolas para reduzir a quantidade de lixo que cada escola produz e ajudar a combater o desperdício.
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09.02.2020
desperdício

A Eunice Maia sempre foi uma pessoa altamente inspiradora para mim. Foi com a ajuda dela que conseguia mudar alguns dos meus hábitos durante o Plastic Free July. Além de ser dona das lojas da Maria Granel, em Alvalade e em Campo de Ourique, a Eunice tenta fazer tudo o que está ao seu alcance para reduzir o desperdício e combater o desperdício, ao mesmo tempo, que ensina aos outros como o fazer. Lançou até um livro recentemente sobre o tema, o “Desafio Zero”.

Quando falámos pela primeira vez nesta ideia, a Eunice já estava a reunir-se com algumas escolas do País para apresentar esta ideia com a sua equipa, de mais duas pessoas. Na altura em que fez as primeiras reuniões, várias escolas mostraram-se interessadas em participar neste projeto, mas apenas uma disse que sim: o Colégio de Santa Maria de Lamas. O meu colégio, que me tornou na pessoa que sou hoje e onde sempre estudei, até vir para a faculdade em Lisboa, aos 18 anos.

Se já estava entusiasmada com esta iniciativa, imaginem como fiquei e o orgulho que senti depois de saber, através das stories que a Mentora Eunice Maia partilhava na Maria Granel, que a Dra. Joana Vieira, diretora do colégio, tinha aceite não só participar nesta iniciativa como a ser o projeto piloto. Claro que disse imediatamente à Eunice: “estou on! Vamos a isso!”, e assim foi.

 

O projeto passa por várias fases e, depois da apresentação, há uma reunião com a escola onde tentamos perceber qual a origem do problema. De onde vem a maior parte do desperdício? Da cantina? Dos caixotes das salas de aula ou até mesmo da secretaria? A partir daí, passamos para a um momento, onde damos algumas orientações à comunidade acerca de tudo o que podem fazer para reduzir o lixo. No Colégio de Lamas, houve uma sessão com a Anna Masiello, que também tem uma página de Instagram onde partilha várias dicas sustentáveis — podem conhecê-la aqui — que falou sobre alternativas ao plástico descartável que todos podem adotar, tanto em casa como na escola.

Nesta fase, como em todo o projeto, é fundamental que existam bons porta-vozes em cada escola. E quem são estes porta-vozes? Embaixadores dos alunos, dos professores, das pessoas da cantina, da secretaria e da direção que têm o dever de passar a mensagem a todos os outros membros da comunidade.

 

Depois passamos então para um momento que, para mim, é dos mais importantes: o diagnóstico. Ao longo de uma semana, todos os membros do colégio tiveram de acumular o lixo que acabava por se transformar em desperdício e separá-lo em diferentes categorias: o lixo indiferenciado, o das cantinas, o plástico e, por fim, o papel e cartão com o intuito de perceber, afinal, quanto lixo se acumula numa semana. Todo esse lixo foi depois exposto, numa zona central do colégio, para que todos os alunos, professores e funcionários da escola conseguissem ver, exatamente, a quantidade de resíduos que estavam a produzir, sem se aperceberem.

O resultado foi apresentado neste dia, em que, juntamente com a equipa do projeto, regressei ao meu colégio. Numa semana, 728 pessoas geraram 647 quilos de lixo. Lixo esse que muitas vezes vai parar a um aterro sanitário, quando, na verdade, poderia ser valorizado, através da reciclagem e da compostagem, em vez de ser enterrado e contribuir para a poluição e para o aquecimento global, por meio da libertação de gases de efeito estufa. E é também isto que queremos mudar.

 

Queremos trabalhar junto das escolas para as ajudar a encarar os resíduos como recursos valiosos que não devem ser simplesmente desgarrados e enterrados. Antes disso, é preciso perceber em comunidade como recusar o que é desnecessário, reduzir o que consumimos, reutilizar o que já temos, reciclar e compostar. O objetivo final é conseguir desviar pelo menos 90% daquele total do aterro, destino atual. E temos a certeza de que ao fazê-lo numa escola estamos a contagiar famílias inteiras e a própria comunidade de Santa Maria de Lamas.

A exposição ficou durante alguns dias no átrio principal do colégio, para que ninguém ficasse indiferente ao que acontece em apenas uma semana e para consciencializar toda a comunidade para a necessidade de mudar e fazer a diferença. Às vezes bastam pequenos gestos, e eu própria estou no processo de aprendizagem, mas a partir de agora, eu e o Colégio de Santa Maria de Lamas vamos aceitar este compromisso, dar o nosso melhor e, tal como quando aqui estudei, voltamos a aprender juntos, por um futuro melhor.

AGRADECIMENTOS

Colégio de Lamas
Maria Granel

Isabel Silva

A Isabel Silva nasceu a 8 de maio de 1986 e é natural de Santa Maria de Lamas. Licenciou-se em Ciências da Comunicação, pela Universidade Nova de Lisboa, e fez uma pós-graduação em Cinema e Televisão pela Universidade Católica. Fez um curso de Rádio e Televisão no Cenjor e foi o seu trabalho como jornalista e produtora de conteúdos na Panavídeo que a levou para a televisão, em 2011. Durante 10 anos apresentou programas de entretenimento e, de forma intuitiva e natural, percebeu que aquilo que a move é a criação de conteúdos que inspirem, motivem e levem os outros a agir. Tem uma paixão enorme por comunicar e tudo o que comunica está intimamente ligado a uma vida natural carregada de energia, alegria e simplicidade.

É autora dos livros “O Meu Plano do Bem”, “A Comida que me Faz Brilhar”, “Eu sei como ser Feliz” e da coleção de livros infantis “Vamos fazer o Bem”.

Descobriu a paixão pela corrida em 2015, em particular pela distância da Maratona – 42.195m. Tem o desejo de completar a “World Marathon Majors” que inclui as 6 maiores Maratonas do Mundo. Já correu Londres, Boston, Nova Iorque e Berlim.

A 14 de Dezembro de 2016 lançou o blogue Iam Isabel e que hoje, numa versão mais madura, mas igualmente alegre e enérgica, é o canal DoBem.