Para quem, como eu, gosta de conhecer e experimentar o que de bom se cozinha por aí, ter de fazer uma seleção é como ter de escolher entre uma boa pizza ou… uma boa pizza.
Mas vamos lá, antes que a comida fique fria (o que, na verdade, até me parece muito apetecível nesta altura do ano).
Os restaurantes que escolhi não são nada mais do que espaços que me transportam para fora dos tachos e panelas da minha cozinha, deixando-me com o pensamento de “quem me dera saber fazer isto”. Os que mais me marcaram e os que mais ecoam comigo!
Vamos começar?
Começo com um “não restaurante”. Isto porque, hoje em dia, e para mal de um dos nossos “pecados” – a gula – a Maria e o Rui só servem refeições quando querem e bem lhes apetece. E fazem eles muito bem, que é para não ficarmos mal-habituados e acharmos que temos focaccia e raviolis como quem vai à secção dos congelados e tira a embalagem da arca. Mas é ir estando atento ao instagram, que eles vão-nos matando do coração sempre que anunciam novos pop-ups. Se conseguirem reserva, façam um choradinho e peçam para incluírem, no menu, a tarte de avelã, alfarroba e banana da Madeira. Se forem bem-sucedidos, fica aqui a promessa de que eu própria irei aproveitar uma viagem à Madeira e trazer o carregamento de que precisam, já que eles são uns preguiçosos e não cozinham com nenhum ingrediente que não esteja disponível num raio de 50 km.
Se gostam de ser surpreendidos e de ter aquela sensação de “não faço ideia do que estou a comer, mas gosto”, o Senhor Uva é o sítio que devem escolher para jantar. Se não gostarem dessa sensação, mas uma boa carta de vinhos vos fizer esquecer desse pequeno pormenor, liguem e reservem. Se puderem, vão acompanhados, que a partilha dos vários pratos do menu faz parte da experiência. Se não quiserem, também vos compreendo. Mais fica.
Souldough (Colares – Ericeira)
“Não gosto assim tanto de pizza.” “Se quiseres podemos ir a outro, para variar.” “Fico bem com uma salada.”
Se, como eu, ainda se tentam convencer de que passam bem sem comer pizza uma vez por mês, vão ao Souldough, em Colares ou na Ericeira. Para além de conseguirem usufruir do ar livre e do bom ambiente que ali se vive, ainda saem de lá com a certeza de que só se estão a enganar a vocês próprios. E, quando as pizzas são de fermentação lenta e têm vegan e pesto na mesma frase, só uma vez por mês é puro castigo.
Farès (Lisboa)
Se gostam de comida do médio oriente e não se deixam enganar quando pedem húmus e vos servem pasta de grão, o Farès merece a vossa visita. É servido com todos os toppings a que temos direito e faz parte do menu da semana e do brunch, disponível aos fins-de-semana. O mesmo não acontece com alguns pratos, como a couve-flor no forno e a batata-doce assada com sour cream, cebolinho, malagueta e raspas de limão, que só satisfazem as barrigas de quem vai de segunda a sexta-feira. Apesar de o espaço não ser muito grande, a esplanada faz com que não nos importemos de esperar o tempo que for necessário por uma mesa. Tentem só não ficar a olhar fixamente para os pratos que estão a ser servidos. Pode ser chato.
Alecrim aos Molhos (Lisboa)
Seja Verão ou Inverno, o Alecrim aos Molhos é sempre uma escolha acertada. Com dois pratos do dia, em que um deles é sempre vegano, prioriza a qualidade dos ingredientes e o modo de confeção. É o que eu chamo de “a cantina perfeita” para quem procura uma refeição caseira e de conforto. Desde croquetes de tempeh, feijoada de pleurotus e pataniscas de grão, às quiches e empadas que fazem sempre parte do menu, o difícil é não irmos lá parar dia sim, dia sim.
Ela Canela (Lisboa)
Com uma esplanada disponível para os dias mais quentes, este é o sítio que recomendo para quem procura um bom brunch ao sábado. Com um menu sazonal, que faz com que fique meio ano a salivar pelas melhores papas de aveia, o complicado é desviar o olhar das opções de almoço, que mudam diariamente. Ficamos com aquela sensação de estarmos a perder um prato igualmente delicioso, sabem? Mas deixo-vos uma boa solução: voltar.
Manna (Porto)
Se, um dia, o Manna abrir em Lisboa, podem agradecer-me, tanta é a pressão que faço nesse sentido. É o meu local de eleição para pequeno-almoço, no Porto. Ou almoço (no mesmo dia ). Com uma esplanada no interior, que nos faz querer prolongar a refeição para arranjarmos “espaço” para a incrível panqueca coberta com manteiga de avelã e para a tosta salgada com húmus, vegetais e trigo sarraceno tostado, o Manna está de volta com as suas aulas de yoga. Se acham que não pode melhorar, só vos digo mais isto: vendem pão. Sim, o de fermentação lenta que fazem diariamente.
Fava Tonka (Leça da Palmeira)
Sempre que tenho oportunidade de ir ao Norte, o meu primeiro pensamento é logo: “com jeitinho, ainda consigo ir ao Fava Tonka”. Definindo-se como um restaurante de cozinha sazonal de matriz vegetariana, este é daqueles sítios que eleva os vegetais a todo um outro patamar e nos serve criatividade em cada um dos pratos do menu. Mais uma vez, o ideal é irem acompanhados para poderem experimentar um pouco de (quase) tudo. Se não arranjarem companhia, não se preocupem. Eu ponho-me em Leça da Palmeira num tirinho.
Quinta do Arneiro (Torres Vedras)
Se ainda não conhecem a Quinta do Arneiro, então desçam à terra. À da Quinta, preferencialmente, que é a que nos possibilita ter acesso aos alimentos mais frescos e saborosos. Assumidamente biológica e uma verdadeira embaixadora da saúde e bem-estar, a Quinta do Arneiro, para bem do nosso paladar, voltou a abrir as portas do restaurante. Agora com uma cozinha vegetariana, apresenta-nos um menu que muda ao “ritmo da sua horta e dos caprichos da Natureza”.
Se tiverem tempo, passem pela mercearia. Deixem só alguns morangos para mim, sff.
Moagem (Aljezur)
Como se Aljezur, por si só, não fosse suficiente para um rumar a sul, ainda nos recebe com um espaço vegetariano que é tudo de bom. A descontração e o despretensiosismo com que o restaurante Moagem se apresenta, faz-nos ter vontade de ir dar um mergulho à praia enquanto esperamos pelos pratos (eu escrevi “vontade”, depois não me culpem se comerem tudo frio). Com uma carta fixa e um menu que muda semanalmente, somos frequentemente surpreendidos com sabores inspirados em cozinhas internacionais, como é o caso do nasigoreng e dos falafels, ou do caril e do pad thai. Para juntar à festa, abriram recentemente uma loja com produtos a granel, locais, alguns dos quais com produção própria.
Não se apressem a ir lá, não. Quando se aperceberem do que estão a perder, depois não se queixem nem me moam o juízo.
Arte Bianca (Aljezur, Sagres)
Pois que já não me “ouviam” falar de pizza há algum tempo, não é verdade? Mas é como vos digo, quando há uma seleção cuidada dos ingredientes e uma preocupação com o que é colocado em cada prato, não há como não dar um lugar de destaque ao restaurante. E é este o caso da Arte Bianca, uma pizzaria que prioriza o bem-estar. Feitas com fermento natural e com uma maturação da massa acima das 72 horas, as pizzas da Arte Bianca são as maiores aliadas de uma digestão que se quer leve e fácil. Para juntar à festa, são boas como o milho (que, por acaso, até nem é um ingrediente que aprecie na pizza).
Prima Caju (Madeira)
Basta entrar no Prima Caju, no Funchal, para ficarmos com a ideia de que estamos no sítio certo. Se fizermos o obséquio de pedir qualquer coisita (ninguém quer fazer papel de bibelot, não é verdade?), esta perceção torna-se numa certeza à primeira garfada. Usando ingredientes frescos e no seu estado natural (peçam a bowl vegan que não se vão arrepender), este é daqueles restaurantes em que nos apetece prolongar a refeição e ficar. Mas também não exagerem, há mais bibelots à espera de mesa.
Pisco (Vila do Bispo)
Se estão pelos lados de Sagres, não deixem de passar no Pisco. É que não há melhor restaurante, que este em Vila do Bispo. Pronto, e por aqui me fico, que já perdi uma ou outra caloria à custa desta rima. Mentira, não fico nada. Isto, porque a refeição que lá tive merece, e muito, toda a minha atenção. Podia começar por vos recomendar as pizzas (vá-se lá saber porquê ), mas a verdade é que não consegui resistir às “criações sazonais”, principalmente as especiais do dia, e optei por pedir várias (calma, foi para partilhar. Infelizmente). Entre a focaccia, acompanhada por uma manteiga vegana, maionese de algas e caviar de chia, as pastas de oleaginosas fermentadas, servidas com crackers de trigo sarraceno, e o tomate fumado, com sour cream de alcaparras, a minha escolha recai sobre as 3 primeiras opções (não, não me enganei nas contas). Mas o tataki de melancia, em crosta de sésamo, com puré de cenoura e wasabi, foi, sem dúvida, o ponto alto do jantar. Tendo arrancado comentários como “isto é igual a sushi”, foi mais uma prova de que uma alimentação de base vegetal consegue, e muito, surpreender e agradar os paladares mais “conservadores”.