Na DoBem, acreditamos que saúde é muito mais do que bem-estar físico — é também leveza, presença e reconexão com o que somos. É por isso que damos espaço às vozes que nos lembram que o caminho da transformação não precisa ser feito com peso.
Convidámos a Sandra Bensaude, nossa parceira e terapeuta de biofeedback, para escrever esta crónica porque a sua sensibilidade e profundidade falam diretamente à essência do que acreditamos. A Sandra é uma mulher espiritual, intuitiva, apaixonada por campos energéticos e profundamente comprometida com o seu processo pessoal. Mas é também alguém que, depois de muitos anos nesse percurso, reconhece que a espiritualidade, por vezes, nos pode afastar da leveza.
Nesta crónica pessoal, a Sandra partilha connosco algo que muitos sentem, mas poucos dizem: quando o desenvolvimento pessoal se torna uma exigência constante, uma análise sem fim… perdemos a alegria, o riso, o prazer simples de viver.
Acreditamos que esta crónica é um convite bonito (e necessário) para quem está no seu caminho de autoconhecimento, mas quer continuar a viver com mais espontaneidade — e menos cobrança.
Porque sim, o riso também cura. E a leveza é parte do processo.
Nas minhas consultas de biofeedback, tenho o privilégio de conhecer pessoas muito diferentes.
Algumas estão no seu caminho de desenvolvimento pessoal e espiritual, o que é sempre uma experiência enriquecedora — cada uma à sua maneira.
Mas noto que, por vezes, esse foco torna-se excessivo. E o curioso é que me revejo nelas, porque também fui assim quando comecei este percurso, há várias décadas.
Tornei-me rígida comigo mesma e, por consequência, com os outros.
Perdi — temporariamente — a minha espontaneidade.
Não deixava a criança dentro de mim vir cá para fora brincar.
Achava que espiritualidade e desenvolvimento pessoal eram sinónimos de seriedade, de exigência e de constante procura externa.
Com o tempo, fui percebendo que o verdadeiro crescimento não está só na profundidade. Também mora na leveza, no riso e na liberdade de simplesmente ser. É sobre isso que esta minha crónica fala.
O caminho do desenvolvimento pessoal e da espiritualidade pode ser profundamente transformador.
Traz clareza, presença, conexão interna.
Ajuda-nos a olhar para as feridas com mais compaixão, a reconhecer padrões, a escolher de forma mais alinhada.
É um processo que pode mudar por completo a forma como nos relacionamos connosco, com os outros e com a vida.
Mas há um ponto que merece atenção: por vezes, aquilo que começou por nos libertar, pode tornar-se uma prisão invisível.
É fácil cair nessa armadilha.
Queremos curar uma dor, perceber de onde vêm certos comportamentos, sair de ciclos antigos. E, de repente, estamos mergulhados em livros, cursos, retiros, sessões, rituais, práticas matinais, afirmações, visualizações…
Tudo é analisado, tudo parece ter um “significado mais profundo”.
E o simples facto de sentir raiva, tristeza ou desejo já ativa o alarme interno:
“O que é que isto quer dizer sobre mim? Que ferida é esta? O que ainda tenho para resolver?”
Mas… e se o verdadeiro caminho também passar por encontrar uma dança entre a consciência e o sentir?
Entre o olhar para dentro e o permitir-se viver — sem precisar de transformar tudo neste momento, pois é um processo.
Apenas estar. Sentir. Viver… com leveza.
Ganhamos consciência dos nossos pensamentos — o que é valioso — mas muitas vezes passamos a analisá-los em excesso.
E nesse excesso, afastamo-nos do mais simples: sentir.

Esquecemo-nos de que somos humanos.
Não somos projetos eternamente inacabados.
Somos feitos de altos e baixos, de luz e sombra, de dúvidas e de clareza.
E é essa imperfeição que nos torna inteiros.
Perfeitos na nossa imperfeição.
A espiritualidade não é um teste de performance.
Não se mede pelo número de retiros, nem pelas horas em meditação.
A verdadeira medida também está na nossa capacidade de rir.
De dançar sem motivo.
De comer um bolo com prazer (e sem culpa).
De estar em silêncio, mas também de brincar, de viver o que é leve.
O corpo precisa de leveza.
O sistema nervoso precisa de prazer.
E a alma — essa, precisa de liberdade.
A alegria também cura.
O riso regula o sistema nervoso, abre espaço para o improviso e para o inesperado.
É na brincadeira, no erro e no espontâneo que, tantas vezes, nos reencontramos.
Leveza não é superficialidade — é sabedoria que confia.
Confia que nem tudo tem de ser entendido. Que não há mal nenhum em apenas estar aqui, agora, sem querer melhorar nada.
Espiritualidade não é rigidez.
A rigidez é, muitas vezes, medo disfarçado.
Medo de sair do trilho, de perder o controlo, de não ser suficiente.
Mas quando há presença… não há como “regredir”.
E presença não se pratica só no silêncio. Vive-se também no movimento, na conversa, no toque, no riso, no prazer das coisas simples.
Este é um convite à liberdade.
A brincar mais.
A errar sem drama.
A fazer menos sentido e mais conexão.
A viver para além da análise.
Se estás no teu processo de desenvolvimento pessoal, continua.
Explora. Aprofunda. Transforma.
Mas lembra-te: não estás a caminho de te tornares alguém melhor — estás a caminho de te lembrares de quem és.
E esse caminho, mesmo quando desafiante, também inclui gargalhadas no meio do caos, tardes sem planos, danças improvisadas, conversas sem filtro e bolos com chantilly (se não fores intolerante ao glúten nem aos lacticínios).
Talvez evoluir seja, no fundo, aprender a habitar a vida com mais paz, com presença, e com uma alegria que não precisa de razão.