A minha missão, sem que tivesse consciência disso, sempre foi oferecer às pessoas informação útil sobre como podem deixar de ser meros espetadores e tornarem-se os verdadeiros realizadores das suas vidas. Sempre acreditei na mudança, na evolução — está nos meus genes. Nasci com essa inquietação, com o desejo de fazer algo que saísse do comum. No entanto, passei muitos anos a seguir o que a sociedade ditava para uma miúda inteligente, dedicada e responsável. Nada disso foi em vão.
Construí uma carreira em marketing e vendas, sobretudo numa grande multinacional farmacêutica, onde comecei a contactar com o mundo da saúde, do bem-estar e, inevitavelmente, da doença e do tratamento. Adquiri competências valiosas, como a capacidade de antecipar necessidades e de perceber como a adoção de novos hábitos pode ser facilitada ou dificultada na interação entre o contexto económico e comportamental.
A SAÚDE NÃO É APENAS FÍSICA
A saúde, seja física ou mental, é algo que raramente vemos como parte integral de nós. Apenas a notamos quando falha. E quando falha, queremos uma solução imediata para suprimir o desconforto. Mas, e se tivéssemos a capacidade de nos curarmos somente com os recursos internos que já possuímos?
A vida forçou-me a questionar isto de forma muito concreta. Num ano de grandes mudanças, divorciei-me com dois filhos pequenos, mudei de país, abandonei o mundo corporativo e entrei na esfera da alimentação saudável e da nutrição desportiva. Queria encontrar alternativas ao medicamento, mas continuando a explorar soluções na área da suplementação, preferencialmente natural. Foi um período desafiante, um tempo de calibração emocional e de redescoberta do meu amor-próprio.
EM BUSCA DA HARMONIA: QUANDO A MENTE E O CORPO NÃO ESTÃO ALINHADOS
Esse processo levou-me à busca da harmonia interior. Descobri o poder da meditação, da hidratação consciente, dos banhos de floresta na Arrábida, do rebirthing e, sobretudo, de uma nova crença no meu poder interior. Mas foi ao começar a sentir o meu espírito muito mais integrado, que percebi que o corpo não acompanhava. E não era só a sensação de bem-estar físico que faltava, era a sensação de controlo das emoções. Para mim, esse é o verdadeiro sintoma da minha saúde e para mim é quase físico, porque me destabiliza a mim e a quem está à minha volta.
A tristeza, a raiva, a ansiedade. E claro, dor de cabeça muito frequente, barriga inchada, sinusite muito forte, intestinos desregulados, sono pouco regenerador, dor nos pulsos, nos tornozelos, pele reativa, dor de estômago. Estes eram os meus “axaques” principais!
Foi nesse momento que os cogumelos funcionais entraram na minha vida. E foi um verdadeiro caso de amor.
O MEU ENCONTRO COM OS COGUMELOS FUNCIONAIS
Por sugestão de um amigo, comecei a tomar Chaga em pó. Fazia infusões e, pouco a pouco, o meu corpo começou a mudar:
- O inchaço reduziu-se quase totalmente.
- O trauma armazenado pareceu dissolver-se da minha pele, dos meus ossos, dos meus músculos.
- Senti uma leveza inesperada, um bem-estar profundo.
Os cogumelos foram precisamente o catalisador que necessitava. Introduzi outros cogumelos na minha rotina e o meu corpo regulou-se de tal forma que a relação de paz e confiança que estabeleci comigo mesma permitiu-me reunir a força necessária para seguir o meu verdadeiro propósito.
Foi aí que nasceu a VeryChaga.
HEAL FROM THE CORE: CURA DESDE O NÚCLEO
Finalmente tomei a decisão de arriscar e ir atrás dum chamamento muito grande, colocar as minhas capacidades ao serviço dos outros apresentados estas joias da natureza, os cogumelos funcionais, como destaca Merlin Sheldrake no seu livro Vida Secreta dos Fungos (Entangled Life), o papel profundo dos fungos na humanidade:
“Os fungos são os grandes químicos da natureza e os principais agentes de mudança na biosfera. Sem eles, as plantas não poderiam ter colonizado a terra, os ciclos dos nutrientes entrariam em colapso, e vastas quantidades de matéria orgânica morta permaneceriam inertes. Mas os fungos não apenas sustentam os ecossistemas – eles moldam ativamente a vida. Desde antibióticos que revolucionaram a medicina até substâncias psicotrópicas que desafiam a nossa compreensão da mente, os fungos expandem os limites do que significa ser humano.”
Nesta passagem dá para encapsular o papel vital dos fungos, desde a sustentação da vida na Terra até a sua profunda influência na medicina e na consciência humana.
A VeryChaga nasce numa noite, onde eu claramente sabia que tinha de falar ao mundo sobre os cogumelos, mais proeminentemente dos cogumelos funcionais, mas havia algo que eu sentia que não podia deixar passar – “A cura desde o núcleo”.
Não me refiro somente à cura que os cogumelos permitem ao nível celular, mas à verdadeira cura que é olhar para dentro. Os próprios cogumelos funcionais, como adaptogénios, fizeram-me compreender esta questão com uma clareza impressionante – e este é, talvez, o seu dom mais importante.
Nessa noite lia na minha cabeça uma frase apenas: ‘Heal from the Core’, cura desde o núcleo.
O PODER DE REPROGRAMAR OS NOSSOS GENES
Mas não poderia falar de regulação biológica sem abordar a nossa capacidade interna de influenciar a expressão dos nossos genes. Foi aqui que a epigenética se tornou uma fascinação absoluta.
E o mais surpreendente é que nós temos o poder de educar os nossos genes como queremos.
Os genes são instruções biológicas contidas no ADN, instruções para a construção e manutenção do nosso organismo. Enquanto o ADN é o código genético que carregamos em todas as células – e não há como fugir dele – os genes são capazes de ser reprogramados. Eles são responsáveis por determinar características físicas, metabólicas e comportamentais – e podem ser ativados ou desativados. Não são uma sentença determinada à nascença, apesar de virem com toda a força em nós, seguindo os padrões que os nossos avós, os nossos pais viveram.
Daí acharmos que estamos condicionados, ouvimos coisas como: ‘As mulheres da nossa família sempre tiveram dificuldades em engravidar’ ou ‘O teu tio e o teu avô tiveram cancro do pâncreas, é uma sina nos homens da nossa família’.
O que quero dizer com isto é que as pessoas não sabem que os nossos genes carregam a sabedoria de tantas coisas que nos permitem evoluir ainda mais e honrar a herança dos nossos antepassados.
Rachel Yehuda, uma neurocientista e especialista em epigenética do trauma, levou a cabo um estudo sobre os descendentes dos sobreviventes do Holocausto e o impacto da experiência traumática nos seus genes – “Holocaust Exposure Induced Intergenerational Effects on FKBP5 Methylation”, publicado na revista Biological Psychiatry, em 2016. Ela e a sua equipa analisaram marcadores epigenéticos nos sobreviventes do Holocausto e nos seus filhos. Descobriram que tanto os sobreviventes como os seus descendentes apresentavam alterações químicas num gene associado à regulação do stress, o gene FKBP5, que influencia a resposta do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), responsável pela reação do nosso corpo ao stress.
Os sobreviventes do Holocausto, devido ao trauma extremo, apresentavam uma modificação epigenética que afetava a forma como os seus corpos respondiam ao stress e ao cortisol. O mais surpreendente foi que os seus descendentes herdaram essa mesma modificação, tornando-os mais vulneráveis a distúrbios de ansiedade, depressão e perturbação de stress pós-traumático (PTSD), apesar de nunca terem vivido diretamente o trauma.
Se voltarmos a olhar para doenças como o cancro, mesmo que uma pessoa herde uma predisposição genética para o cancro, a expressão desse gene pode ser influenciada por fatores epigenéticos. Ou seja, através de mudança de padrões e comportamentos, da nossa vibração emocional, pensamentos positivos, adaptogénios, alimentação, atividade física e todas as medidas que sejamos capazes de tomar para cuidar do nosso corpo físico e mental.
Vou dar-vos o meu exemplo: o meu pai, entre muitas qualidades, é uma pessoa extremamente ansiosa, carrega um certo sofrimento interno – e eu também. Sempre me culpei por isto – nunca percebi porque é que, com tanto que a vida me deu, eu tinha de estar sempre tão triste, porque é que eu vivia certos eventos na minha vida com tanta ansiedade. Hoje sei que já o pai dele sofria de extrema ansiedade. Ainda por descobrir o que terá sido a causa, o trauma que despoleta este comportamento, lá para trás nas gerações passadas. Mas algo houve. A boa notícia, para mim, são duas coisas:
1. Esta ansiedade vai além de mim, é algo que me foi transmitido, não sou ‘louca’, não estou ‘estragada’;
2. Eu não sou refém dos meus genes. Se eu quiser, posso reprogramá-los de forma positiva!
Joe Dispenza, neurocientista, autor e palestrante, conhecido pelo seu trabalho sobre neuroplasticidade, epigenética e transformação pessoal, fala frequentemente sobre epigenética como a prova científica de que não estamos presos aos nossos genes e que podemos alterar a nossa biologia através da mente. Ele baseia-se em estudos que mostram que: o ambiente, os pensamentos, as emoções e os hábitos influenciam a expressão genética, ou seja, a ativação ou desativação de certos genes sem alterar o DNA em si e isso muda totalmente a nossa propensão para determinadas doenças, para determinadas personalidades, determinados desfechos e eventos nas nossas vidas.
Resumindo, são os fatores externos – como a alimentação, o stress, o estilo de vida – e os fatores internos, como regulamos os nossos pensamentos e emoções, que podem ativar estes genes ou silenciá-los duma forma muito eficaz – e é aí que o nosso verdadeiro poder tem lugar nesta vida que vivemos e que pode mudar o comportamento dos genes dos nossos filhos, netos, bisnetos… Pode mudar a nossa mente, o nosso metabolismo, o nosso sangue.
Gosto de imaginar os genes como a partitura de uma grande orquestra biológica: contêm todas as notas e instruções, mas não determinam, por si só, a melodia final. O verdadeiro maestro é realmente a epigenética, que regula a intensidade das notas, decide quais se destacam e adapta a música ao ambiente.
Assim, mesmo que a partitura seja a mesma, podemos tocar sinfonias completamente diferentes ao longo da vida, dependendo das escolhas que fazemos e das condições em que vivemos, permitindo nos criar uma melodia que pode mudar o ritmo de como as futuras gerações vão dançar na vida.
Não será isto fantástico?