“Não consomes glúten?” Não. “Mas és celíaca?” Também não. “Então porque é que o retiraste da tua alimentação?” Bem, antes que salte mais alguma pergunta, permitam que me apresente. Olá, sou a Marta Candeias, e sou viciada em… bem-estar.
Pronto, têm aí a resposta. Beijinhos e até à próxima crónica!
“Olha outra fundamentalista que foi na moda do glúten e que acha que deixar o trigo, a cevada, a espelta ou o centeio é a solução para todos os problemas.”
Voltei. Desculpem, mas quando me chega a mostarda ao nariz, tenho de confirmar que não tem glúten. Não, infelizmente não é a solução para todos os problemas, mas pode ser uma grande ajuda para quem, como eu, noutros tempos, lidava com inchaços e más digestões.
“Cérebro de Farinha”, do Dr. David Perlmutter. Foi este o livro responsável por me fazer trocar massa por quinoa e molho de soja por tamari (para quem acha que estou a falar em sueco, é uma versão do molho de soja sem glúten). Depois de ler o livro, aventurei-me e desbravei o admirável mundo da alimentação sem glúten, excluindo-o por completo das minhas refeições durante 15 dias.
“Mas tinhas muitas dores ou sofrias bastante para teres tomado esta decisão?”, perguntam vocês aí desse lado. Pasmem-se: não, não tinha. Felizmente, não sei o que é ser celíaca, e a verdade é que o consumo de glúten não me provocava as lesões que provoca a quem vive com esta doença, mas não foi preciso chegar ao fim deste desafio alimentar para começar a sentir diferenças na minha qualidade de vida.
Mais energia e digestões fáceis, com menos inchaços e sem desequilíbrios intestinais. Motivos que me pareceram mais do que suficientes para abolir um hábito que me causava um certo desconforto e problemas digestivos.
Comecei a sentir melhorias quando restringi a ingestão desta proteína de forma imediata, mas ao fim de alguns meses apercebi-me de um impacto maior do que aquele que previa. É que assim que chegou a primavera, altura das gloriosas alergias, senti muito menos manifestações alérgicas e nem sequer houve previsão de crises de rinite. Maravilha.
“E tens a confirmação de que tudo isto foi por teres passado a ter uma alimentação isenta de glúten?”, perguntam vocês. Não, mas também não preciso.
Conhecer o nosso corpo é, muitas vezes, tão ou mais importante e eficaz do que qualquer outro diagnóstico. E, na dúvida, e desculpem a falsa modéstia, “façam o que eu digo e façam o que eu fiz”. Experimentem cortar o glúten durante 15 dias da vossa alimentação e vejam como se sentem.
Mas tenho de deixar uma confissão. É que, nesta mudança, nem tudo foi um mar de rosas. Passei a ter que estar muito mais atenta aos rótulos, já que o trigo é presença assídua em muitos dos produtos que achava serem #glutenfree, e passei a ter de explicar constantemente que, apesar de não ser celíaca, esta é uma escolha pessoal, e não uma questão de moda ou uma qualquer esquisitice. E esta escolha é tão válida e merecedora de atenção como qualquer outra que não prejudique vidas alheias.
Mas, já agora, pergunto-vos: e se, por acaso, fosse uma questão de moda? Tomara a nós que todas estas “modas” nos proporcionassem qualidade de vida. Certo?
Muito se ouve falar no glúten, que está presente em grande parte dos alimentos que consumimos diariamente. Basta pensar no pequeno-almoço: pão, bolos, cereais e até as inocentes papas de aveia têm glúten na sua composição. Ao almoço e jantar? Massas, uma série de molhos que contém ingredientes que podem ter glúten na sua composição. Enfim, poderíamos passar horas a apontar os ingredientes com glúten que fazem parte da nossa alimentação.
“O glúten é uma proteína presente em vários tipos de cereais e que lhes confere propriedades elásticas”, explica à dobem. a nutricionista Susana Barros. “Esta proteína deixa as massas muito mais elásticas, viscosas e capazes de reter mais água, o que torna um pão ou bolo mais macio, não o deixa esfarelar tanto e fica mais fofo.”
Esta proteína está naturalmente presente em cereais como o trigo, o centeio e a cevada, mas também pode ser encontrada na aveia, já que muitas vezes é processada nas mesmas máquinas onde já passaram cereais com glúten e, por isso, acaba por ser contaminada. Posto isto, qualquer alimento que tenha por base estes cereais, vai ter glúten na sua composição. As massas, o pão ou os bolos são alguns exemplos.
“Por ser uma proteína complexa constituída por duas proteínas diferentes, as prolaninas e as gliadinas, o nosso corpo pode reagir quando comemos glúten”, explica a nutricionista. “No caso das gliadinas, o organismo não as consegue identificar e, por isso, são como se fosse um corpo estranho ao qual o organismo reage, desencadeando um processo inflamatório. É por isso que os nutricionistas defendem que nenhum ser humano consegue digerir totalmente o glúten. Contudo, tudo depende da sensibilidade de cada pessoa.”
Muita gente pode até não ter qualquer tipo de reação ao consumo de glúten. No entanto, tal como diz Susana Barros, as pessoas mais sensíveis podem ter algumas reações adversas como inchaço, dores abdominais, dores de cabeça, retenção de líquidos e até mesmo aumento da gordura abdominal.