Vamos lá ver se consigo fazer um artigo otimista sobre a celebração do Dia Mundial do Ambiente, dia 5 de junho.

Olho à minha volta e só vejo celebrações do dia mundial disto, daquilo e do outro: celebra-se o dia da Terra, da Água, das Zonas Húmidas, dos Rios, dos Oceanos, da Árvore, da Biodiversidade, das Abelhas, da Montanha, da Paz…

Tudo compartimentado, cada dia na sua caixinha, cada um fio da mesma teia. A teia é o planeta e quando mexemos num fio da teia estamos a interferir com o equilíbrio de toda a teia.

Não é correto exigir às pessoas (com direito a multa por incumprimento da lei e tudo) que cortem as árvores à volta da sua casa para prevenir incêndios, quando sabemos que as árvores contribuem para arrefecer a temperatura do planeta.

Não é aceitável que se autorize e promova o abate de centenas de árvores pelo país fora para a implantação de painéis solares em nome de uma falácia chamada transição energética. Estes comportamentos e estas falsas ideias de que estamos a contribuir para o arrefecimento global destruindo a floresta só contribuem para o aceleramento de um problema gigante que se chama aquecimento global e se resolve plantando árvores, deixando de poluir os oceanos para que estes não continuem a aquecer e a causar evaporação que depois resulta em tempestades bruscas e muito destruidoras.

Ficamos, muitas vezes, de braços cruzados e com a sensação de impotência perante estes fenómenos mas se calhar podemos todos fazer alguma coisa para abrandar esta marcha rumo ao colapso do sistema ecológico tal como o conhecemos.

Vejamos o exemplo de um dos meus grandes heróis que nos deixou há pouco tempo: o Sebastião Salgado. Conhecido mundialmente pelas suas fotografias a preto e branco onde denuncia muitas injustiças sociais e ambientais – ele e a sua mulher, Lélia Wanick, fundaram o Instituto Terra, na Mata Atlântica, no Brasil, e plantaram cerca de três milhões de árvores trazendo assim de volta a água a um território desertificado pela desflorestação e as secas contínuas. Plantar árvores é semear chuva, criar rios e nascentes e arrefecer a temperatura da Terra. Cortar árvores é o contrário de tudo isto.

Em nome desta transição energética, atropelamos os direitos de comunidades, esventramos e envenenamos as entranhas da terra, os seus rios e nascentes para extração de minerais para transitarmos de carros movidos a combustíveis fosseis para carros elétricos e vendemos isto como uma solução aceitável e ecológica.

Como se não bastasse esta violação constante da Terra nossa mãe, querem agora começar a esventrar o fundo marinho com tudo o que isso implica de dejetos químicos que irão ser libertados no processo. O mar é o grande sumidouro de todo o lixo do planeta, pobre mar ou pobres de nós que seremos vítimas da nossa irresponsabilidade de consumistas desenfreados sem nos questionarmos de onde veio e para onde vai tudo aquilo que consumimos desde os plásticos que embalam os nossos alimentos, à roupa que vestimos, aos produtos de higiene e limpeza. TUDO deixa uma pegada no planeta pelo qual, em meu nome e em nome de tos nós, eu peço desculpa.

Os lóbis da agroindústria continuam a defender que a única forma de alimentar a crescente população do planeta é perpetuando este modelo agrícola altamente industrializado, poluidor e causador de muitíssimas doenças em seres humanos, animais, aves, répteis, insetos.

Produzir alimentos recorrendo a adubos de síntese, herbicidas e pesticidas é sórdido, perverso e incompreensível. Existem vestígios de herbicidas em toda a cadeia alimentar, estão na água dos rios e das nossas torneiras, no néctar das flores e no mel das abelhas, no ninho dos pássaros, na fruta que comemos, no cordão umbilical dos recém-nascidos e no leite das mães.

Acredito que possamos fazer parte da solução e esta passa por algo tão simples como escolher alimentos de produção biológica, ou, se possível termos a nossa própria horta e trabalhá-la com respeito e conhecimento de que fazendo bem à terra estamos a fazer bem a nós próprios.

Pode parecer uma ideia romântica e utópica e até um pouco insultuosa e impossível de colocar em prática para quem sobrevive com o salário mínimo. E sim, claro que é, mas quantos mais consumidores conscientes formos, mais impacto teremos naquilo que queremos ver transformado no futuro.

Termino com uma frase que acabei de ler algures neste emaranhado de informação que são as redes sociais: “Quando destruímos algo construído pelo ser humano chamamos a isso de vandalismo. Quando destruímos algo criado pela Natureza chamamos a isso de progresso”.

Olho para os verdes do meu jardim, minha selva, meu refúgio, respiro fundo e peço, em nome de todo este verde que me rodeia um pouco de esperança e otimismo.