Na DoBem gostamos de olhar para a natureza como a grande mestra da vida.
Desta vez, desafiámos o nosso mentor Manuel Pinto Coelho — médico e especialista em Medicina Anti-Envelhecimento – a escrever sobre um tema tão antigo quanto fascinante: a água do mar.
Durante muito tempo, foi erradamente confundida com o sal refinado… mas, na verdade, guarda em si um segredo poderoso: é um alimento completo, um concentrado natural de minerais capaz de nutrir, equilibrar e devolver vitalidade ao corpo.
Quando pensamos em saúde, raramente olhamos para o mar como uma farmácia natural. E, no entanto, o oceano não é apenas fonte de vida — é também um reservatório de nutrientes, minerais e elementos que espelham a própria composição do nosso corpo.
A ideia de que a água do mar pode apoiar a saúde não é nova. O fisiologista francês René Quinton (1866-1925) dedicou a sua vida ao estudo das propriedades marinhas. No início do século XX, quando milhares de crianças em França e Itália morriam de cólera e desnutrição, Quinton abriu dispensários marinhos gratuitos, onde aplicava soluções isotónicas de água do mar. O resultado? Crianças à beira da morte recuperavam vitalidade e peso de forma quase milagrosa.
Quinton acreditava que o mar guardava a chave da regeneração celular. E demonstrou isso de forma espetacular: substituiu publicamente o sangue de um cão por solução de água do mar isotónica. O animal recuperou em poucos dias e viveu ainda cinco anos.
Mas não só na medicina do passado encontramos testemunhos. O biólogo Alain Bombard, em 1953, atravessou o Atlântico sem provisões, sobrevivendo apenas de água do mar, plâncton e alguns peixes. Queria provar que o oceano fornece os recursos essenciais à vida — e conseguiu.
VAMOS FALAR DO SAL
Para percebermos o impacto da água do mar, é preciso falar de sal. Desde a Antiguidade que este mineral tem sido sinónimo de vida e riqueza. A palavra “salário” vem exatamente do sal, usado como forma de pagamento, sendo que as primeiras estradas foram construídas para facilitar o transporte do “ouro branco”.
Na França medieval, o imposto sobre o sal — chamado La Gabelle — provocou revoltas e foi um dos fatores que contribuíram para a Revolução Francesa. Já na Índia colonial, Gandhi liderou a célebre Marcha do Sal, caminhando 400 km em protesto contra a proibição britânica da extração de sal. Milhares de indianos juntaram-se a ele e mais de 50 mil pessoas foram presas, incluindo Gandhi. Este ato tornou-se um gatilho para a independência do país.
SAL DO MAR E SAL DE COZINHA: SÃO DIFERENTES
É comum pensar que o sal da água do mar é igual ao sal refinado que usamos na cozinha. Mas há um equívoco que importa desfazer:
- O sal refinado de cozinha (cloreto de sódio isolado) é pobre e prejudicial à saúde.
- O sal integral (marinho, flor de sal, sal dos Himalaias) mantém minerais e oligoelementos fundamentais.
- E a água do mar é o mais completo de todos, porque contém esse espectro mineral em estado natural, equilibrado e biodisponível.
Ou seja: o sal marinho natural não é equivalente ao sal refinado industrial, esse sim associado a riscos quando consumido em excesso.
Além disso, a água do mar fornece cálcio, fósforo, magnésio, ferro, flúor e muitos outros minerais em concentrações que tornam este “superalimento líquido” único.
Se pensarmos bem, a água do mar contém todos os elementos da tabela periódica — os mesmos que constituem a Terra e o corpo humano. Macroelementos como cálcio, magnésio, potássio e sódio são abundantes, e oligoelementos como ferro, zinco, cobre, iodo ou selénio estão presentes em proporções ideais para processos vitais.
Comparada com águas minerais engarrafadas, a diferença é abismal:
- 800 vezes mais magnésio
- 1120 vezes mais potássio
- 165 vezes mais cálcio

Principais minerais presentes na água do mar
- Silício – fortalece pele, cabelo e tecidos conjuntivos.
- Sódio – regula o equilíbrio hídrico e a condução nervosa.
- Cálcio – essencial para ossos, dentes e contração muscular.
- Magnésio – relaxa, regula o sistema nervoso e participa em mais de 300 reações enzimáticas.
- Enxofre – contribui para articulações e desintoxicação.
- Flúor – fortalece ossos e dentes.
- Zinco – apoia a imunidade e a cicatrização.
- Iodo – regula a função da tiróide.
- Fósforo – intervêm na produção de energia.
Benefícios do consumo de água do mar
- Fonte completa de minerais e oligoelementos – Contém os 118 minerais e oligoelementos de que o corpo humano precisa — entre eles sódio, magnésio, cálcio, potássio, zinco, iodo, fósforo, silício. Estes minerais são fundamentais para o equilíbrio metabólico, a saúde celular e o bom funcionamento de todos os sistemas do organismo.
- Equilíbrio da tensão arterial – o sódio presente na água do mar, quando combinado naturalmente com magnésio, cálcio e potássio, não atua da mesma forma que o sal refinado. Estudos indicam que a ingestão em forma isotónica pode ajudar na regulação da pressão arterial.
- Reforço do sistema imunitário – a sua riqueza mineral estimula o organismo a manter-se mais resistente a infeções e doenças.
- Melhoria da saúde digestiva – pode neutralizar a acidez do estômago e auxiliar no equilíbrio da microbiota intestinal, favorecendo o processo digestivo.
- Efeito detox e anti-inflamatório – ajuda a alcalinizar o organismo e a eliminar toxinas, apoiando o fígado e os rins na sua função depurativa.
- Energia e vitalidade celular – por ter uma composição praticamente idêntica ao plasma humano, a água do mar fornece eletrólitos essenciais para hidratação, regeneração celular e aumento da vitalidade.
- Apoio cardiovascular e anti-envelhecimento – os minerais presentes contribuem para reduzir o risco de doenças cardiovasculares e o seu pH alcalino combate os efeitos do stress oxidativo, ajudando a retardar o envelhecimento precoce.
Estudos com água do mar profunda (DSW, Deep Sea Water) mostraram resultados promissores. Em ensaios clínicos, o consumo de 1,5L/dia de DSW reduziu significativamente o colesterol total e o LDL em indivíduos com hipercolesterolemia, além de melhorar marcadores relacionados com stress oxidativo. Outros estudos em modelos animais sugerem benefícios para a pressão arterial, perfil lipídico e saúde cardiovascular.
Os investigadores concluem que a água do mar profunda pode ser desenvolvida como um “alimento medicinal” para ajudar na prevenção de doenças cardiovasculares, como a aterosclerose.
COMO CONSUMIR ÁGUA DO MAR
Existem dois tipos de utilização:
Hipertónica (pura) – usada em aplicações específicas, como desinfeção, cicatrização ou usos tópicos.
Isotónica (diluída) – para consumo diário e equilíbrio interno.
A forma correta de beber água do mar é na sua versão isotónica:
1 parte de água do mar + 3 partes de água mineral de boa qualidade.
Esta diluição aproxima a sua composição da do nosso plasma sanguíneo, tornando-a segura e altamente absorvível.
Importante: tal como qualquer alimento, deve ser consumida com moderação. Um shot diário de manhã, por exemplo, é suficiente.
O mar é mais do que água salgada. É um superalimento líquido, um reservatório de vida e equilíbrio mineral que o nosso corpo reconhece. A história de Quinton, os relatos de sobreviventes, os movimentos sociais ligados ao sal e os estudos modernos apontam todos na mesma direção: a água do mar pode ser integrada como suplemento de saúde, desde que utilizada com conhecimento e moderação.
Afinal, a água do mar contém tudo o que o corpo precisa para viver e regenerar-se. O mar foi o berço da vida e continua a ser fonte inesgotável de saúde. Integrá-lo no dia a dia é honrar essa origem, trazer de volta ao corpo o equilíbrio mineral e reforçar a nossa vitalidade.