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Episódio #30

A eficácia da cosmética natural e o impacto cumulativo dos produtos sintéticos

“Só devemos colocar na pele aquilo que poderíamos comer.”
Esta frase, vinda da sabedoria ayurvédica, abriu a conversa e definiu o tom deste episódio. A pele, sendo o maior órgão do corpo humano, não é só uma barreira — é um canal. E tudo o que nela colocamos, o corpo absorve.
Mas será que temos noção da quantidade desmedida de produtos sintéticos que usamos todos os dias? E do seu efeito cumulativo na nossa saúde?

A Sílvia Martins é um exemplo raro de alguém que alia uma formação científica sólida a uma ligação visceral à terra. Doutorada em fitoquímica e com uma longa carreira em investigação, foi no momento em que decidiu parar — sem certezas, mas com escuta — que a verdadeira transformação começou.

Primeiro no Brasil, depois em Portugal, criou o projeto Sentidos da Terra, onde une o conhecimento académico ao saber ancestral das plantas. Hoje, vive com a família numa quinta no Norte de Portugal, onde transforma e ensina o uso consciente da natureza.

“Cada produto tem uma quantidade mínima de ingredientes tóxicos. Mas se usarmos tudo ao mesmo tempo e durante anos, que impacto terá na nossa saúde?”

Sílvia Martins, Sentidos da Terra

E o que está em causa afinal?

Produtos de uso diário como champôs, cremes, maquilhagem, desodorizantes ou protetores solares contêm, na sua maioria, conservantes, fragrâncias sintéticas, sulfatos e parabenos — ingredientes que, embora regulamentados individualmente, acumulam-se silenciosamente no organismo ao longo dos anos.

A grande questão não está apenas nos rótulos, mas no número de produtos que usamos, todos os dias, ao longo de uma vida. E é aqui que entra o alerta maior: o impacto cumulativo.

Cosmética natural funciona?

Sim — quando feita com ciência, qualidade e consciência. A eficácia de um produto natural depende da matéria-prima, do modo de preparação, mas também da forma como cuidamos do nosso corpo.

“Não vale a pena usar um creme natural com colagénio vegetal se não dormimos bem, não bebemos água e não cuidamos da nossa alimentação.” — relembra a Sílvia.

A cosmética natural é parte de um todo. Não é uma solução mágica, mas um caminho de coerência entre o que colocamos na pele e como vivemos.

E os protetores solares?

A Sílvia Martins traz clareza a uma questão que ainda levanta muitas dúvidas: afinal, qual é a diferença entre os protetores solares convencionais e os naturais? E o que devemos ter em conta para fazer escolhas mais conscientes?

A maioria dos protetores convencionais utiliza filtros químicos. Estes são absorvidos pela pele, onde atuam convertendo a radiação UV em calor. Mas a sua eficácia tem um custo: penetram na corrente sanguínea, são disruptores endócrinos potenciais e, em muitos casos, estão associados a impactos negativos no ecossistema marinho, especialmente nos recifes de coral.

Por outro lado, os filtros físicos ou minerais, como o óxido de zinco não-nano, funcionam de forma muito diferente. Em vez de serem absorvidos, ficam à superfície da pele, criando uma barreira física que reflete os raios UV. São eficazes, seguros e mais gentis tanto com o corpo como com o planeta.

E aqui, a Sílvia relembra um ponto essencial: menos químicos, mais proteção real. Não se trata apenas de proteger a pele de queimaduras — trata-se de olhar para a saúde como um todo, respeitando os nossos ritmos, os nossos sistemas e o mundo à nossa volta.

Este episódio não é um apelo à rigidez ou à perfeição. É um convite à consciência.
Não se trata de “ser 100% natural”, mas de colocar em causa o excesso de químicos que acumulamos no corpo, muitas vezes sem saber.
Trata-se de informação, escolhas conscientes e pequenos passos consistentes.

A beleza é inseparável da saúde.

E a saúde começa nas decisões que tomamos todos os dias — também com aquilo que colocamos na pele.

Assinatura Isabel

Escuta, Vê e Subscreve