Pode haver distintas definições de Mindfulness, mas aquela definição que me parece mais clara é a seguinte: Mindfulness é este estado de atenção plena ao que acontece aqui e agora, tanto dentro de nós como fora de nós.
Entendemos que esse estado de atenção pode ser difícil de ser alcançado ou mantido, já que a vida nos parece uma selva com todas as diferentes situações, as variadas condições e os mais aberrantes estímulos a acontecer.
Na verdade, esta perspectiva de que a vida é uma “selva” surge como consequência de vivermos tão entregues aos nossos egos. Mas não tem problema, porque a prática do Mindfulness é compatível com a “selva dos nossos dias”: basta nos propormos a fazer um “safári” nessa “selva”.
Em estado mindful, estamos como um observador que se mete na selva: observa — sem interferir nem julgar — os modos dos animais, as formas como interagem e também a maneira como respondem à nossa presença (entram em contacto com o observador que somos? Ficam curiosos com o observador ou ficam indiferentes?).
Porém, no caso real das nossas vidas, cada um de nós pode estar enquanto observador, ou melhor, enquanto alma observadora que contempla e regista — também sem julgamento — os dois grandes “reis da selva”: a mente e o corpo.
Essa contemplação permite perceber:
- que pensamentos decorrem nesta mente;
- que sensações sinto em mim e em que parte do meu corpo as sinto mais;
- como é a respiração que este corpo tem.
Enquanto nós, como almas, vamos “fazendo turismo” na selva quotidiana, temos a oportunidade de observar os modos destes dois instrumentos fantásticos que a nossa alma tem: precisamente, a mente e o corpo.

Como nem sempre percebemos que somos a alma que testemunha tudo o que nos envolve e o que nos vai dentro, muitas vezes damos por nós a pensar que somos a mente e o corpo (ou seja, a pensar que somos os instrumentos em vez de sermos os instrumentistas).
6 PRÁTICAS SIMPLES PARA TREINAR O ESTADO MINDFUL
Por isso, é preciso treinar o estado mindful com práticas simples que constituem pequenos “safáris” em nossos dias. Partilho as 6 práticas que, na minha perspectiva, são simples e efectivas:
- Reservar 5 períodos de 5 minutos por dia para fechar os olhos e observar (sem julgamentos) os pensamentos da nossa mente — tal como um turista não afugenta uma alcateia de leões e, simplesmente, os observa. Como são esses pensamentos? São atentos à minha alma ou nem se dão conta dela?
- Desenvolver atenção a uma situação de tensão ou stress. Como reage o meu corpo? Qual a parte que emite mais sensações? Como estão pés, pernas, bacia, abdómen, peito, braços, pescoço, rosto, couro cabeludo?
- Observar a respiração durante 5 minutos, 3 vezes ao dia. Sem forçar, simplesmente testemunhar: como entra o ar, como expande peito e abdómen, como é a pausa, como sai.
- Práticas criativas. Artes como pintura, escultura ou trabalhos manuais colocam a mente disponível para ser observada pela alma.
- Práticas espirituais. Recitar mantras ou orações permite serenar a mente, alinhar com a alma e observar os pensamentos associados.
- Práticas desportivas. Yoga, pilates ou caminhadas tranquilizam a mente e permitem observar atentamente os movimentos do corpo.
Assim, estas são dicas para a prática do Mindfulness.
Na verdade, o Mindfulness não é complexo, apenas exige treino (tal como fazer uma maratona não é complexo porque todos sabemos correr, embora precisemos de treino para a conseguir fazer).
Porém, a meu ver, aquilo que mais favorece a prática diária do Mindfulness é parar por uns curtos momentos, todos os dias, para nos lembrarmos de que somos alma.
E, a partir daí, observar: como está a nossa mente e o nosso corpo?
Além disso, perante estes momentos de consciência, a mente tende a sentir-se observada e reconhecida pela alma e faz algo extraordinário: escutá-la.

José Azantos é médico de família há mais de 15 anos e acredita que a medicina é, antes de tudo, uma forma de amar. Ao longo do seu percurso, tem integrado práticas como o Mindfulness e a Hipnose Clínica, explorando a ligação entre ciência, mente e espiritualidade. Autor do projeto O Médico que fala da Alma, partilha reflexões sobre saúde, consciência e autenticidade, sempre com a convicção de que cada encontro é uma oportunidade de reconexão com a nossa essência.
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