O kuzu é um pó branco obtido a partir da raiz da planta Pueraria lobata, uma trepadeira asiática resistente e vigorosa. Cresce até em terrenos pobres — e é precisamente essa força que se transmite ao amido extraído das suas raízes grossas.

Conhecido como um verdadeiro bálsamo para o estômago, o kuzu tem sido usado há séculos no Oriente e continua hoje a ser um dos remédios naturais mais eficazes para aliviar azia, cólicas, diarreia ou digestões pesadas. Tudo isto a partir de uma raiz transformada em pó translúcido quando cozinhada.

No Japão e na China, o kuzu é utilizado tanto na cozinha como na medicina tradicional. Na macrobiótica, tornou-se um dos remédios caseiros mais valiosos pela sua capacidade de fortalecer o sistema digestivo e devolver equilíbrio ao corpo.

PORQUÊ USAR KUZU?

Na tradição oriental e na macrobiótica de Michio Kushi, o kuzu é um dos remédios caseiros mais usados. É reconhecido pelos seus efeitos no sistema digestivo, ajudando em casos de:

  • Diarreia – regula o trânsito intestinal.
  • Colite e cólicas – acalma a inflamação e o desconforto.
  • Azia e má digestão – protege e suaviza a mucosa gástrica.
  • Síndrome do intestino irritável – estabiliza crises de dor, gases e irregularidade.
  • Fadiga digestiva – reduz peso e fraqueza após as refeições.

Usei-o pela primeira vez numa aula de culinária macrobiótica: tinha acordado muito nauseada e falei com a professora. Ela disse-me: ‘Experimenta isto, e no final vais conseguir degustar todas as receitas da aula.’ Foi exatamente o que aconteceu.

Para mim, o kuzu funciona como um calmante natural — e os meus pacientes descrevem o mesmo: menos dores, menos acidez, mais bem-estar.

COMO ATUA NO TUBO DIGESTIVO

Quando cozinhado em lume brando, o kuzu transforma-se num gel translúcido que reveste as paredes do estômago e do intestino, protegendo-as e favorecendo a cicatrização.

É isso que sinto cada vez que o preparo: como se uma camada suave acalmasse o meu estômago por dentro. E os meus clientes, alguns com síndrome do intestino irritável, confirmam a mesma sensação de conforto quase imediato.

Na visão macrobiótica, o kuzu é considerado um fortalecedor do centro — o sistema digestivo, base de toda a energia vital.

COMO PREPARAR O KUZU COMO BÁLSAMO PARA O SISTEMA DIGESTIVO

O kuzu deve ser sempre diluído em água fria antes de cozinhar, para evitar grumos. Ao aquecer, engrossa e torna-se translúcido.

Algumas preparações tradicionais incluem:

  • Kuzuyu – simples, só com água, indicado para digestões frágeis.
  • Kuzu-shoyu – com molho de soja, eficaz em diarreias e fraqueza intestinal.
  • Kuzu-ume-sho – com umeboshi, gengibre e shoyu, revitalizante em gripes, ressacas ou esgotamento.

TESTEMUNHOS REAIS

Síndrome do Intestino Irritável
Uma paciente recorria ao kuzu como “SOS”. Sempre que sentia cólicas, preparava uma chávena: “Em menos de meia hora já estava mais calma e funcional. Deixei de viver condicionada pelas crises.”

Ansiedade e digestão difícil
Um paciente sofria de azia sempre que tinha reuniões importantes. Antes de uma apresentação crucial, tomou kuzu:
“Foi como se tivesse um escudo no estômago — consegui concentrar-me no que importava sem dores nem acidez.”

RECEITAS PRÁTICAS COM KUZU

1. Kuzu simples (ou com umas gotas de shoyu)
Para digestões frágeis, azia, constipações ou gripes.

Ingredientes

  • 1 colher de chá de kuzu em pó
  • 1 chávena de água fria
  • 1/2 colher de chá de shoyu (opcional)

Preparação

  1. Dissolver o kuzu em 1–2 colheres de sopa de água fria.
  2. Juntar a chávena de água fria.
  3. Levar ao lume brando, mexendo até ficar gel translúcido.
  4. Acrescentar o shoyu e deixar cozinhar 1–2 minutos.
  5. Beber morno, de preferência em jejum.

2. Sumo de maçã com kuzu

Ajuda a baixar febre, estimula o apetite e acalma dores de cabeça.

Ingredientes

  • 1 colher de chá de kuzu
  • 1/2 chávena de sumo de maçã

Preparação

  1. Dissolver o kuzu no sumo de maçã frio.
  2. Levar a ferver, mexendo sempre, até ficar espesso e translúcido.
  3. Beber morno.

3. Umeshokuzu

Fortalece o sistema digestivo, apoia a digestão e restaura energia em casos de fadiga, gripes ou ressacas.

Ingredientes

  • 1 chávena de água
  • 1 colher de sobremesa de kuzu
  • 1 colher de sobremesa de ameixa umeboshi
  • 2–3 gotas de shoyu

Preparação

  1. Dissolver o kuzu em água fria.
  2. Adicionar a ameixa umeboshi.
  3. Levar a ferver e reduzir o lume.
  4. Mexer até obter gel translúcido.
  5. Deitar numa chávena e juntar o shoyu.
  6. Beber em jejum ou 1h antes de dormir.

QUANDO E COMO TOMAR KUZU

  • Crises digestivas: 1–2 vezes por dia até aliviar.
  • Síndrome do intestino irritável: apenas em fases de desconforto.
  • Gripes e fadiga: 1 chávena por dia durante 2–3 dias.
  • Melhor horário: em jejum ou entre refeições, para atuar diretamente nas mucosas.

Importante: nem todo o “kuzu” vendido é 100% raiz. Alguns são misturas com féculas de batata ou milho. Procura kuzu puro, guarda-o em frasco bem fechado, num local fresco e seco.

O kuzu é muito mais do que um ingrediente culinário. É um alimento-remédio que apoia o tubo digestivo e, com ele, todo o organismo.

Na minha experiência pessoal e profissional, tem sido um aliado discreto mas poderoso: ajuda a acalmar, a regenerar e a fortalecer.
Talvez seja por isso que, na sabedoria oriental e na macrobiótica, se diga que a cozinha é o primeiro hospital.

Carina Correia


Enfermeira de formação e cozinheira de coração, a Carina Correia encontrou na macrobiótica um ponto de viragem para a sua vida. Apaixonada pelo poder transformador da alimentação, ajuda pessoas a adotarem hábitos conscientes que unem saúde física, emocional e espiritual.

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